Os tomates do Padre Inácio

Segue um dos capítulos do meu livro “Os Tomates do Padre Inácio – memórias domésticas do palavrão”, que lançarei na Flir, dia 7 de junho. São memórias do aprendizado com os chamados ‘nomes feios’, com minha mãe. E narrativas abordando a intromissão do palavrão em vários setores do dia a dia: cinema, TV, literatura, musica, religião etc.

UMA INOCENTE AVEZINHA

Pensei no seguinte título para este capítulo: “O palavrão no espectro eletromagnético”. Daria tese de mestrado, não daria? Mas desisti, e logo vocês vão entender o porquê. Vamos lá. Rádio e televisão desde seus cueiros, os anos 20 para o rádio e os anos 50 para a televisão, sempre foram vistos como solos sagrados, espaços mágicos.

Consumi com fidelidade canina durante a infância as “Estórias do tio Janjão”, na Rádio Nacional, e como disse lá atrás, as aventuras do Anjo e do Jerônimo. Na TV foi o encantamento com os desenhos animados, com os Três Patetas, com o Super-Homem e Batman (estes dois um tanto decepcionantes frente às versões dos gibis da EBAL).

Mas Rádio e TV significavam, acima de tudo, um mundo superior para nós meros mortais. As vozes e imagens que deles emanavam na certa nasceram ungidas para um propósito maior. Cantores, teleatores, locutores, apresentadores. As notícias eram verdades supremas: “deu no Repórter Esso!”, atualizados hoje para “deu no Jornal Nacional!”. Como éramos e como continuamos tolos e ingênuos, não é mesmo?!

E por serem esses veículos concessões públicas, e, portanto, seguindo (ou pelo menos devendo seguir) regras constitucionais que os colocam como complemento de nossa formação educacional, social e cultural, jamais poderíamos supor ou imaginar, um palavrão reverberando no éter via ondas de rádio ou TV. Mas o palavrão, essa incorrigível e irresistível forma de se alcançar a exata dimensão dos significados, não deixaria passar incólume esses nobres veículos de comunicação de massa.

O rádio, com programação essencialmente ao vivo, esteve mais vulnerável a essas escorregadelas. E foram muitas, mas prefiro registrar aqui um fato bem recente, ocorrido em 2015, e que está condenado a virar história em nossa mídia falada. Sem trocadilhar com o verbo rolar, destaco um quase palavrão que o radialista Ricardo Boechat atirou sobre o pastor evangélico Silas Malafaia.

O indigitado pastor colocara no twitter um ataque a Boechat com a justificativa de rebater uma suposta afirmação do jornalista de que pastores evangélicos incitavam fieis à intolerância. De quebra chamara Boechat de idiota. O radialista do alto do seu microfone na Band News FM retribuiu o idiota, acrescido de paspalhão, pilantra e sugeriu bombástico e definitivo:

– Ô Malafaia, vai procurar uma rola, vai!!!.

E rola, essa simpática avezinha, nem é palavrão. Ou é?

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