Há duas semanas fiz um post no Facebook falando sobre como os interesses eleitorais no governo do prefeito cassado José Rechuan se articulam até mesmo para queimar o filme de um secretário do próprio governo. No caso, o secretário é o da pasta da Saúde, Daniel Brito. O artigo dessa semana foi planejado e abordagem inicial seria a epidemia de dengue na cidade de Resende. E de certa forma ainda é, mas me preparando para escrevê-lo, às véspera do fechamento da edição – é sempre assim – um assunto chegou a mim e não me causou surpresa saber que o secretário de Saúde fez sua carta de demissão com intenção de entregá-la na manhã do dia 15. Digo que não causou surpresa, exatamente por conta do comentário que fiz no dia 7 de janeiro que agora segue:
Tem alguma coisa aí: uma avalanche de reclamações na área da Saúde em Resende está dominando as redes sociais. Vou falar o que penso, a partir das informações que consegui verificar, principalmente pelo tipo de reclamações que estão aparecendo. Dr Daniel Brito Pereira deve estar aproveitando janeiro para poucos dias de descanso, mas ainda assim, atento, tem tentado responder as demandas. Há quem diga, ou melhor, afirme, que tanta reclamação é uma estratégia para queimar o filme do secretário, já que para Rechuan interessa, neste momento, fazer novas alianças. Acho que nem precisa citar nomes de possíveis candidatos. Estou errada? Ótimo. Espero que sim, mas com a notícia anterior do que aparenta ser uma intervenção do PSB para deixar de lado os incômodos, não duvido de nada. Longe de mim, ser confundida como defensora incondicional do secretário Brito, ele mesmo sabe como discordo de muitas ações do governo, mas como presidente do Conselho Municipal de Saúde não posso me furtar a comentar o que tenho percebido e me informado. E se for essa a estratégia do governo, ainda que não admitam é claro, vou defender sim. Não podemos admitir que a política eleitoreira esteja acima da Saúde ou de qualquer outra pasta do governo. Se isso é verdade, Rechuan está passando dos limites.
Pois bem… ainda não há uma confirmação oficial, mas há quem garanta que o secretário inclusive, ensaiou uma despedida em forma de agradecimentos aos seus colaboradores mais próximos, na noite de quarta-feira. Tentei que o secretário confirmasse a informação, mas até o término dessas linhas não tive sucesso. Não é a primeira vez que dr Brito pede demissão do governo Rechuan: a primeira vez foi numa crise sobre uso do dinheiro da saúde, que a pasta das Finanças queria lançar mão para pagamento da folha da UPA. Na ocasião, a então diretora do Hospital de Emergência, Nicole Sterblitch tirou a carta de demissão da mesa do prefeito e conversando com o secretário conseguiu reverter a situação. Desta vez, os interesses do prefeito já não são pela manutenção do secretário, pelo contrário, não esconde de ninguém que já negocia sua sucessão com pelo menos dois nomes e um deles, do também médico Diogo Balieiro, que há pouco dias assumiu a direção clínica do Hospital de Emergência. Talvez não tenha quem pegue a carta de
demissão, mas com certeza vai causar um mal-estar na Saúde. Boa parte dos colaboradores do secretário acreditam em seu trabalho e concordam com suas ações, outros no entanto, que despacham diretamente com Rechuan talvez fiquem satisfeitos com a saída do secretário.
Com certeza, se confirmada a entrega do cargo, a Dengue será protagonista na ação. Alguém já falou: “Eita mosquito danado esse hein? Derrubando até secretário”, mas o mosquito na verdade já vem zunindo há muito tempo na Saúde e não é apenas a Dengue que ele tem causado não, mas será o mosquito-bode expiatório mais apropriado para atender os interesses das artimanhas eleitoreiras de Rechuan. A possível saída de Brito da Saúde ou mesmo essa instabilidade que já vem há alguns meses no governo, começa a revelar que Rechuan deixou de priorizar o município para tentar salvar sua própria cabeça. Do contrário, ampliaria a força da Secretaria de Saúde num momento como este e não reduziria sua potencialidade tanto de ação quanto de reação aos problemas. No caso, relação à epidemia que se alastra na cidade e em especial, na Grande Alegria. Este não era o momento para este assunto (saída do secretário), mas sim para investimentos e reforço no plano de contingência de combate à Dengue.
A crise na Saúde já havia sido anunciada e não é diferente de outras pastas do governo do prefeito que fez da Administração Pública trampolim para seu projeto de poder. A não atualização do piso do vigilante sanitário que há meses reivindica seu direito, o recente atraso no pagamento do pessoal da Cruz Vermelha, o não-repasse integral do PMAQ e ameaças de corte do incentivo, a falta de remédios nas unidades, a questão das horas extras do Hospital de Emergência e dos vigilantes sanitários, a falta do incentivo financeiro à área da enfermagem do Hospital de Emergência e o desinteresse do governo em priorizar a Saúde, são apenas algumas questões de dentro do próprio governo, sem falar nas insatisfações dos usuários e o mau atendimento, características de algumas unidades que colaboram muito para o desgaste não apenas do secretário, mas da própria pasta. E mais o mosquito. Pronto. Ficou bom pra alguém. Para quem, ainda não sabemos. Para o povo é que temos certeza que não é. Nunca é.
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

