Cães abandonados: preocupação para moradores no Sertãozinho

Os cães Fuleco e Luna, antes abandonados, hoje dão as boas vindas a clientes do restaurante de Tia Ilda

Atualizado dia 14, às 15h

Quem vê a comerciante Ilda Almeida (conhecida por Tia Ilda) dentro de seu restaurante cuidando de seus sete cachorros, na comunidade da Fazenda Sertãozinho (localizada entre Resende e o distrito de Formoso, em São José do Barreiro/SP), não imagina que alguns deles se encontravam abandonados na estrada Resende-Riachuelo há poucos anos. É o caso de Luna e Fuleco, dois cães SRD (sem raça definida). Hoje, eles têm um lar e são fiéis companheiros de Tia Ilda. Além deles, um outro cachorrinho, filho da Luna, é o terceiro mascote do restaurante.

Essa convivência com final feliz para os dois peludos, no entanto, não faz parte da realidade de outros cães (e também gatos). A própria comerciante testemunhou uma cena de abandono de outros animais. “Uma vez veio um cliente almoçar aqui no meu restaurante, e ele abandonou quatro cachorros aqui. Simplesmente, abriu a porta do carro e os soltou”, conta a comerciante.

Outro lugar preferido para quem abandona filhotes no Sertãozinho são as porteiras das propriedades dos moradores. “O pessoal acha que temos condições de criar e fica soltando os bichos na porteira, tanto cachorros quanto gatos. Uma vez, chegamos a acolher uma cachorra com oito filhotes. Foi meu filho quem levou pra lá. Mas infelizmente não tenho condições de criar, só pude ficar com um dos filhotes, e acabei doando o restante para outras pessoas, inclusive a mãezinha”, responde a dona de casa Regina Alves da Silva.

O abandono dos cães não preocupa apenas os moradores da comunidade que se preocupam com o bem-estar dos animais. Para quem vive no campo, os animais soltos também podem representar um perigo para as criações de gado e outras espécies. “As pessoas abandonam geralmente esses cães, achando que eles não crescem. Só que crescem, e aí começam a dar prejuízos para os produtores. Tem cachorros que comem bezerros, e isso gera perdas de cabeças de gado para moradores daqui”, lembra Tia Ilda.

Foi o que aconteceu com a família do produtor rural Nelcimar Diniz e de sua mãe, a dona de casa Luzia Moreira Diniz da Silva. “Lá na minha casa tem aparecido muitos cachorros que não são nossos. Isso acontece quando a pessoa não quer mais o animal na casa dela. Tivemos prejuízos com isso, já que três bezerros e metade das galinhas morreram na minha propriedade”, lamenta a dona de casa.

Luzia (à esquerda) e Nelcimar tiveram prejuízos provocados por cães abandonados

O produtor revela que há mais de um ano espera uma resposta do processo que abriu na ouvidoria da Prefeitura de Resende, em julho de 2018. “Ano passado, estive lá na prefeitura reclamando desses animais, mas até agora não tive resposta. Tenho visto as pessoas soltarem esses bichos em locais não muito distantes daqui. Uma vez encontramos um saco cheio de filhotes”, diz.

Para a veterinária Eleonora Bernardes, o fato de ser um predador de gado ou de aves não acontece apenas com os cães que não possuem guarda responsável. “Os cães normalmente vão atacar as galinhas ou o gado, independente dele ser de rua ou não. Na minha casa, eu tinha uma cadela que pegava passarinhos e outros animais. Isso é da natureza desses animais, é do instinto dos cachorros”, explica a veterinária.

SOLUÇÃO PARA ABANDONO ESTÁ NA EDUCAÇÃO
Ela revela que o cão somente ataca caso a propriedade rural tenha livre acesso ao animal, mas que dependendo das informações que circulam na mídia e redes sociais, os bichos podem estar vulneráveis a maus tratos. “Não sei se esse número de cães abandonados têm sido grande, mas a gente precisa ter uma ideia mais precisa dessas informações, uma vez que uma minoria pode se incomodar com o que vem acontecendo e colocar a comunidade inteira contra esses animais, fazendo com que possam ser envenenados ou sofrer outros tipos de agressão por produtores que estarão defendendo suas criações, por exemplo”.

Eleonora também defende que a solução para o controle da população dos animais abandonados é a mesma aplicada no meio urbano, e que levaria tempo para ser concluído. “O que tem de ser feito para solucionar o abandono desses cachorros é na verdade um trabalho de anos (e não apenas de meses) que precisa ser feito nas escolas, educar para a posse responsável. Muitas vezes, a criança acha uma gracinha um cãozinho ou gatinho, aí o pai acaba pegando pra criar, mas não tem condição de manter seu animalzinho e acaba ficando refém dos recursos do serviço público pra ajudar a tratar, ou abandona o animal. O problema não são os cães abandonados, e sim os seres humanos que abandonam os animais. Enquanto não conseguirmos mudar a mentalidade do ser humano, não conseguimos resolver 100% o problema”, conclui.

A equipe do BEIRA-RIO entrou em contato com a Prefeitura de Resende, que até o momento não respondeu os questionamentos sobre os animais abandonados no Sertãozinho.

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