Um incêndio registrado por volta de 1h da manhã do dia 5 atingiu uma área do Centro Municipal de Educação Infantil Dona Lili, no bairro Morada do Contorno. As fotos nas redes sociais mostram o momento que o local aparece em chamas e o Corpo de Bombeiros aparecem para apagar o fogo. “Jesus!!!!!!!! Tudo acontece nessa creche!”, postou um dos internautas, assustado com mais um fato envolvendo a mesma creche há três anos.
A perícia realizada no local ainda não aponta qual seria a causa do incêndio, mas a suspeita é de que o mesmo pode ter sido provocado por problemas na parte elétrica, já que há quase três semanas (em 16 de março) uma das mães postou nas redes sociais questionando o prefeito Diogo Balieiro sobre “como vai ficar a situação da creche do contorno”. Ela citou que no mesmo dia da postagem a creche “deu problema na parte elétrica”, fora outros problemas como “falta de caixa d’água, de quadra coberta e muitos transtornos para as mães que precisam sair do trabalho”.
Em outra postagem, em um dos comentários, outra mãe citou que a creche vinha sofrendo com problemas na energia elétrica. “Gente, (a energia elétrica) já estava dando problema desde o começo desse ano, o ar condicionado tinha parado de funcionar, aí dispensaram as crianças, depois não demoraram muito para ficar sem luz. E as crianças novamente não estavam tendo aulas. Para mim era só questão de tempo até dar m…, a gente sabe que nada passa por vistoria nas escolas, manutenção é zero em tudo”, desabafou.
PAIS E FUNCIONÁRIOS DESOLADOS E SEM SABER O QUE FAZER
Vizinhos relatam que pouco antes do incêndio – registrado dentro dos conteineres onde funcionava a creche cujo imóvel segue interditado – ouviram muito barulho de motocicletas que passavam pelo local, o que não costuma ser um fato comum na região.
Na manhã desta quinta, a equipe do jornal BEIRA-RIO esteve no local e registrou o momento em que muitos pais – que ainda não sabiam da real situação da creche – chegavam para levar os filhos, e outras mães, monitoras e funcionários desolados com o ocorrido, sem saber como fazer para cuidar das crianças, com vários deles chorando.
O jornal apurou as informações e constatou que houve perda total dos conteineres incendiados, já que havia muito material inflamável no local, e que os bombeiros chegaram a salvar dois botijões de gás do local em chamas. Os próprios pais comentaram que a creche tinha alarme (e a rua tem uma câmera de 360 graus de segurança), mas que não sabem por que o alarme não funcionou no momento em que o local foi tomado pelas chamas. Ainda não há informações sobre a causa do incêndio.
CRECHE TEVE OBRA DENUNCIADA EM 2014
O incêndio colocou mais uma vez a creche do bairro nas páginas policiais. Tudo começou em novembro do ano de 2014, quando a marquise do imóvel construído e entregue há pouco tempo à comunidade desmoronou na manhã do dia 14 daquele mês, assustando as 150 crianças, e professores e funcionários que se encontravam no local. Não houve feridos.
Dias mais tarde, o ex-empreiteiro Moisés Alves Pereira Junior, que era dono da BBC Construções, uma das empresas que passaram pela obra da creche, foi entrevistado pelo jornal BEIRA-RIO, e revelou que havia denunciado as irregularidades e erros que encontrou na obra, quando foi trabalhar nela, ao jornal e posteriormente ao Ministério Público Federal (MPF).
Um mês mais tarde, o MPF informou que fez uma série de recomendações à Prefeitura de Resende, com ações urgentes a serem tomadas após o desabamento da marquise da creche, baseadas no laudo preliminar feito pela Polícia Federal, a pedido da procuradora do MPF, Izabella Marinho Brant.
Em fevereiro de 2015, o Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende (ComSocial), através de seu ex-presidente Eliel de Assis Queiroz , havia anunciado que entraria com uma ação civil pública contra os responsáveis pelo esquema de propina denunciado pelo proprietário de outra empresa responsável pela obra, Guilherme Rezende, dono da Construtora Barrense.
No mesmo ano, o dono da BBC Construções foi ouvido pela Polícia Federal, e o então secretário de Obras Rubens Almada teve que se explicar à Câmara de Resende, confessando que o fiscal de obra que trabalhavam na construção da creche era o mesmo em todo o procedimento da obra. No ano de 2016, o MPF informou que três empresas que participaram da construção da creche estavam proibidas de licitar e contratar com o Poder Público por dois anos.
E em abril do ano passado, a polícia descobriu que uma facção criminosa estaria utilizando um espaço desativado dentro da creche para esconder munições e material para embalar drogas após denúncia anônima de saída e entrada de pessoas do local.
Em nota, a Prefeitura de Resende informou que a Secretaria de Educação divulgará as unidades para onde os alunos serão remanejados até que a creche seja recuperada. A previsão é de que isso aconteça ainda nesta semana.
Foto do incêndio na madrugada: Reprodução/Redes Sociais
