Atualizado dia 21, às 12h50
A partir do próximo final de semana, Resende poderá deixar de conviver com os paraquedas colorindo os céus do município pela primeira vez em mais de 20 anos. O dia 16 de junho de 2018 (um sábado) passou a ser o dia do “fechamento do Aeroclube de Resende, do SkyDive Resende e das atividades ali realizadas tanto pela escola de aviação quanto pela escola de paraquedismo”, depois que a Prefeitura de Resende ganhou a última batalha na Justiça dentro do município e determinou que ambas as entidades desocupem a área.
Em seu post nas redes sociais, publicado no mesmo dia, o ex-advogado dos representantes do Aeroclube e atualmente vereador, Caio Sampaio, lamenta a perda das duas instituições instaladas no Campo de Aviação, no bairro Itapuca, em Resende. “É uma pena a cidade perder essas instituições por conta de inabilidade política. Com o fechamento do aeroclube e das escolas de paraquedismo, Resende perde 77 empregos diretos (fora o trabalho de sete empresas), perde renda, perde turismo, perde diversão, perde uma de suas identidades e encerra uma história de quase 80 anos (o Aeroclube foi fundado no ano de 1941, e é uma entidade ligada diretamente à Agência Nacional da Aviação Civil). É vergonhoso isso. Resende andando pra trás em todos os sentidos”.
Segundo ele, embora tenha havido uma tentativa de negociação com o município, “não houve nenhum acordo no sentido de deixar o Aeroclube e o SkyDive coexistirem em Resende com a empresa vencedora da licitação”. Para ele, essa possibilidade era viável, já que “a área licitada é de cerca de oito mil metros quadrados, e o total de área da União que está com o município é de mais de 1,2 milhão de metros quadrados”.
— Isso foi pedido, mas infelizmente não houve um aval do prefeito. Segunda-feira é o dia de entrega e reintegração da posse oficial do licitante – acrescentou Sampaio.
Todo o final de semana foi de muito trabalho para os funcionários do SkyDive, que foram obrigados a reduzir pela metade suas atividades para retirar todos os pertences da entidade. “Está sendo um desespero pra gente, pois para nós o SkyDive não é só motivo de diversão, mas também de trabalho. São 77 famílias que estão sendo obrigadas a sair daqui, ou de mudança para São Paulo, ou para o exterior”, lamenta o presidente do SkyDive, João Carlos Matos.
Segundo ele, a Prefeitura de Resende teria prometido arrumar um novo espaço para o SkyDive atuar, mas que teria voltado atrás. “Agora falaram que não podem mais ceder área pra gente, pois resolveram atender ao pedido do empresário. E na verdade eles poderiam sim fazer isso legalmente. É o empresário que prefere atuar sozinho na área”, acrescentou Matos, dizendo que se nada mudar, até o próximo final de semana as atividades de paraquedismo estarão encerradas em Resende.
AEROCLUBE TAMBÉM REDUZIU ATIVIDADES
O jornal BEIRA-RIO também entrou em contato com o presidente do Aeroclube, João Gonçalves, que confirmou as informações postadas por Caio Sampaio nas redes sociais. “Não houve acordo, eles estão irredutíveis e a gente está operando dentro dos limites mínimos porque na realidade não vai parar o Aeroclube, mas a maior parte da infraestrutura que a gente levou 70 anos para construir até a prefeitura está tomando. Nós vamos tentar manter a operação no mínimo do jeito que está, não sei se eu vamos conseguir”.
Segundo ele, com a saída do SkyDive de Resende, o comentário entre as entidades é que a empresa vencedora da licitação pretende tirar a escola de paraquedismo já existente para colocar outra administração, que tem sede em Boituva, no estado de São Paulo.
Toda a ação de retirada dos pertences foi definida em assembleia geral realizada também no sábado. “Os sócios do Aeroclube haviam se reunido para analisar a situação jurídica e também o plano de ação emergencial que a gente tinha pra tirar as coisas, como a gente iria fazer isso”.
Nesta segunda-feira, dia 18, segundo informações de funcionários, o Aeroclube segue fechado e retirando os pertences de dentro da área, mas ainda assim o presidente garante que continuará por enquanto com os dois hangares e toda a estrutura montada para os associados.
“A única coisa que ficou de fora da licitação foi a nossa sede histórica de 77 anos. Com a nossa sede, onde fica a secretaria, e os dois aviões do governo que estão com a gente, e o espaço livre das pistas, ainda conseguimos operar e manter nossos compromissos com os alunos. Mas é um prejuízo total, pois eles vêm sendo preparados e não podem perder a sequência do voo, senão perdem a mão, como nós chamamos aqui. Isso cria até um problema de segurança operacional para nós ao interromper cursos e colocar alunos preocupados com algo que não compete a eles”, explica.
Gonçalves ainda acrescenta que as duas entidades de aviação ainda podem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir o despejo, mas que isso não impede a justiça de expedir um mandado de reintegração e posse, inclusive coercitiva. Todos os aviões e outros equipamentos dos hangares da entidade estão sendo transferido para um depósito guarda-volumes vizinho ao Hotel de Trânsito da Aman, no Km 306 da Rodovia Presidente Dutra.
RELEMBRE O CASO
O encerramento das atividades do Aeroclube e do SkyDive de Resende é um triste desfecho de uma novela que se estendia há cinco anos, na verdade uma briga entre os representantes das duas entidades e a Prefeitura de Resende, que ainda na administração do prefeito José Rechuan Júnior tentou fechar o Aeroclube alegando que o clube não tinha o alvará de funcionamento.
Desde então, os representantes travaram uma luta contra o município, que em 2014 solicitava documentos que a própria entidade alega não ter conseguir tirar na prefeitura. Os mesmos chegaram na ocasião a especular que “parecia haver uma questão pessoal”. Já a prefeitura disse, em 2015, que “a ação de reintegração de posse solicitada neste ano contra o Aeroclube e o Skydive de Resende são exigências da Secretaria de Aviação Civil”.
Ainda em 2013, se tornou pública a concessão de parte da área cedida à Prefeitura de Resende, através de um convênio firmado em 2012. O município confirmou os rumores em 2015, quando publicou oficialmente o edital de licitação, no qual saiu vencedora a empresa Posto de Abastecimento Luz do Oriente Ltda, do empresário Paulo Harthman Junior.
Em junho de 2016, os representantes das duas entidades entraram na justiça contra a licitação, alegando que a mesma estaria fraudada. Durante as batalhas judiciais, a prefeitura ainda tentou despejar o Aeroclube e o SkyDive algumas vezes, entre os anos de 2016 e 2018, até a decisão final deste fim de semana.
O BEIRA-RIO está tentando contato com o empresário Harthman, mas ainda sem sucesso.
Fotos: Reprodução/Redes Sociais
As empresas estavam ilegalmente explorando o aeroporto que é público, para que pudessem explorar necessitavam de contrato de concessão pública com pagamento pela utilização do espaço.
Ainda bem, já era hora. Aposto que os moradores próximos do aeroclube adoraram, assim como eu. Chega de avião e paraquedista passando por cima do meu quintal. Espero que com esse novo dono não fique pior do que já era.
Sem contar que o projeto da área será a construção de estruturas escolares, que beneficiará mais a população Resendense que o Aeroclube, o qual frequentavam mais pessoas de fora do município. Daria até para levar a UERJ para lá ou tentar trazer uma federal, com certeza geraria mais emprego para os cidadãos do entorno. Esses paraquedista são de fora, um ou outro é daqui. Eles acham que são donos do céu de Resende, quase atingiram minha cabeça com uma gopro que alguém deixou cair do avião ou durante o salto, e ficou por isso mesmo. Se caísse na minha cabeça e tivesse me matado, aposto que não iria dar nada para eles e a minha família que estaria chorando até hoje. Achei ótima essa decisão do Prefeito em buscar na justiça o estavam querendo tomar da gente. A cada dia ele ganha mais conceito comigo. Abaixo o Aeroclube e acima estrutura escolar.