Resende aos 220: reabertura do Cine Vitória, a volta do teatro e morte de Claudionor

Claudionor era a enciclopédia histórica viva de Resende, além de presidir o Grêmio Literário (Foto: Arquivo)

Há 20 anos, o município de Resende comemorava os seus 200 anos de elevação à vila. Daquela época, ainda em 2001, até este ano, muita coisa mudou. Quase 10 anos mais tarde, entre o mês de setembro de 2010, quando Resende estava prestes a completar 210 anos, e março de 2011, quando o jornal BEIRA-RIO celebrou seus 14 anos de existência, o veículo lançou junto com sua versão impressa a coleção BEIRA-RIO Resende Cidade Histórica, uma série de sete publicações que contavam a história do município, suas transformações econômicas, culturais e a contribuição de pessoas que fazem ou fizeram diferença no desenvolvimento da cidade.

Os fascículos do jornal, realizados em parceria com anunciantes e colaboradores, já apontavam muitas mudanças vivenciadas pelos resendenses ao longo daqueles 210 anos, especialmente nas áreas econômica, urbana e ambiental, sendo que estas se juntam a tantas outras ocorridas nos últimos 10 anos.

A cultura resendense passou por transformações importantes, sendo algumas delas marcantes. No começo do século XXI, o município teve alguns investimentos na área, com destaque para o Festival de Teatro, a reabertura do Cine Vitória e a uma importante perda na área de resgate histórico e cultural.

Em março de 2019, Resende foi surpreendida com a morte do historiador, pesquisador e diretor do Arquivo Histórico Municipal, Claudionor Rosa. O paulista de Guaianases viveu em Corinto/MG até os 23 anos e veio para Resende trabalhar em Furnas (na Represa do Funil), mas se encantou com as belezas do rio Paraíba do Sul e começou a estudar a história do lugar que escolheu pra viver.

Homenageado na capa do último fascículo do jornal BEIRA-RIO, em 2011, Claudionor foi o pioneiro na criação do Museu da Imagem e do Som (MIS) de Resende, além de ser também o fundador da Associação do Samba e do Rancho Chuveiro de Prata, conhecida por desfilar ao som de marchinhas no carnaval. Ele também foi o presidente do Grêmio Literário de Resende, que realizava os Jogos Florais, uma espécie de concurso anual com algum tema.

Claudionor teve uma colunista no extinto jornal “A Lira”, era diretor do Arquivo Histórico da Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda (FCCMM), apresentador do programa de rádio “Gente que Brilha”, e em 2016 foi o patrono da Feira Internacional do Livro de Resende (Flir).

No entanto, um de seus legados foi o resgate da história do poeta e compositor do “Hino a Resende”, Luiz Pistarini, desde a luta para que sua obra fosse cantada em escolas e eventos pelo município afora, até a reforma do túmulo, no qual está enterrado, no Cemitério Municipal. O poeta também é patrono do Grêmio Literário de Resende.

Nos primeiros 22 anos de existência do jornal BEIRA-RIO, o veículo teve o privilégio de contar com a presença constante de Claudionor em diversas matérias, contribuindo assim para o resgate da história resendense através das páginas do veículo, tanto no impresso quanto no digital. Desde o ano de 2005, com a entrada de Silvio de Carvalho na prefeitura, ele passou a trabalhar em definitivo no Arquivo Histórico e no MIS até os últimos anos de sua vida.

Cine Vitória ficou aberto apenas oito anos após sua reabertura (Foto: Arquivo)

UM BREVE PERÍODO DE REABERTURA E FUNCIONAMENTO
Dentre as tantas histórias contadas pelo pesquisador é sobre o Cine Vitória, criado em  1947 e que abrigou grandes espetáculos teatrais, projeções cinematográficas e outros eventos, dentre eles a gravação do “Parada da Alegria”, do radialista Aloízio Braz, o Simplício, morto em 2010. No fim dos anos de 1990, o local chegou a ficar fechado e por pouco não foi vendido para uma igreja evangélica, no ano de 1995, graças a união do segmento cultural, autoridades e população, através da campanha SOS Cine Vitória.

O local foi reaberto em 2006, já no governo de Silvio de Carvalho, que inicialmente alugou o espaço e voltou a realizar o Festival de Teatro de Resende, além de outros eventos promovidos pela FCCMM. No ano de 2010, o município comprou o cine-teatro em definitivo dos antigos proprietários em cerimônia com presença de público, com o slogan “O Cine Vitória é Nosso!”, colocando fim a uma luta cultural de 15 anos.

O próximo passo, enfim, seria reformar o espaço. Isso chegou a acontecer depois que o cine foi interditado em 2011 pela Defesa Civil após uma forte chuva arrancar parte das telhas, sendo que as edições de 2012 e 2014 do Festival de Teatro de Resende aconteceram em meio às reformas. A repercussão negativa com o caso nacional envolvendo o incêndio em uma boate em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, fez com que o Corpo de Bombeiros local vetasse eventos em seu interior, incluindo a edição de 2013 do Festival de Teatro de Resende, que acabou acontecendo no Auditório da Aman e no Teatro do Colégio Salesiano.

Em 2014, o Cine Vitória foi novamente fechado, e desde então segue nessa mesma situação, sem uma previsão pra ser reformado por completo e voltar a sediar espetáculos.

Clara Santhana esteve no Festival no ano de 2014 (Foto: Arquivo)

FESTIVAL DE TEATRO
Com o retorno de um dos nomes da cultura resendenses à presidência da FCCMM, o Festival de Teatro também voltou aos palcos do município. O ator, diretor e promotor cultural José Leon Zylberstajn, um dos pioneiros do teatro em Resende, voltou a promover uma edição do evento, que movimentava o cenário cultural do município entre os anos de 1980 e 1990.

Nomeado como o primeiro presidente da Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda (FCCMM), de 1989 a 1992, reassumiu o cargo no ano de 2006. Após deixar o cargo de presidente da FCCMM, Zé Leon tornou-se curador do Festival de Teatro das Agulhas Negras (Festan), realizado em Resende (Engenheiro Passos), Itatiaia, Quatis e Porto Real. Ainda assim, os festivais seguiram acontecendo nos anos seguintes.

Nos anos em que foi realizado, o festival contou com nomes da dramaturgia, entre eles a premiada atriz Clarice Niskier, que levou aos palcos no ano de retorno do evento, em 2006, o monólogo “A Alma Imoral”, baseado no livro de Nilton Bonder; de Deto Montenegro, irmão do músico Oswaldo Montenegro, que trouxe em 2012 o espetáculo “Good Morning São Paulo Mixturéba”, da Oficina de Menestréis, e teve em seu elenco a multiartista Sara Bentes, de Volta Redonda. E também da atriz Clara Santhana, com o espetáculo musical “Deixa Clarear”, uma homenagem a Clara Nunes.

Nos últimos anos, a FCCMM passou a apostar nas apresentações nas ruas, escolas e praças, e adotou a realização dos espetáculos do festival a céu aberto, sendo que em sua última edição, em 2019, todo o evento aconteceu no Parque das Águas.

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