O que há por trás da desaprovação do projeto da PMR para Mauá?

No final do mês de agosto, os moradores e empreendedores da vila de Visconde de Mauá, um dos pontos turísticos mais visitados em Resende, foram surpreendidos nas redes sociais por postagens do prefeito Diogo Balieiro (DEM) e do secretário de Indústria, Comércio e Turismo, Tiago Diniz, com a notícia de que será construída uma área de lazer na entrada da vila.

A novidade, no entanto, desagradou muitos dos que escolheram Mauá para viver longe da agitação dos grandes centros, incluindo o de Resende, ou para abrirem seus negócios. Também nas redes sociais, muitas respostas ao projeto podem ser observadas nas postagens tanto do prefeito quanto do secretário, a maioria mostrando a contrariedade dos moradores, com o temor de que a área em torno da Igreja de São Sebastião seja descaracterizada historicamente.

Um dossiê divulgado pelo grupo “Evolua, Mauá” no último dia 12 (domingo) destaca que o principal ponto da discussão iniciada com a notícia foi quanto à localização da intervenção urbanística e seus equipamentos de lazer e esportes que, embora bem-vindos, irão descaracterizar o “pórtico verde” e “poluir” a primeira impressão de quem chega para visitar a vila.

Ainda que a localização seja a preocupação principal, o dossiê citou outros motivos que os moradores e empresários alegam para discordarem do projeto. O primeiro deles, citado na matéria feita pelo jornal BEIRA-RIO no final do mês passado, foi o fato do projeto ter sido desenvolvido ao longo de dois anos sem qualquer contato com a comunidade e com moradores que poderiam contribuir com o seu conhecimento das necessidades e características da região.

O documento também critica o estilo arquitetônico das instalações, considerado “padrão”, banal, típico de qualquer área urbana descaracterizada de hoje em dia. A instalação de churrasqueiras e grama sintética no playground também despertaram reações por causa dos impactos negativos à saúde das crianças e ao meio ambiente, além da preocupação com a manutenção de banheiros e vestiários, já que os moradores e empresários relatam que os vestiários dos dois campos já existentes (um na entrada da vila e outro em frente ao Colégio Estadual Antônio Quirino) costumam ser vandalizados, pichados, ter pias e janelas roubadas, e até mesmo ocupados por andarilhos.

Após as críticas, o dossiê traz várias sugestões para a construção da área de lazer, além de uma enquete também realizada pelo mesmo grupo entre os empresários, apontando que a maioria deles sugere que a construção da área de lazer seja em uma área localizada entre a vila e o bairro Lote 10, na área livre onde se localiza o Colégio Estadual Antônio Quirino (na foto abaixo).

Outra área também sugerida para a construção desse empreendimento da prefeitura é o local que já abrigou uma granja abandonada no Lote 10, que poderia ser transformada num “parque ecológico e esportivo”, onde inúmeras atividades esportivas e pedagógicas seriam realizadas (foto abaixo).

O documento destaca outras sugestões feitas para a melhoria do projeto da Prefeitura de Resende, sendo a maior parte delas nas alternativas para a implantação da praça planejada, seja em frente ao colégio, seja na antiga granja no Lote 10, para trazê-la para mais perto de onde as pessoas – adultos, jovens e crianças – vivem.

Também foram lembradas outras sugestões, entre elas a instalação de equipamentos esportivos desejados, especialmente quadra poliesportiva (futebol de salão, basquete, vôlei de quadra, tênis etc.), quadra de areia (vôlei e futevôlei), pistas de skate e patins, mesas de ping-pong (de concreto) e parede de escalada. Locais para atividades culturais e artísticas também foram lembrados, como coreto e concha acústica para apresentações musicais e teatrais, além do retorno do wi-fi público.

Mesmo com o desejo de não querer a construção da área de lazer na entrada da vila, alguns moradores sugeriram algumas obras de acabamento, como uma calçada em torno de todo o espaço verde, plantio de mais canteiros floridos, instalação de um coreto, um relógio de sol, etc. Ainda assim, com a participação da Casa da Cultura Macedo Miranda nos projetos em áreas tombadas.

O grupo finaliza as sugestões defendendo ser “indispensável a realização de audiências públicas para garantir a vontade majoritária da população de Visconde de Mauá quando forem projetadas intervenções na comunidade”.

Conforme foi adiantado na matéria publicada pelo jornal, o ponto de discórdia em relação a ter a área de lazer na entrada da vila é o fato de existir a Igreja de São Sebastião (foto abaixo), que é um dos imóveis tombados pelo município de Resende, segundo o Artigo 30 da Lei 3.446, de 13 de dezembro de 2018.

Dessa forma, o artigo seguinte (Art. 31) determina que “será considerada ‘Área Tutelada para Preservação da Ambiência’, todos os imóveis e lotes vagos não relacionados, localizados no Setor Especial Histórico (SEH), nos logradouros acima descritos, e também aqueles localizados em até 100 (cem) metros das igrejas relacionadas, sendo que toda e qualquer intervenção nos mesmos, deverão ter o parecer do Conselho Municipal de Política Cultural de Resende, da Curadoria do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano”.

O que na prática mostra a desinformação e falta de conhecimento das leis por parte de quem administra hoje a Prefeitura de Resende e de quem planejou construir a área de lazer, assim como o desconhecimento da história da região de Visconde de Mauá.

Isso levou a criação do “Evolua, Mauá”, criado pelos próprios moradores, preocupados com a sustentabilidade e a preservação da natureza locais. Os interessados em participar e contribuir para as ações pode acessar a página oficial do grupo na internet.

Fotos: Reprodução/Dossiê Evolua Mauá

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