“Diz que é cria” viraliza e revive hábitos e locais do passado!

As postagens brincam com os hábitos de quem nasceu e/ou foi criado nas cidades

Nas últimas 24 horas, vários usuários de redes sociais em Resende foram contagiados pela onda da corrente onde as pessoas completam de forma bem-humorada a frase “Diz que é cria de Resende …”. As postagens satirizam na verdade aqueles que dizem ser crias de um determinado lugar, mas que nunca vivenciaram situações cotidianas da cidade citada, várias delas só lembradas ou passadas pelos moradores mais antigos.

No caso de Resende, as postagens citam o tempo em que existiam os ônibus das viações Paraíso e Manejo, o tempo em que a Graal ainda não existia na entrada da cidade, ou até mesmo quando o pontilhão do Surubi Velho ainda tinha uma infraestrura mais precária. E a brincadeira não viralizou somente em Resende. Um internauta de Volta Redonda colocou em seu perfil cerca de 30 posts com a mesma frase inicial, apenas mudando os nomes das cidades e sobre o que os tais crias não fazem (ou não fizeram) na cidade de origem.

Para o sociólogo Gilberto Caldas, as postagens que viralizaram em tão pouco tempo representam uma sátira social:  “Essa viralização da corrente tem esse objetivo. A sátira é preconceituosa, mas um comentário pode transformar a pessoa em herói ou vilão. Ela (sátira) é fundamental porque é embalada em humor, mas traz um conteúdo ácido. Você rotula a pessoa. Qual seria o demérito de uma pessoa frequentar uma academia de jazz? Isso descredencia a pessoa a uma crítica social? Claro que não. Você tem o carro do ano. Isso te descredencia falar do transporte público que não está atendendo adequadamente a população? Não descredencia. Mas se eu fizer isso em um tom mais satírico, de humor, eu consigo atingir a massa que eu quero, consigo rotular quem quero, mas com toda “uma pintura multicolorida, não é verdade”? A coisa fica mais engraçada”, cita.

Há quem aproveitou para satirizar a própria viralização da corrente

Ele destaca que a sátira política sempre fez parte da História do Brasil, seja através dos cartunistas, dos jornais e até das próprias manifestações de carnaval. No entanto, Caldas entende que as redes sociais também fazem muito bem esse papel. Mas alerta para a forma que essas postagens são realizadas, lembrando das mudanças sofridas nas relações de diálogo entre as pessoas, que antigamente acontecia pessoalmente entre vizinhos e hoje foi substuída pelas redes sociais.

— A sociedade é um organismo vivo e dinâmico. Então você tem sempre mutações, transformações. Há troca de valores, e hoje estamos vivendo uma crise de valores. E a discussão central é se os valores que estão sendo propostos para substituírem os já existentes são melhores ou piores. E quando você substitui, se é por um valor melhor, a sociedade avança. Mas se substituir um valor aceitável por um valor que não tenha os mesmo resultados, essa sociedade fica estagnada. E a rede social é um valor novo, um valor que agrega. Essa ferramenta bem utilizada é agregadora, mas dependendo da forma que for usada, pode também ter um efeito desagregador. Ela vai substituir valores, mas também pode substituir por valores que podem não surtir efeitos tão úteis ou progressistas.

O sociólogo defende que essas mudanças nas relações sociais, apesar de terem dado às pessoas o poder de opinar no conforto de casa, tem seu lado positivo e também negativo. “Com essa ferramenta nova das redes sociais na internet, você não precisa sair de casa. Na intimidade do seu quarto você pode lançar todas as ideias que quer implementar ou defender, e recebemos também de outras pessoas. Isso é bom? É, se for bem utilizado é ótimo”, acrescenta.

A viralização da corrente já chegou a outras cidades

Por outro lado, ele frisa que quando as redes sociais são utilizadas para lançar críticas contra uma pessoa ou governo, isso pode afetar negativamente a imagem de uma pessoa pública ou da própria cidade devido a tal viralização. Então, o que vai acontecer com a cidade? Todo o mundo vai achar que Resende é uma porcaria! Quer dizer, essa utilização, ao invés de ser construtiva, acaba sendo destrutiva”, alerta.

Mas a “cria” das últimas 24 horas em Resende e também em outra cidades trouxe mais que o humor e a crítica disfarçada. Trouxe a nostalgia, a saudade de um tempo nem tão distante assim e conseguiu arrancar muitas, gargalhadas, além de trazer informação sobre a geografia humana das cidades que entraram na brincadeira. O BEIRA-RIO com 21 anos em Resende e na região resolveu entrar na brincadeira com a imagem principal, provocando os leitores que muitas vezes só leem as manchetes e não a matéria toda.

Para Caldas, além das brincadeiras, as redes sociais poderia servir de instrumento para cobrar o poder público: “Não seria melhor usar essa ferramenta fazendo-se pressão na autoridade pública?”, conclui.

Fotos: Reprodução/Redes Sociais

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