Sei que muitas pessoas me consideram muito irônica, talvez eu seja – um pouquinho – mesmo, mas tem uma explicação, acredito. Minha ironia, além das características relativas à brasileirice e às raízes carioca, se dá também por indignação. Um tipo de válvula de escape para evitar os sentimentos ruins sabe? Melhor irônica do que indiferente ou num outro extremo, violenta. Claro que me refiro às questões públicas, aos políticos, aos governantes, aos vereadores, às autoridades que têm função pública e por isto deveriam ter noção de suas responsabilidades, o que todos sabemos, pode parte não tem.
Claro que minha ironia não chega a ser tão cruel como o da equipe do CQC, mas tem seus resultados, principalmente para mim mesma que consigo, com ela, desopilar o fígado. Sim. Quando o assunto é política e dinheiro público o estômago embrulha, o fígado fica mal e de alguma forma temos que blindar a desfaçatez dos poderosos que insiste em fazer parte da nossa rotina.
Ando assustada com a certeza que o governo municipal de Resende e outros por aí, parecem ter de que suas ações (as ruins, é claro) estarão incólumes de punição e, a seu tempo, da indignação popular. Falo de indignação mesmo, não de reclamações aqui e acolá. Isto todo mundo faz, nas esquinas, nas redes sociais, no bate-papo. Falo de indignação quando se é atingido de fato, prejudicado, vilipendiado em seus direitos.
A indignação que move a união dos grupos e leva às ações que responsabilizem os governos pelo mal-estar, que somos obrigados a passar por incompetência, negligência ou má-fé. A questão do abuso de um prestador de serviço público como tem sido o caso da Locanty em Resende e em Itatiaia, por exemplo, demonstra até onde chegam os prefeitos do alto de suas certezas de impunidade no trato irresponsável com a coisa pública.
Primeiro por terem, ao longo do contrato da empresa, responsável pela coleta de lixo doméstico nas cidades, não terem tomados medidas enérgicas nas falhas que apresentaram e apresentaram; depois por não terem mantido um departamento competente para fiscalizar o trabalho da prestadora de serviço e evitar o caos que se instalou. Caos sim. Do contrário, não justifica contratação emergencial como fez Resende recentemente. Os contratos emergenciais só podem ser feitos diante da emergência dos fatos – a redundância aqui se faz necessária -, diante da crise. Ou seja, o governo do prefeito José Rechuan, no poder há quatro anos, não teve competência para evitar que a população que o reelegeu passasse pelo que está passando. E tudo que se viu foram notificações à empresa que simplesmente parou de funcionar às véspera do término de seu contrato, mas ainda não demitiu ninguém. Continua instalada no mesmo lugar e tem a mesma prática no município de Itatiaia. Porto Real, também atendida pela empresa parece tem tido menos prejuízo.
Resultado: em Resende, Rechuan faz um contrato de R$ 2 milhões por seis meses com uma empresa que também tem histórico de problemas nas cidades em que atuou e com duas semanas atuando no município já tem caminhão quebrando e não consegue cobrir todos os bairros, precisando ainda dos caminhões e outros prestadores de serviço da Prefeitura. O que é isso? Está testando a paciência do munícipe, que tem pago contas altíssimas para estas prestadoras e/ou concessionárias que a todo momento parecem ditar as regras? Quem tem o poder concedente?
Por que esse governo não fez a licitação? E porque uma licitação demorará cerca de seis meses para ser realizada? Muitas perguntas que o governo não responde. O problema do lixo foi só um exemplo. Existem outras questões, muito sérias, que têm demonstrado, até certo despreparo do governo para gerir (espero que seja despreparo mesmo). A questão da construção civil e instalações de novas empresas no município também têm se apresentado, na minha opinião, como temerosas para o futuro da cidade.
Ou começamos realmente a nos mobilizar para acompanhar, fiscalizar e colaborar ou amargaremos no futuro (que apenas começou) resultados mais dolorosos do que já passamos no momento. Não é por falta de exemplo: temos visto várias cidades desmoronando, literalmente, por conta da incompetência, negligência ou má-fé de seus governantes. Resende, Itatiaia e outros municípios da região têm condições de terem destaque nacional não apenas por suas indústrias e renda per capita, mas também por administrações sérias, transparentes e comprometidas com a lei, porque o temos assistido é um rasgar das leis de arrepiar os cabelos, não à toa, o prefeito de Resende está encalacrado com a Justiça. No início desse janeiro teve a confirmação de seus bens bloqueados mais uma vez por conta dos contratos irregulares de publicidade e agora terá que apresentar a relação de todos os seus bens para a Justiça, os ofícios já foram expedidos.
Dizem que a Justiça é lenta, talvez seja mesmo diante de nossa percepção imediata e pouco afeita às formalidades, mas ela precisa ser certeira, acertada. Poderia ser mais veloz é verdade. E não nos enganemos, a Justiça que queremos só acontece e acontecerá se estivermos juntos participando. É assim que acontece.
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
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