Alguém sabe por onde andam as domésticas e os pedreiros?!
O mundo mudou, o Brasil mudou e algumas profissões e ofícios desaparecem. A lógica capital-tecnologia se encarrega de extinguir os sapateiros; os alfaiates, os datilógrafos (quem eram esses?), e até os cobradores de ônibus estão com dias contados. Outras profissões, no entanto, começam a desaparecer por conta das relações trabalhistas e as mudanças paradigmáticas culturais que as originaram, entre elas destaco os das empregadas domésticas e os pedreiros. Com um país, onde o acesso às escolas e às universidades virou uma realidade para todas as classes sociais, as domésticas e os pedreiros querem que seus filhos estudem e não sigam a profissão que, hoje valorizada, proporciona um futuro diferente do que tiveram. O aumento da escolaridade, também dos profissionais na ativa, tem levado a uma migração para outras áreas.
Este artigo essa semana discorre sobre o “desaparecimento” das empregadas domésticas: regulamentada como profissão na década de 70 do século passado, a empregada doméstica só agora começa realmente a receber status de profissional, já que parece, nos próximos dias, a Proposta de Emenda Constitucional para a ampliação dos direitos destes profissionais será aprovada no Senado (já passou pela Câmara). O que muda? Se aprovada, começa a valer imediatamente a obrigatoriedade do recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o pagamento de hora extra, no mínimo, 50% maior que a hora comum e a contratação de seguro contra acidentes do trabalho a cargo do empregador; há ainda outros debates no Ministério do Trabalho que incluem adicional noturno e assistência gratuita aos filhos até cinco anos dos empregados em creches e escolas.
É verdade, que os direitos dos empregados domésticos sempre foram muito inferiores de outras categorias profissionais, mas essas mudanças com certeza vão impactar as famílias que até então consideravam no orçamento os serviços domésticos de um profissional. Há ainda, e daqui pra frente isto ficará muito mais explícito, a demanda exigente por profissionais qualificados, já que a realidade dos avanços trabalhistas e garantia de direitos sociais não são compatíveis à qualificação, ainda que o serviço doméstico seja segmentado. Isto significa que um profissional contratado só para cozinhar, por exemplo, deverá ter hoje conhecimento além de forno e fogão; os cuidados sanitários que incluem validade de alimentos e modo de preparo e armazenamento são imprescindíveis para quem pleiteia ter sua carteira assinada como “cozinheiro doméstico”. É natural que hoje, as famílias cobrem mais do que nível médio de escolaridade, sim, porque não basta apenas saber ler e escrever, cursos, inclusive, de limpeza estão sendo exigidos.
Agora, só os ricos poderão ter a figura da empregada doméstica mensalista, entre os profissionais que prestam serviço à família, e aquelas sem essas condições deverão rever a divisão de trabalho doméstico entre os próprios familiares e adequar a casa à praticidade que a tecnologia oferece e vez por outra contratar uma diarista. É o que faço agora. Desisti de ter empregada há mais de um ano, quando depois de uma série de três, a última ficou dois meses, a anterior dois dias e a anterior a esta, duas semanas. O desgaste para explicar e orientar sobre o serviço a ser prestado foi maior do que o resultado da contratação. Infelizmente, em cidade do interior, o problema da falta de profissionais qualificados é maior ainda.
A demanda pelos serviços domésticos não vai acabar, pelo contrário, tende a crescer, dizem os especialistas e quem tiver uma visão de negócios poderá até lucrar. Hoje algumas empresas de qualificação de mão de obra começam a fazer sucesso e virar referência de quem procura um profissional que saiba realmente limpar portas e janelas ou que consiga limpar os armários da cozinha sem uso de abrasivos. Lavar louça pode parecer simples, mas é preciso competência para isso, da mesma maneira como arrumar um estante de livros depois de retirá-los, limpá-los adequadamente e voltar à disposição anterior. Coisas aparentemente simples, mas nem tanto assim, pelo menos segundo minhas últimas experiências. Desisti antes que o impacto de custo me atingisse e estou satisfeita com os diaristas (homens e mulheres) aliás, acho que mais homens deveriam se dedicar a estas atividades de limpeza e serviços domésticos. Nos Estados Unidos e outros países há muito tempo que ter empregado doméstico é luxo, apenas para as celebridades e os muito ricos. Universitários e profissionais de diversas áreas, mas desempregados preenchem a demanda como diaristas e estão muito satisfeitos, assim como aqueles se utilizam deste serviço.
Aquele tempo de trazer uma mocinha do interior, com a justificativa de que ao dar lugar para dormir e comida, o salário e direitos eram menos importantes, acabou. Tudo bem que se você me visitar amanhã provavelmente encontrará uma casa… digamos assim…, normal: habitada de fato, que as coisas estão fora da lugar, papel picado na sala – tem criança, sabe como é que é né? – melhor não olhar muito para os cantos das paredes porque poderá encontrar uma teia aqui outra acolá. Fui criada num padrão familiar de limpeza, não diria extremada, mas de assepsia e organização e hoje penso que, como outras profissões que desapareceram, aquela que estávamos acostumados e que vemos ainda nas novelas brasileiras não existe mais. Por isso, é urgente entendermos que a família precisa rever seus conceitos e dividir tarefas dentro de casa, mesmo se as condições permitirem uma diarista semanal, por exemplo. Estamos sempre sendo desafiados às novas adequações que o mundo moderno nos impele e depois, ando apostando no condicionamento físico, perda de calorias e momentos de reflexão enquanto executo a limpeza das paredes. Filho rabisca paredes, sabia?
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
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