QUEM PENSA? Intervenção urbana institucionalizada em Resende!

O caráter inusitado e crítico das intervenções urbanas – até isso – ganha um novo caráter no município de Resende. Difícil avaliar se os resultados serão positivos ou negativos, mas o fato que as carinhas, pegadinhas e patinhas ganharam mais do que a atenção dos motoristas, ciclistas e pedestres, ratificaram que a regulação de trânsito ficou mesmo entregue à verve artística do secretário de Urbanismo, Ton Kneip do que as normas do Código de Trânsito. Ton me parece mais que um artista. É inteligente e também político. A intervenção urbana promovida e institucionalizada pelo próprio governo traz um marketing que busca amenizar o flagrante desgaste do governo Rechuan.

A intervenção urbana – a arte nos espaços públicos –  sempre têm caráter crítico, chamando atenção para a falta de organização, o descontrole, a sujeira, o mau-cheiro, o abandono das vias e bairros. Essa arte é expressa no asfalto ou nas paredes e/ou outros espaços públicos para denunciar a cidade caótica, o trânsito insuportável e claro, chamar atenção das autoridades promotoras do desatino urbano. Mas se a intervenção é promovida pelas próprias autoridades e sabemos que Ton é o secretário de Urbanismo e não ombusdman do governo Rechuan, parece preocupante a desconstrução do movimento da intervenção enquanto “protesto”, enquanto sinalização à reação. Em especial, porque não vi qualquer movimento ou coletivo artístico se manifestando contra ou a favor das intervenções e isso considero grave, pois onde estão os artistas da cidade e região? Ou será que para eles, a ação promovida pelo governo é indiferente? Às vésperas de realização da Conferência Municipal de Cultura de Resende (serão dias 13 e 14 de novembro)?

As pesquisas frequentes promovidas pelo governo municipal mostram a irritação e mais, a decepção de boa parte dos eleitores de Rechuan com os rumos da organização da cidade, sem falar no desabastecimento de serviços e desmonte das conquistas dos últimos anos, assim como a economia em declínio, já que quase oito anos não serviram para incremento de receita própria e segurança dos cidadãos-consumidores, e sem esquecer o exército de cargos comissionados que compromete as contas da Administração, mas sem o qual, a vida política de Rechuan estaria muito pior, e por isso tudo,  a sacada do “bom humor” ou melhor, a estratégia de marketing político do governo é uma saída para o fôlego que precisa até o final de 2015. Para 2016, já estão pensando em algo mais, digamos, impactante.

Por outro lado, a intervenção urbana foi legitimada na cidade, chancelada como, algo que sai do temporário, do pontual e, que, me parece, poderá atender a todo e qualquer cidadão que sentir necessidade de se manifestar. Nesse caso, também esperamos a definição bem humorada da população e do próprio governo. Do contrário, estará clara a estratégia, a partir das manifestações e difusões da arte, Walter Benjamin, depois de 75 anos, deve estar se revirando no túmulo. O alemão, importante pensador da Teoria Crítica aprovaria a intervenção sem dúvida, mas não sua intenção.

Deixar de seguir as mormas de sinalização do Código Nacional de Trânsito, num ambiente confuso e permanentemente em mudança, como é o caso de Resende pode até nem ser de todo ruim, uma vez que o foco deixe de ser o caos em si (que é o que os desenhos tentam), para mostrar as tentativas, o laboratório que as ruas do município se transformaram (o que de fato se mostra). Tem coisas boas (como a tentativa de criar espaço para os ciclistas), mas tem muita coisa que retrata a estupidez, a falta de competência e de habilidades de quem gerencia esse setor na cidade.

O designer Rogério Vandraga, administrador do maior grupo do Facebook de Resende, com mais de 20 mil membros, ao comentar as últimas intervenções do arquiteto Kneip disparou: “Não há nada mais libertador do que o reconhecimento de um erro” e mais: “a Intervenção Urbana é um tipo de arte que busca uma religação afetiva com os espaços DEGRADADOS ou ABANDONADOS da cidade… Acho que finalmente o artista Ton Keip entendeu que nossa cidade e sua própria passarela está de fato ABANDONADA. Parabéns!!!”

É isso!

Ana Lúcia
editora do
jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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