Falar da beleza feminina sem ser clichê é tarefa das mais difíceis. Os poetas fazem isso com muito mais competência, ainda que, quase sempre, enxergam apenas o que querem enxergar, e por vezes, desistem da análise do lado chamado “misterioso”, “enigmático” ou “complicado” da mulher. Olhando as fotos de jovens, mulheres jovens, tão expostas ao carnaval deste ano, mas também tão expostas à falta de poesia feminina fiquei me perguntando até quando será preciso pagar o ônus para afirmar uma identidade e principalmente o respeito por uma liberdade individual, que independe de gênero.
A exposição e vulgaridade que assistimos, de muitas mulheres, tem muito mais a ver com a falta de carinho e educação do que com a busca de afirmação, independência ou algo parecido. Vejo muitas pessoas julgando, piadinhas que circulam na Internet como uma em especial neste carnaval que dizia: “Em fevereiro as mina pira e em novembro as minha pari” demonstram como ainda estamos longe de um entendimento não-sexual quando o assunto é mulher e sua liberdade. Difícil mesmo, quando ainda temos boa parte de anúncios de cervejas que trazem esta exposição feminina e ainda encarada como “engraçada”, “estimulante” ou outros adjetivos cujos fins comerciais quase nunca são questionados. Mas quando a mulher sai do “padrão” comportamental é chamada de “bonita”, se torna alvo de críticas moralistas e é julgada.
A mulher tem assumido papéis de destaque na sociedade, seja no mercado profissional, seja na política e é natural que seu comportamento, às vezes, não muito convencional chame a atenção. Como também chama a atenção um comportamento tradicional em tempos modernos. Precisamos olhar a mulher como parte integrante deste novo processo e não como um apêndice da modernidade, porque de fato a mulher não é um objeto, ainda que muitos encarem desta forma. Por outro lado, tenho visto muito poucas ações de mulheres engajadas e muito menos, a união de mulheres para mudar determinadas situações. No campo político, por exemplo, as últimas eleições confirmaram o favoritismo masculino, com raras exceções vimos de mulheres eleitas por sua plataforma política, por sua luta ou história política. Por isso que vejo com muito bons olhos, a tentativa de um grupo de mulheres do PT/Resende em realizar um trabalho diferenciado dentro e fora do partido.
Ainda que muitas mulheres deste grupo já participem de atividades sociais é importante que se destaquem e estejam presentes nos fatos políticos da cidade, já que pretendem uma participação política mais concreta, ou seja, um cargo eletivo num futuro que espero não muito distante. Sinceramente, gostaria de ver mulheres de caráter, engajadas e com espírito público participando mais, muito mais da vida política de Resende e de outras cidades da região. Penso que para isso é preciso romper com alguns conceitos limitadores sobre a atuação possível destes grupos femininos. Espero que, este grupo do Partido dos Trabalhadores saia do limbo dos pouco mais de 7% dos votos válidos do resultado eleitoral do partido na cidade na última eleição. Um número decepcionante, principalmente quando se ouviram muitos elogios ao grupo e à condução do partido na apresentação de propostas para o município. Mas isto é um outro assunto.
O que me fez escrever esta semana é saber que em Resende existem mulheres dispostas a ir além das cansativas e infrutíferas reuniões de partido; que querem organização e ação com uma peculiaridade feminina: não desistir enquanto o esclarecimento não se fizer presente.
Se me permitirem, gostaria de sugerir um assunto que este grupo deveria abraçar como prioritário: a sexualidade feminina. Muitas questões relacionadas às políticas públicas podem surgir a partir desta abordagem. Um assunto, muitas vezes negligenciado, em função de tantos outros que se mostram urgentes, mas percebo, que o desconhecimento deste pode ser a causa de muitos problemas. E depois, falar de sexo é um bom começo para um grupo feminino. Não?!
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
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