QUEM PENSA? Vandalismo: a cara do governo Rechuan

A genialidade dos pensadores do governo de Resende, da comunicação com o povo e o elitismo característico da administração da era Rechuan mostram que o prefeito reeleito, cassado e agora, muito desgastado, principalmente por ter priorizado a política eleitoral e não as políticas públicas, continua na contramão das necessidades da população.

Na quinta-feira, dia 23, o prefeito Rechuan convidou a imprensa para uma coletiva para falar do “vandalismo” no município de Resende. Ou seja, é o caos institucionalizado. Um governo que para e resolve fazer uma coletiva para falar de supostos jovens que entram em áreas públicas e que possivelmente destroem o patrimônio, – porque supostos e possivelmente? Porque de fato não têm como provar. É só uma inferência, uma dedução – é porque admite a incompetência para elaborar, aplicar e monitorar as políticas públicas voltadas para este mesmos supostos jovens.

Rechuan deveria era parar junto às 40 secretarias, superintendências e outros órgãos de administração que compõem seu governo para identificar as falhas das políticas de atendimento, em especial das crianças e adolescentes do município. Mas a arrogância desta gestão não permite uma mea culpa. É mais fácil chamar de “vandalismo” o que se apresenta.

Ao contrário, do que talvez, até parte da sociedade concorde, eu não considero vandalismo muitas ações expressadas de maneira menos ortodoxa, diplomáticas, “ordeiras” – vá lá – para chamar atenção das autoridades. Aliás, não encontramos a palavra vandalismo no código penal. O artigo 163 fala de dano. Mas a sociedade de um modo geral, o processo cultural acostumou-se a adjetivar as manifestações sociais de maneira pejorativa e colocar todos num só bolo.

É óbvio que existem bandidos, baderneiros, desocupados. Claro que existem pessoas que fazem isso, inclusive para chamar determinado grupo de “vândalos” ou vitimizar-se diante da situação imputando aos adversários políticos a autoria dos atos de vandalismo. Recentemente na novela “Babilônia”, o prefeito de Jatobá coloca fogo na rodoviária da cidade para justificar uma intenção vil, de nítida corrupção. Isso não acontece apenas em novelas. Todos sabemos.

Uma cidade que não é tão grande assim, com um orçamento significativo ou seja, tem dinheiro, uma máquina com quase seis mil servidores, entre eles 1/3 de cargos comissionados é realmente de preocupar quando facções criminosas ganham espaço geográfico ainda que a cidade tenha um batalhão da PM. Realmente preocupa quando o prefeito investe em ações cartoriais para ganhar o título de “prefeito amigo da criança” e ainda assim ter um número assustador de novas crianças e adolescentes ingressando, por exemplo, no mundo do álcool e outras drogas. A Votorantim há três anos disponibilizou uma verba para o fundo municipal da criança e do adolescente de Resende para fazer um diagnóstico da situação de risco destes, mas pergunta onde está o resultado deste trabalho. Pergunta: onde e como foi empregado este dinheiro? Se fizeram, fizeram de qualquer jeito, sem atender a concepção do projeto e, até hoje, não deram publicidade aos resultados e muito menos  aos instrumentos e ações que deveriam ser objeto deste diagnóstico em atendimento às demandas verificadas.

É mais fácil jogar para a plateia e anunciar uma campanha midiática. Usar as redes sociais e anunciar “Resende sem vandalismo”. O “vandalismo” de Resende é promovido, em primeiro lugar, pelo próprio governo, por uma equipe completamente desconectada da realidade social do município. Por pessoas com uma visão rasa dos problemas sociais e ainda, com pré-julgamentos típicos dos amadores, despreparados para tratarem de assuntos que envolvem comportamento, mas acima de tudo pela falta de planejamento e continuidade de políticas públicas que atendam os supostos candidatos ao vandalismo. Li num grupo do Facebook, uma internauta que disse: “Como ja falei concordo que existem pessoas sem educação que cometem vandalismo e destroem bens públicos prejudicando toda a população e não é por isso que EU, como vários outros cidadãos que pagamos nossos impostos, temos que pagar por esses atos. A Prefeitura tem obrigação de zelar por locais de sua administração”. É isso.

E mais, tem a obrigação de evitar que jovens (supostos vândalos) vivam na ociosidade. Tem a obrigação de implementar ações que reduzam os riscos das crianças e adolescentes caírem nas drogas e na criminalidade. Tem a obrigação de manter políticas públicas de assistências às famílias disfuncionais.

Só uma campanha em redes sociais sem admitir as falhas da administração e pior ainda, deixar nas entrelinhas certa animosidade disfarçada de “combate ao vandalismo” “denuncie”, em tempos de barbárie urbana podemos chegar às raias das violações dos direitos humanos. O assunto tem que ser tratado sob a ótica social e não de denúncia. As denúncias já são feitas, quando a população sente segurança para fazê-la.

Cadê as câmeras que devem monitorar 24 horas a cidade? Porque não funcionam para um flagrante de dano ao patrimônio Cadê os vigias ou guardas municipais nas escolas e postos de saúde para evitar invasões e quebradeiras? Me ocorreu, que a coletiva e a “preocupação” do governo Rechuan com o patrimônio público podem ser apenas uma cortina de fumaça para quem sabe, uma licitação milionária de novas câmeras de monitoramento para a cidade que vem por aí.

Eu apoio a campanha, se o governo admitir que tem falhado e que o prefeito, “prefeito amigo da criança”, abre mão deste título enquanto jovens estiverem morrendo na cidade por conta da violência, brigas às portas das escolas, cada vez mais jovens dependentes de álcool e outras drogas e entender que não é medida com 190 que se resolve isso. O que vem acontecendo na cidade, a destruição do patrimônio público e privado não é apenas caso de Polícia. É muito mais um problema social, de educação, de cultura e lazer. Aaa sim, e publique com transparência o edital e processo da licitação das novas câmeras que virão por aí.

Enquanto o prefeito e deputada suplente ficarem zumbando nos parques na cidade ao invés de percorrer os bairros de periferia que se encontram sem acesso aos seus direitos básicos como vaga em creches, consultas, exames e remédios, transporte digno, área de lazer e acima de tudo respeito ao cidadão. Pode fazer a campanha que quiser porque não surtirá efeito. Os gênios que bolaram a campanha provavelmente não ouviram psicólogos, sociólogos e pessoas familiarizadas com comportamento juvenil, talvez porque a intenção não seja essa.

Só para contribuir um pouco mais: “O termo vandalismo tem sua origem na História Antiga e refere-se diretamente a um dos povos que invadiram o Império Romano, já na época enfraquecido. Estes grupos eram considerados, do ponto de vista da Roma dos Césares, como bárbaros, pois não possuíam a cultura desenvolvida por esta potência. Os vândalos eram de procedência germânica e por diversas vezes se espalharam pela Europa, até encontrarem um refúgio em Cartago, no norte da África. Em um determinado momento, porém, eles decidiram entrar em Roma e lá realizaram saques por pelo menos duas semanas. A versão romana foi preservada ao longo do tempo, e assim até hoje ‘vândalo’ é sinônimo de SAQUEADOR (grifo nosso). Assim sendo, o vandalismo é uma atitude ou um modo de expressão que tem como objetivo tentar destruir uma determinada cultura e sua arte, bem como o patrimônio alheio. Geralmente é um caminho trilhado por jovens que não encontram outra forma de canalizar sua energia e sua agressividade. Há vários exemplos de vândalos que, ao encontrarem apoio para despertar dentro de si o potencial artístico que nele habita, e então desenvolvê-lo da melhor maneira possível, abandonam as atitudes agressivas e tornam-se, por exemplo, grafiteiros, uma vez que o grafite é uma forma de arte”. Fonte: Infoescola.

Mas existem outras fontes mais sociológicas e antropológicas, caso tenham de fato interesse no assunto. E volto a lembrar: ninguém é favor de depredação do patrimônio público ou privado, porque ambos têm sido atingidos nos últimos tempos, e quando eles acontecem, as providências precisam ser tomadas no âmbito legal de apuração e punição dentro do que prevê a lei, mas insisto, precisamos de gestores que deixem de ações midiáticas e punitivas e ajam com olhar e interesse sociais.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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