Se a moça não quer

De que adianta o rapaz olhar e de canto de boca se enfeitar com um sorriso galante se a moça não quer? Nada, eu afirmo. Houve até um dia em que a moça completara anos e chegou um buque de rosas com uma estrofe de poesia em um bilhete: “O amor bate na porta/ o amor bate na aorta/ fui abrir e me constipei.” O rapaz assinou o papel e não revelou que era trecho de poema de Drummond. Também, pegara na internet. Achou faceto e por isso escolheu. Pensou que a moça ao ler sorriria e que um sorriso valia uma conversa. Mas não valeu nada disso. Ela continuou a cumprimentá-lo educadamente e ponto.

De que adianta o rapaz oferecer fatia de torta alemã, capuchino pela manhã ou filme de Tarantino no domingo se a moça não quer? E não há quem a traga em sete dias; não há mar azul turquesa de Arraial de Cabo que desate o desejo. A moça não quer porque não quer. Não que se interesse por outro rapaz, tampouco que haja mau hálito nesse. A questão é simples, clara e por isso dura e incompreensível para a razão do rapaz: a moça simplesmente não quer e por isso de nada adianta convite para roda gigante, intermediação de amiga, anel de diamante ou dor de barriga; se a moça não quer de nada adianta qualquer mentira.

Se aprendesse violão, se jogasse futebol, se fosse o presidente de qualquer coisa… Mas de que adiantaria se a moça não quer? Não há jeito. Não há rima. Só, o rapaz e sua sina: a da moça que não quer.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.