
Há 20 anos, o município de Resende comemorava os seus 200 anos de elevação à vila. Daquela época, ainda em 2001, até este ano, muita coisa mudou. Quase 10 anos mais tarde, entre o mês de setembro de 2010, quando Resende estava prestes a completar 210 anos, e março de 2011, quando o jornal BEIRA-RIO celebrou seus 14 anos de existência, o veículo lançou junto com sua versão impressa a coleção BEIRA-RIO Resende Cidade Histórica, uma série de sete publicações que contavam a história do município, suas transformações econômicas, culturais e a contribuição de pessoas que fazem ou fizeram diferença no desenvolvimento da cidade.
Os fascículos do jornal, realizados em parceria com anunciantes e colaboradores, já apontavam muitas mudanças vivenciadas pelos resendenses ao longo daqueles 210 anos, especialmente nas áreas econômica, urbana e ambiental, sendo que estas se juntam a tantas outras ocorridas nos últimos 10 anos.
Mesmo sendo um município abençoado por uma natureza exuberante, com uma área de brejo preservada por lei, e que tem o Parque Nacional do Itatiaia localizado próximo ao distrito de Engenheiro Passos, em Resende, as questões ambientais chamaram a atenção de forma negativa, especialmente no governo de José Rechuan Júnior. Algumas delas tiveram um final feliz, graças a luta de grupos da sociedade que fizeram a justiça prevalecer.
Foi quando a editora Ana Lúcia citou em sua coluna de dezembro de 2012 que no ano seguinte os assuntos ligados ao Meio Ambiente estariam em alta na cidade devido a má reputação do ex-presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente de Resende (Amar), Paulo Fontanezzi. Nos últimos 20 anos, quatro assuntos ambientais chamaram negativamente a atenção da população, sendo que três aconteceram na gestão do ex-presidente da Amar.

O primeiro deles se refere ao chorume despejado dentro de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) desativada, mantida pela Águas das Agulhas Negras, no bairro Morada do Contorno, mas que o material estava sendo despejado na verdade, no Paraíba do Sul. A denúncia do caso foi feita pelo Instituto Agulhas Negras (Inan) em março do ano de 2012, contra a concessionária e a Prefeitura de Volta Redonda, com quem teria assinado um contrato para tratar 60 mil litros de chorume industrial vindos da Cidade do Aço.
A matéria de 2012 do jornal ainda destaca que o contrato celebrado entre as duas teria o valor de R$ 100 mil mensais e estaria em vigor desde dezembro de 2011. Na ocasião, em resposta ao BEIRA-RIO, a Agência do Saneamento de Resende (Sanear) informou que notificaria a concessionária de água e esgoto resendense e pediria explicações sobre o caso. Meses mais tarde, com mais uma reportagem, esta publicada pelo jornal O Globo, o poder público municipal ainda não havia se posicionado sobre a situação.
Mesmo com a posterior punição da concessionária e do Sanear, com multas de R$ 250 mil pelo despejo do chorume e R$ 4.284 pela falta de esclarecimentos sobre o caso, respectivamente, por parte da Prefeitura de Resende e da Agência do Meio Ambiente de Resende (Amar), não houve mais nenhuma informação sobre as punições, os vereadores acabaram sendo omissos em relação ao caso, comentando pouco sobre o assunto e vizinhos da ETE entrevistados reclamaram de mau cheiro e coloração diferenciada na água do canal próximo ao local.
Fora isso, o processo nº 0002573-51.2012.8.19.0045, aberto na época, teria uma audiência realizada entre o órgão denunciante e os denunciados, em setembro de 2014, mas que foi adiada para o mês seguinte. Algum tempo mais tarde, o processo acabou arquivado no ano de 2017.

FINAL FELIZ PARA A TURFEIRA
No mesmo ano do escândalo do chorume, outro crime ambiental chamou ainda mais a atenção. O anúncio de uma nova fábrica em Resende foi recebida com alegria no segundo semestre em 2011. Mas as obras das instalações da montadora japonesa Nissan começaram de forma tumultuada graças a um alerta do biológo Luciano Lima, que dedicou durante anos a estudar a fauna e a flora da região da Lagoa da Turfeira (ou Banhado da Kodak). Ele destacou a possibilidade, na ocasião, de mais uma tragédia ambiental no município: a lagoa está ameaçada de extinção.
Segundo o biólogo, o mesmo teria recebido em 19 de abril de 2012, um alerta sobre a movimentação intensa de caminhões e tratores nas redondezas da lagoa, no Pólo Industrial, e resolveu conferir tudo de perto. Após visitar o local, dois dias mais tarde, se deparou com uma enorme área terraplanada próxima ao espelho d’água da Lagoa e entrou em contato imediatamente com o então vereador Gláucio Julianelli para mobilizar o maior número de pessoas possível com o intuito de impedir a extinção da Turfeira.
A equipe do jornal entrou em contato com a Prefeitura de Resende na ocasião, que informou que “a redução do espelho d’água já tinha sido constatada no dia 13 de abril daquele ano, durante uma vistoria realizada por agentes da Agência do Meio Ambiente de Resende (Amar). E que no dia 16, a Amar informou o fato à Superintendência Regional do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), por meio do ofício número 178/2012, mas que não havia obtido uma resposta até o dia 24 (daquele mês e ano)”.
No dia seguinte, após uma vistoria na Lagoa por parte do Inea, as obras foram paralisadas e o caso ganhou maior repercussão com a retomada de uma ação no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) aberta em 2007, na qual a lagoa já estaria ameaçada depois de um procedimento realizado na região por outra empresa, a TPK Terraplanagem, multada na ocasião pelo órgão estadual responsável pelos rios e lagoas (a Serla) em R$ 42 mil. Ainda assim, a repercussão do caso durante as obras da Nissan manchou a imagem do presidente da Amar.
No final de maio daquele ano, foi realizado o movimento “SOS Lagoa da Turfeira, Nissan Sim! Turfeira também!”, que contou com o apoio de moradores da cidade que defendem questões ambientais, entre elas Antônio Albino Filho, o Velho do Lago, conhecido pela preservação do lago do bairro Mirante das Agulhas, e a luta frente às autoridades para que o recurso natural daquele bairro não seja extinto. Outro nome é o de Eliel de Assis Queiroz, presidente da RPPN Agulhas Negras, que também respondia pelo Inan na ocasião.
O movimento foi importante para a mobilização da população de Resende para a preservação da lagoa, e que no final conseguiu a proposição de um Termo de Ajuste e Conduta (TAC) entre os envolvidos. O TAC foi assinado em 31 de março de 2014, para preservar um remanescente natural de áreas úmidas, sendo anunciada em 2016 pelo estado a criação do Refúgio da Vida Silvestre (Revis) Lagoa da Turfeira.
OUTROS PROBLEMAS AMBIENTAIS
A gestão de Rechuan também saiu com sua imagem arranhada em outro caso ambiental. Após ter sua casa alagada pelas enchentes registradas do rio Sesmaria no ano de 2010 no bairro Jardim Brasília, onde mora, a gestão do então prefeito optou por uma solução para o problema, respaldado em um caráter emergencial, com licença do Inea e com fiscalização do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União (TCU).
No entanto, no ano de 2015, o prefeito acabou condenado a pagar R$ 2,5 milhões pela justiça federal por ter aterrado parte do rio devido a uma ação popular movida em 2011 pelos advogados Marcelo Dias e Raphael Costa Tavares em nome da Federação das Associações de Moradores de Resende (Famar). Segundo eles, no ano anterior, moradores das proximidades do rio haviam sofrido com uma enchente no período chuvoso e a prefeitura iniciou uma obra de contenção do rio, mas ao ver caminhões de terra sendo despejados às margens do aquífero, decidiram entrar com a ação.
A condenação, decidida no final de novembro, só teve a decisão publicada no dia 4 de dezembro. Eles também foram condenado a elaborar e executar um projeto de adequação ambiental do rio, sob pena de multa diária de R$ 2 mil.

Antes de Rechuan assumir, no ano de 2008, outro desastre ambiental chamou a atenção da população resendense. Em agosto do ano passado, o site de uma organização ambiental brasileira destacou que a empresa Servatis S.A., que decretou falência em 2018 e tinha uma das suas fábricas em Resende, seguia armazenando 4 milhões de litros de produtos químicos, a maior parte deles inflamáveis, tudo isso a 1,3 km das margens do rio Paraíba do Sul.
A empresa foi a a mesma que se envolveu em novembro de 2008 em um episódio de acidente ambiental no Paraíba do Sul. A indústria, que trabalhava na produção de herbicidas, inseticidas, fungicidas, fertilizantes e princípios ativos teve problemas com o vazamento de endosulfan e foi responsabilizada pela maior tragédia ambiental contra o rio. A substância matou toneladas de peixes e percorreu 400 quilômetros até a foz do rio, em São João da Barra, no Norte do estado.
Um ano mais tarde, em dezembro de 2009, o endosulfan foi proibido em todo o estado do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, o jornal também citou que os Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal conseguiram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que a empresa teria que fazer adequações ambientais. Caso não cumprisse das obrigações assumidas nas cláusulas do TAC, a Servatis seria multada em R$ 1 milhão por mês.
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