Diocese divulga nota de repúdio contra soltura de deputados da Alerj

Na tarde desta segunda-feira, dia 20, o bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, Dom Francisco Biasin (foto), divulgou uma nota de repúdio contra a decisão tomada pelos parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) no último dia 17, de suspender a prisão preventiva dos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, os três do PMDB, um dia após a decisão tomada por decisão unânime dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), que determinou a prisão dos três parlamentares, atendendo a um pedido do Ministério Público Federal.

Segundo a nota, Biasin mostra o descontentamento diante dessa situação que também gerou muita indignação na população fluminense. “Interpelado pela Palavra de Deus, venho manifestar o descontentamento e o repúdio despertados em meu coração e no do povo fluminense, diante da decisão da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Alerj, de suspender a prisão preventiva dos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi”, acrescenta o bispo.

Ele também aproveitou para criticar a decisão de 39 deputados que determinou a revogação da decisão dos desembargadores, classificando-a como “uma votação de cunho eminentemente político, sem considerar a autonomia dos poderes e o apelo popular”, e cita a desconsideração destes “por completo e sem escrúpulos”, do “sofrimento dos pobres e excluídos, causado pela ganância daqueles que substituíram Deus pelo dinheiro, o serviço ao bem comum por vantagens pessoais ou de grupo, a ética pela troca de favores, o amor pela indiferença e o cinismo”.

Biasin encerra a nota citando as palavras do Papa Francisco sobre a necessidade de representantes na política que honrem com as necessidades da população, em especial a mais necessitada: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. (…) Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo e a vida dos pobres”.

Leia a nota de repúdio na íntegra:

NOTA DE REPÚDIO

À Igreja que está em Barra do Piraí – Volta Redonda e aos homens e mulheres de boa vontade, comprometidos com a justiça e o bem comum.

“É Ele (Deus) quem examinará as vossas obras e sondará as vossas intenções; não julgastes com retidão, nem observastes a Lei, nem procedestes conforme a vontade de Deus” (Livro da Sabedoria 6, 3b. 4b)

Interpelado pela Palavra de Deus, venho manifestar o descontentamento e o repúdio despertados em meu coração e no do povo fluminense, diante da decisão da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, ALERJ, de suspender a prisão preventiva dos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi.

De fato, no último dia dezesseis, por decisão unânime dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, TRF – 2, foi atendido o pedido do Ministério Público Federal que solicitava a prisão dos deputados estaduais acima mencionados. Tratase, portanto, de uma decisão tomada por um órgão técnico e com competência para tal medida.

Todavia, numa sessão extraordinária da ALERJ, da qual a população foi impedida de participar, embora houvesse determinação judicial que indicasse o contrário, seguindo uma prática escusa já praticada recentemente no Congresso Nacional e no Senado, trinta e nove deputados e deputadas, numa votação de cunho eminentemente político, sem considerar a autonomia dos poderes e o apelo popular, revogaram a decisão do TRF-2, numa clara demonstração de corporativismo da pior espécie.

Desse modo, como cidadão, cristão e pastor, cabe-me a tarefa evangélica de dizer: “Ai de vós!” (Lc 6,25). Ai de vós que desconsiderais, por completo e sem escrúpulos, o sofrimento dos pobres e excluídos, causado pela ganância daqueles que substituíram Deus pelo dinheiro, o serviço ao bem comum por vantagens pessoais ou de grupo, a ética pela troca de favores, o amor pela indiferença e o cinismo.

Nessa hora ambígua e triste do Estado do Rio de Janeiro, já em plena falência devido à corrupção praticada por governantes inescrupulosos, ressoam bem apropriadas as palavras orantes do Papa Francisco, quando diz: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. (…) Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo e a vida dos pobres” (Evangelii Gaudium, 205).

Apesar de consternado e evangelicamente indignado, essa é a minha esperança. Peço a Deus que a mantenha viva no coração do nosso povo, não obstante as evidências contrárias, e que nos ajude a realizá-la .

Volta Redonda, 20 de novembro de 2017
Dia da Consciência negra

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