Família de Jaqueline viu problemas em equipamentos e procedimentos médicos

exames1Na quinta-feira, dia 5, o BEIRA-RIO fez uma entrevista com a família da agente social do Cras Itapuca, Jaqueline Nunes Nogueira, de 27 anos. Ela morreu horas após dar à luz na Associação de Proteção à Infância e Maternidade de Resende (Apmir) e a família acredita que ela tenha sido vítima de negligência. O hospital diz que ela foi vítima de gripe H1N1 e mandou sangue da jovem para ser examinado quanto à ocorrência do vírus. Hoje, na segunda parte da entrevista, a família detalha alguns dos problemas percebidos durante o atendimento.

Jaqueline e o marido, Jaques Alves Viana, de 41 anos, trabalhavam na Prefeitura de Resende há quatro anos e estavam juntos há quase oito. Ele já é pai de duas meninas de 12 anos de outro casamento e sonhava com um menino, principalmente pelo bom relacionamento que tinha com um dos sobrinhos da esposa, de cinco anos. Por isso, a gravidez foi planejada e todo o pré-natal feito pela rede particular.

— A gente já estava planejando, então quando ela descobriu que estava grávida passou a usar repelente, deixávamos o quintal sempre limpinho para não ter risco de Zika. Antes de entrar em casa ela espirrava o remédio de mosquito. Fizemos o pré-natal particular com o doutor Marcos, tudo normal, tudo certinho. Ela não tinha nenhuma doença crônica e não estava gripada, ela estava com rinite. Era uma mulher jovem, saudável, que queria viver. A vontade dela era realizar o meu sonho – explicou o marido.

O parto seria uma cesariana, também pela rede particular, e seria marcado no dia 2. No entanto, como a jovem se sentiu mal e chegou à maternidade já em trabalho de parto, foi atendida com urgência. O parto foi normal, apesar das queixas de Jaqueline de que estava com dificuldades de respirar. Por isso, após o parto, ela foi colocada em um balão de oxigênio. Mas, segundo a mãe de Jaqueline, Maria Helena Nunes Nogueira, de 53 anos, nenhum exame foi feito na hora e nenhum medicamento foi fornecido à parturiente durante a manhã em que passaram no hospital.

— Antes do parto ela estava normal, pressão estava boa, só tinha a falta de ar. Depois é que ela foi piorando. Se viu que era suspeita de gripe e o neném nasceu, tinha que levar para fazer raio-x. Colocaram-na no respirador, mas ele estava com mau contato, toda hora vinha alguém apertar a tomada. A médica que a atendeu falou que tinha que ter outro aparelho. Mais tarde vieram com aparelho de pressão. Quando fui ao banheiro e voltei é que minha filha falou que a enfermeira Patrícia tinha dado uma injeção verde. Essa Patrícia estava atendendo ela desde que ela chegou, mas depois da injeção sumiu. Aí ela falou “mãe, olha como estou suando”. Eu comecei a abanar, ela falou que tinha mal estar. Chamei outra enfermeira e perguntei da injeção, ela falou que era para dor e eu falei que ela estava sem dor. A médica veio ver e quando viu apavorou e falou que ia levar para a emergência – relatou a mãe.

Neste período, que foi das 8h35 às 13h, segundo Jaques, toda pessoa que passava no corredor era interpelada por ele, que falava que a mulher estava passando mal e com dificuldades de respirar e ouvia que “isso é normal”. As visitas também estavam proibidas no quarto, como disse Jaqueline à mãe antes de morrer após ter ouvido conversas de enfermeiras.

— Falei com o médico grisalho que estava passando também e ele falou “o médico aqui é quem?”. Aí eu falei “então olha a minha respiração, olha a sua e olha a dela”. Comecei a entrar em pânico. Pediram para eu ficar lá fora. Não passou cinco minutos da injeção minha sogra saiu chorando, passou um monte de enfermeiro e médico para levar ela para o centro cirúrgico, empurrei, mas não me deixaram entrar. Fui ao quarto dela e já estava sem ela, com a cama limpa, sem lençol e sem nada. Perguntei se iam operá-la e falaram que iam fazer massagem cardíaca. Chamaram o Samu e demorou uns 40 minutos para chegar – revelou o viúvo.

Maria Helena já sabia o que estava acontecendo com a filha.

— Perguntei se ela ia ficar internada na emergência e a enfermeira falou que não sabia. A médica arrumou minha filha, tirou o balão e perguntou se ela aguentava ficar só com o fiozinho no nariz e ela não respondeu mais. Antes disso ela tinha virado o rosto e falado que não estava vendo ninguém. Falei “minha filha morreu”. Eu senti. Mandaram eu sair e levaram ela para o centro cirúrgico e ambulância nada. Não demorou e o médico saiu com o papel – relatou a mãe de Jaqueline, que era a caçula de três filhas.

Ela também disse que a maneira como a filha foi tratada surpreendeu a médica, já que quando ela chegou, por volta das 14h, a filha sequer havia tomado banho.

— Nem camisola colocaram nela, ela ficou com a mesma roupa que chegou. A médica falou que já ia dar 14h e não tinham dado banho, ela estava toda suada e saindo sangue. Minha filha escutou eles comentando que era porque ela estava em quarto isolado. Quando ela foi pro centro cirúrgico estava suando e a médica cortou a camiseta dela e jogou no lixo. Também acho que foi negligência, porque antes de tirar o neném ela estava normal, o parto durou uns cinco minutos, a médica ficou boba porque nunca tinha feito um parto em que a mãe não sentiu nem dor – acrescentou.

Uma das irmãs mais velhas de Jaqueline, Renata Nunes Nogueira da Silva, de 36 anos, encontrou um conhecido que trabalha para o Samu e ele relatou que havia ressuscitado uma moça, sem saber que se tratava da irmã de Renata.

— Ele falou que foi Deus que havia mandado ele ali no hospital, porque ele estava com o braço doendo de tanta massagem que tinha feito e que a moça voltou e que tinham entubado ela. Ele não sabia que era a minha irmã. Mas ele falou que Deus tinha mandado eles porque eles estavam passando, não eram eles que tinham sido chamados – contou Renata da Silva.

Para o marido, o mais surpreendente aconteceu durante o velório da esposa, em uma igreja evangélica. Uma colega de igreja que trabalha no Hospital de Emergência relatou que alguém teria ensinado ao médico da Apmir como entubar a paciente. “No velório soube que o médico ligou para o Hospital de Emergência perguntando por um médico e uma enfermeira atendeu. Ele perguntou como fazia para entubar um paciente e ela explicou para o médico, por telefone”, revelou Jaques.

 

 

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