
No dia 8 de agosto de 1963, um roubo planejado por uma dupla de criminosos deu origem ao assalto ao trem pagador, na verdade uma locomotiva postal, no condado de Buckinghamshire, na Inglaterra. Na ação, um grupo de 17 pessoas (15 ladrões e dois informantes) levou a quantia de aproximadamente 2,6 milhões de libras esterlinas de um trem que ia de Glasgow, na Escócia, para Londres, transportando depósitos bancários.
Os assaltantes pertenciam a duas gangues de Londres: a South West (Sudoeste, em português) e a South East (Sudeste, em português). O roubo foi planejado por Bruce Reynolds e Ronald Biggs, que haviam se conhecido na prisão alguns anos antes. A dupla descobriu que bancos escoceses enviariam no dia do assalto uma grande remessa de dinheiro a Londres por meio da linha férrea postal.
Reynolds foi o cérebro do assalto. Chegou a trabalhar como revendedor de antiguidades, mas dedicava mais tempo a crimes. Biggs também já havia participado de alguns delitos. Junto com a dupla, outras pessoas estiveram envolvidos no assalto, seja antes, durante ou depois do evento, dentre elas o advogado Brian Field, responsável pela compra da fazenda Leatherslade, usada como esconderijo para a quadrilha.
Os assaltantes foram avisados por um informante, pouco após a meia-noite, de que o trem postal havia partido de Glasgow. Era o gatilho para o início da operação. Eles embarcaram em dois Land Rovers e um caminhão do Exército roubado e deixaram o esconderijo – a fazenda Leatherslade, distante 40 quilômetros do local do roubo.
Pouco tempo depois, os bandidos se posicionaram em pontos previamente planejados. Na região de Leighton Buzzard, o semáforo da via férrea foi alterado. A luz verde, que indica ao maquinista para seguir normalmente, foi coberta, e a lâmpada amarela, que obriga uma parada do trem no próximo semáforo, foi ligada por meio de baterias. Em Sears Crossing, a mesma tática foi utilizada, mas, dessa vez, a luz vermelha foi acionada. Eram 3h30min da madrugada quando o maquinista Jack Mills, obedecendo a sinalização, parou o trem.
Quando a locomotiva parou, o assistente de Mills, David Whitby, desceu da cabine para conferir o motivo da parada não programada. Foi surpreendido pela quadrilha, que o imobilizou. Os assaltantes subiram no trem e renderam Mills acertando um golpe na cabeça dele com uma barra de ferro. Em seguida, os funcionários do correio, que estavam com os malotes de dinheiro, também foram rendidos.
Um integrante do bando desengatou a locomotiva e os três vagões seguintes do restante do comboio. Por fim, Jack Mills, mesmo sangrando, foi obrigado a levar o trem até a Bridego Bridge, onde a outra parte do grupo de assaltantes aguardava nos veículos. Foram desembarcados 120 sacos de dinheiro. A turma fez uma espécie de corrente humana para agilizar o procedimento. A carga valiosa, então, é levada de volta ao esconderijo.
Na fazenda, após um breve período escondidos, alertados da aproximação da polícia, a quadrilha teve que abandonar às pressas o local. Um comparsa foi pago para apagar todos os rastros deixados pelo grupo. Porém, ele resolveu pegar o dinheiro e fugir sem fazer a tarefa.
O esconderijo foi descoberto pela polícia devido à denúncia de um fazendeiro local. Ele percebeu a presença do caminhão do Exército dias antes. Quando soube do assalto, avisou as autoridades imediatamente. Ao investigar a casa, a Scotland Yard encontrou muitas impressões digitais, até mesmo nas peças do Banco Imobiliário deixado para trás. Com os rastros, foi possível localizar os participantes do assalto.
Outra pista ajudou as autoridades policiais a descobrirem quem era o chefe da quadrilha. Bruce Reynolds chamou um conhecido para agir como falso comprador da fazenda Leatherslade. O problema é que o amigo usou o seu verdadeiro nome na transação, além de contratar um escritório de advocacia para intermediar as negociações.

Três semanas depois, 11 dos 17 integrantes da quadrilha já estavam presos. A maioria foi condenada a 30 anos de detenção. Alguns conseguiram fugir da prisão. Um deles foi Ronald Biggs. Ele ficou quase dois anos encarcerado, mas, em 8 de julho de 1965, mas escapou, escalando o muro com uma escada de corda comprada por comparsas. Fugiu primeiro para Paris, na França, e depois para a Austrália.
Após três anos, com receio de ser reconhecido, partiu para o Brasil, em 1970, indo residir no Rio de Janeiro. Chegou a viver mais de 30 anos no Brasil. Em maio de 2001, Biggs decidiu se entregar às autoridades britânicas. Lá, foi para a prisão de Belmarsh, em Londres. Morreu em 2013 aos 84 anos.
O assalto ao trem pagador chegou a ser conhecido como “o crime do século” na Inglaterra. Segundo pesquisadores, o roubo já rendeu 27 livros, 17 documentários e quatro filmes de longa-metragem.
Fonte: Wikipédia