Viúvo acredita em negligência no pós-parto de Jaqueline Nogueira

certidao“Arrumei a casa toda direitinho do jeitinho que ela queria, pintei, reformei a casa, tudo que ela me pediu eu fiz. Ela queria um azul que deu trabalho, mas achamos o azul que ela queria, foi tudo do jeitinho que ela pediu”, lembrou o motorista da Prefeitura de Resende, Jaques Alves Viana, de 41 anos. A esposa dele, a agente social do Cras Itapuca Jaqueline Nunes Nogueira, de 27 anos, morreu horas após dar a luz ao primeiro filho do casal, João Lucas, na segunda-feira, dia 2. Para o motorista, que havia arrumado a casa para receber o bebê, houve negligência no atendimento à esposa por parte da Associação de Proteção à Infância e Maternidade de Resende (Apmir), onde o parto foi realizado.

Segundo ele, Jaqueline teve o filho às 8h20 e, mesmo reclamando de falta de ar, ficou a manhã inteira sem medicação. Familiares também suspeitam de uma injeção aplicada na jovem por volta das 13h, pois em seguida ela começou a suar, disse que a visão estava sumindo e, logo depois, morreu. Já o hospital alegou que a jovem havia contraído o vírus da gripe H1N1. O BEIRA-RIO fez uma entrevista exclusiva com Jaques, os pais de Jaqueline, Maria Helena Nunes Nogueira, de 53 anos, e Arlindo Rodrigues Nogueira, de 66 anos, e a irmã Renata Nunes Nogueira da Silva, de 36, em que eles relatam tudo o que aconteceu durante a gravidez, parto e morte da agente social que fazem com que eles apontem negligência no atendimento.

A gravidez estava na fase final e a mãe de Jaqueline, Maria Helena Nunes Nogueira, de 53 anos, acompanhava a filha nas consultas. Ela e o genro explicaram que, apesar de Jaqueline estar em uma crise de rinite desde a sexta-feira, dia 29, o que a fez procurar atendimento médico foram dores da barriga e não a rinite. Mesmo assim, ela foi encaminhada para tomar o Tamiflu, medicamento usado no tratamento do H1N1.

— Ela estava ansiosa e torcendo para chegar logo os nove meses por causa da zika. Ela tinha ido ao médico na terça-feira (dia 26) e ainda não estava com rinite, aí ele falou que o neném ia nascer até o dia 10, que na semana seguinte iríamos escolher o dia da cesárea. Ele tinha cobrado R$ 5 mil e ela queria fazer particular, porque tinha medo das coisas que as pessoas falam da Apmir. Ela perguntou da vacina da gripe para o médico, porque ela não queria tomar grávida, e ele falou que ela podia tomar depois que o neném nascesse, mas que tinha que tomar. Aí no final de semana ela estava com o nariz sapecado de rinite e eu falei para ela ir na Apmir – detalhou Maria Helena Nogueira.

Jaques disse que a mulher estava bem e não tinha febre, apesar da rinite, e que só procurou atendimento no domingo porque sua barriga estava doendo. Ele acreditava que pudessem ser contrações, mas como era mãe de primeira viagem, Jaqueline não percebeu. Os dois chegaram à Apmir às 18h25, mas só foram atendidos 19h45. O médico ouviu os batimentos cardíacos do bebê e deu uma receita para que ela buscasse um remédio no Hospital de Emergência, o Tamiflu, mas não chegou a mencionar a suspeita de H1N1. No dia seguinte, a agente social acordou com dores na barriga e com falta de ar e eles retornaram à maternidade.

— A médica falou que por causa do peso da barriga dava falta de ar mesmo. Eu não entrei porque fico nervoso com essas coisas, só entrei depois que o bebê tinha nascido, umas 8h15 ou 8h20. Eles estavam costurando ela e ela tranquila, sem dor. Mostrei nosso meninão e ela falou que estava com falta de ar. A Rosa, da assistência social, me chamou para falar que ela podia ficar em quarto particular porque éramos funcionários públicos, mas que tinha que ir na prefeitura buscar um documento. Aí uma enfermeira falou que ela estava com gripe e tinha que ficar em um quarto isolado. Eu falei que ela não estava gripada, só com rinite – acrescentou o motorista.

Durante toda a manhã, Jaqueline foi colocada em um respirador e teve a companhia apenas da mãe, já que estava proibida de receber visitas devido à suspeita de ter contraído do vírus da gripe H1N1. No período, o marido relatou ter ficado no corredor, pedindo ajuda aos médicos sobre as dificuldades da mulher em respirar e ouviu que “era normal”. A mulher não havia recebido qualquer tipo de medicamento até que, após às 13h, uma injeção foi aplicada.

— Fui ao banheiro e voltei minha filha falou que a enfermeira Patrícia tinha dado uma injeção verde e sumiu. Aí ela falou “mãe, olha como estou suando”. Eu comecei a abanar, ela falou que tinha mal estar. Chamei outra enfermeira e perguntei da injeção, ela falou que era para dor e eu falei que ela estava sem dor. A médica veio ver e quando viu apavorou e falou que ia levar para a emergência – relatou a mãe.

Jaqueline foi levada para o centro cirúrgico onde teve paradas cardíacas seguidas de ressuscitação pelos médicos, mas não resistiu.

— Vou entrar com um processo contra a Apmir, faltam estrutura e funcionários capacitados. Lá não tem uma UTI, não tem ambulância. Do lado do quarto em que ela estava tinha obra, estavam quebrando parede, tinha poeira. A estrutura da Apmir é inaceitável. Não é para ganhar dinheiro, isso não vai trazer ela de volta, mas por Justiça, é um direito meu. Não quero que outros passem pelo que estou passando – concluiu Jaques Alves.

Devido à suspeita, a mãe de Jaqueline disse que tiraram sangue de seus dedos para análise quando ela ainda estava viva. Mas o atestado de óbito não menciona a gripe H1N1. A família não havia tido acesso ao prontuário até a entrevista.

Acompanhe mais da entrevista nos próximos dois dias, aqui no jornal BEIRA-RIO.

Fotos: Arquivo da família

 

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