Cadê a Biblioteca Municipal, dr Diogo?

O governo de Resende anunciou em março o fechamento, por apenas 40 dias, da Biblioteca Municipal Jandyr César Sampaio. Passaram-se os 40 e mais 122 dias e não se ouve falar mais no assunto. Mês de agosto e nem movimentação de novo espaço e acesso ao acervo do município. Há cinco meses o BEIRA-RIO divulgou o fechamento da única Biblioteca Municipal de Resende e a justificativa do novo governo era “economizar” com o aluguel da casa no centro de Resende, onde a Biblioteca funcionava há seis anos. Em nota enviada à imprensa, o atual governo afirmou pela declaração da presidente da Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda, Denise Assis, que a Biblioteca passaria a funcionar na antiga sede da Guarda Mirim, na Praça do Centenário, em 40 dias. Passados cinco meses, apesar do governo ter colocado pra fora do prédio, Guarda Mirim e o grupo AA que funcionavam ali, até hoje não iniciou as reformas. O prédio é muito antigo e precisa de várias adequações.

O acervo da Biblioteca, cerca de 20 mil títulos, foi levado para o antigo Cine Vitória, também abandonado e fechado. O antigo cinema tem problemas de infiltração, além de falta de manutenção na parte elétrica. “Os livros estão lá para os ratos, tudo jogado, uma dor no coração”, comentou uma servidora que pediu para não ser identificada porque disse que teme represálias. No hall do Cine Vitória estão jogadas as estantes e prateleiras da Biblioteca e na frente do palco foram colocados os livros (foto).

Para a professora aposentada Sonia Pozzato fechar a Biblioteca é um crime: “O fechamento de uma sala de aula, de um teatro, de um cinema e, principalmente, de uma Biblioteca, para mim, que dediquei minha vida à Educação e à Cultura, é um crime de ‘lesa pátria’. A leitura deve ser estimulada na infância, para que o indivíduo, desde pequeno, aprenda que ler é algo importante e prazeroso e, assim, com certeza, ele será um adulto culto, dinâmico e capaz de interpretar os diversos fatos que a vida lhe apresentar. Ao analisarmos a história da humanidade, ao longo dos séculos, podemos encontrar diversos exemplos onde os líderes utilizam-se do fechamento de Bibliotecas e da censura de livros para controlar, manipular e influenciar seu povo. Não podemos admitir isso”, diz a professora que faz dois questionamento diante da inércia das autoridades: “Gostaria de perguntar: a Comissão de Educação da Câmara ou os Vereadores já se posicionaram a respeito do fechamento de tão importante instituição? E o Conselho de Cultura o que falou a respeito?

Para o presidente da Associação do Professores do Município, (APMR), professor Milton Borges o fechamento da Biblioteca mostra uma inversão de valores: “Vejo essa situação como vergonhosa, prova de que as prioridades estão invertidas. O governo municipal gasta milhões com cargos comissionados e de gratificação, e além de não reajustar o salário dos servidores deixa a cultura à míngua. Biblioteca é o alimento da alma de um povo, marca da civilização. Pelos livros passam todas as formas de conhecimento, da tecnologia à arte, da filosofia à ciência. Esse descaso vai refletir negativamente agora e na futura geração. Precisamos reagir a isso!”

Na Biblioteca Municipal Jandyr César Sampaio, que funcionava de 8 às 19h, até campeonatos de Xadrez aconteceram entre as estantes de livros, como o Regional do Torneio de Xadrez da Federação de Xadrez do Estado do Rio de Janeiro (Fexerj) em 2013 (foto) e o acesso para a população acontecia até nos fins de semana. “Havia vida na Biblioteca Municipal, sempre passamos dificuldades, mas daí fechar e deixar os livros estragarem é de uma irresponsabilidade atroz”, desabafa a servidora que afirma que seus filhos frequentavam semanalmente o local.

 

E a polêmica compra do governo Rechuan será apurada pelo governo Balieiro Diniz?

No período da reeleição do ex-prefeito José Rechuan (PDT), em 2012, foi realizada uma compra de livros que na época foi considerada um escândalo, pois foram adquiridos títulos que não foram solicitados e de qualidade questionável. Entre o material adquirido estão fascículos de vestibular facilmente encontrados na internet, livretos de tricô e receitas e publicações promocionais. O BEIRA-RIO entrou em contato com a ex-secretária de Educação e o ex-presidente do Instituto de Educação: “Eu queria fazer algumas solicitações, mas não consegui, quando vi os livros já tinham sido comprados”, conta a ex-secretária de Educação, Rosaly Azevedo. Na época, alguns professores se manifestaram pois os títulos não tinham objetivos didático-pedagógicos. A compra, que teria custado mais de R$ 1 milhão, foi feita pelo Educar (Instituto de Educação). O contrato nunca foi colocado no Portal da Transparência. “A compra foi de R$ 600 mil e se não me falta a memória a licitação não solicitava títulos e sim assuntos de interesse da comunidade escolar. Foi verificada sim uma falta de consonância com o objetivo solicitado e entramos em contato com a empresa para efetuar a troca e soube que os títulos foram trocados”, comentou o ex-presidente do Educar, José Marques, que informou que uma semana depois desse episódio solicitou a exoneração do cargo.

Mas os livros ficaram em caixas, armazenados em algumas escolas, não nas bibliotecas, mas em salas trancadas, como do Ciep do São Caetano que até hoje, segundo fontes do BEIRA-RIO, guarda algumas caixas. A foto mostra alguns dos exemplares não solicitados, mas que ficaram no município e muitos não foram distribuídos. O BEIRA-RIO enviou solicitação de informações à Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Resende, mas esta não respondeu até o fechamento desta matéria sobre os livros jogados no Cine Vitória e o fechamento da Biblioteca Municipal.

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.