Da série ‘ensaios breves e inúteis’: Ser dedo-duro agora é honroso

“Os tempos são outros!”. Minha vó costumava dizer isso quando topava com algo surpreendente. Geralmente era sobre hábitos e comportamentos que se invertiam. Exemplo: Mesmo não sendo machista, lembro de sua crítica quando ouviu pela primeira vez falar em futebol feminino: “Futebol é pra homem. A mulher tem que ficar no lugar dela”. Como também não era feminista, ela não saberia dizer qual seria esse ‘lugar’.

Sobre futebol feminino, lembro da nossa reação, jovens bobos e naturalmente machistas, que aturávamos aqueles jogos horrorosos, na expectativa de uma troca de camisas no final. Que nunca acontecia. Hoje, no futebol de homens, os barbados ao trocarem de camisa, exibem peças íntimas, parecendo sutiãs. “Os tempos são outros”, diria a velha.

Outra coisa que deixaria minha vó embatucada é o nosso momento político. Não pelos sucessivos escândalos, que não chegam a surpreender, mas por uma estranha prática, que vem forçar uma inversão de valores, o que também me espanta.

Em outro momento conturbado, a Ditadura Militar (1964/1985), quando se cometeram barbaridades em seus porões, havia um lema em um dos lados do conflito que era acima de tudo, um valor ético. Um valor que ultrapassava os muros limitantes do ringue do conflito ‘Opressores x Resistência’ que era o fato de repudiar-se total e amplamente a prática asquerosa e menor, muito menor, de ‘dedurar’. O cara era torturado, morria e não dedurava. Com as exceções de praxe, afinal, à tortura só resistem os totalmente fortes.

E isso tipo de comportamento não nasceu e nem foi propagandeado por guerrilheiros urbanos presos pelas forças da Repressão. Não. Esse era um valor que vinha de longe. Nem na escola primária um alcagüete era aceito. Aprendemos desde bem cedo a odiar Joaquim Silvério dos Reis e Judas.

Hoje, com apoio, cumplicidade e foguetório da nossa mídia impressa, falada, televisada e vendida parece que o valor que mais alto se alevanta é a da tal delação. Nem vou entrar no mérito do valor intrínseco do ato, que mais me parece uma extorsão premiada. Mas na forma como a prática vai sendo naturalizada.

De repente ser ‘dedo-duro’ passou a ser uma virtude. Daqui a pouco vai aparecer um samba ruim ou um funk exaltando a delação. Realmente, os tempos são outros.

TRIPA

* Dia 3 de junho foi realizada na Casa da Amizade, em Resende, a 5ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Foi o principal acontecimento da semana na região.
* Nesse domingo, 04 de junho, às 11h da manhã, com o lançamento do livro “Discobiografia Legionária”, da jornalista Chris Fuscaldo, editora Leya/Casa da Palavra, será aberta a II Feira do Vinil, que ficará até 25 de junho de 2017, de sexta a domingo, das 10 às 18h, no Centro Cultural Visconde de Mauá. Apoio: Roberto Mota, Casa Beatles e Copacabana Records! Realização: Centro Cultural Visconde de Mauá

* O Centro Cultural Visconde de Mauá informa o resultado do XII Salão do Pinhão
Pintura/Desenho/Escultura: “Vida na Roça” – Escultura de Geraldo Pereira (Lote 10 – RJ – Visconde de Mauá); Fotografia: “Vale de Santa Clara – Paisagem Afetiva” – (Juliana Mello – Vale de Santa Clara – MG – Visconde de Mauá).
Os votos ficarão no CCVM, à disposição de todos os participantes para que possam ser conferidos. O XII Salão do Pinhão contou com 827 visitantes, incluindo a comunidade escolar local, e os turistas que nos visitam, do dia 27 de abril a 31 de maio. Participaram da mostra, 21 artistas e 8 fotógrafos.

ANIVERSÁRIOS

No dia 29 mudaram de idade a Livia Ouverney, a Leone Cavalcanti, o Renato Ferraz e a Roxane Alexandre. Dia 30 mais uma turma legal inaugurou idade nova, olha só: Romar Henry, Elizete Duarte, Cida Prado e Ira Cristina. No dia 31, uma outra turma espetacular ficou mais experiente: Robson Monteiro, Simone Girão, Tammy Bem, Suzana Santos e Ismael Grangeiro. Dia 1º de junho receberam os ‘parabéns’ a Hurla Garutti e o Antonio Neto. Dia 3 soprou velinhas o ‘se’ Sergio Luis Coelho e nesse dia 4 contaram mais um ano de vida a Aline Barboza, o Marinho Periquito e a grande, poeta Sol Marinato. Parabéns e todas as felicidades do mundo a eles.

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