Às vezes a convivência e o diálogo ficam impossíveis em tempos de intolerância, e tantas razões individuais, ao mesmo tempo tenho a sensação de que essa evolução, sim é sem dúvida uma evolução, ainda tenho dúvida se positiva ou negativa, exige um exercício de reconhecimento de nós mesmos muito desafiador. Parece que a influência de marte neste ano de 2015, cujo ciclo é do Sol, sobre o planeta Terra não veio para brincar. A pressão para que questionemos ética, moral e justiça predominam praticamente em todas as áreas. No Brasil, a concentração dessa pressão poderia se dar sobre a injustiça social flagrantemente ainda notada entre as regiões dessa imensa terra; a concentração e questionamentos poderiam focar nossa própria formação ética e os comportamentos ou em outras muitas formas de relações, mas o calendário político canalizou as atenções para o primeiro ano de reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Até seria compreensível, num primeiro momento, o trabalho político da oposição, mas ficou clara a exacerbação desta oposição apoiada pelos grupos midiáticos que também desesperados com o projeto de democratização da Comunicação no país fizeram logo de cara seu roteiro implacável de ataque à presidenta e ao PT.
O que mais preocupa é que essa pressão atingiu os mais profundos sentimentos ou seja, a disposição afetiva em relação às coisas de ordem moral e/ou intelectual do campo político-partidário. Só que um sentimento seletivo para parte da população brasileira. Aquela parte que se deixa influenciar pelo discurso midiático e pelas paixões. Falta sensatez. E a ausência de bom senso na avaliação e equilíbrio político permite as reações mais ignóbeis como o ódio em especial ao Partido dos Trabalhadores e dele quem faz parte.
Sou petista e não pertenço a qualquer quadrilha, e independente de partido, falaria do mesmo jeito sobre o que considero abjeto, pois como considerar normal a “indignação” dos que criticam o PT e o governo Dilma jogando panfletos ofensivos e desejando a morte de todos durante o velório de uma pessoa? O que aconteceu no velório e sepultamento, em Belo Horizonte, do ex-senador da República José Eduardo Dutra, dia 5, que morreu de câncer, demonstra o revolver desses sentimentos que afloram na sua forma mais cruel. “Petista bom é petista morto” diziam os panfletos numa total assincronia aos sentimentos daquele momento. Ou percebemos o que anda de errado ou todos, petistas e não-petistas serão vítimas dessa onda de ódio. Podemos até colocar a culpa em marte e acho mesmo que o planeta vermelho tem sua responsabilidade nessa conjunção, mas somos serem ainda providos de inteligência e também de sentimentos mais nobres que a indignação seletiva. Se esse exercício, de revisão destes sentimentos e do que consideramos verdade, for feito, não tenho dúvidas que teremos discernimento o suficiente não apenas para absorver, mas para integrar efetivamente os movimentos de garantia dos direitos democráticos tão ameaçados num clima mais amistoso. Do jeito que está, é osso!
Sou petista porque minha educação e formação políticas se deram neste partido. Nele também aprendi a participar da vida política, a tentar construir as políticas públicas igualitárias a todos e a todas. No PT encontrei trabalhadores, intelectuais, pensadores, sonhadores, injustiçados sociais, gente que me senti próxima, gente inquieta, mas sempre com um olhar no coletivo. O PT não é perfeito e nunca será. É composto por pessoas e em todos os lugares existem pessoas com boas e com más intenções, o que não podemos é colocar todo mundo no mesmo balaio e desrespeitar, ofender, agredir. Hoje, os órgãos atuam independentes, as instâncias são respeitadas e vemos como nunca Ministério Público e Polícia Federal levando às conclusões suas investigações. O PT como qualquer outro partido tem limitações e também erra. Errou muito quando se afastou de sua base política, das ruas e de seu princípio socialista para tentar um mix com o cenário capitalista mundial. Sempre acreditei que uma vela só não dá pra dividir entre Deus e o diabo. Agora, erros de alguns integrantes do Partido dos Trabalhadores não servem e nunca servirão de explicação para essa histeria seletiva e odiosa que temos visto e mesmo sobre a influência das forças cósmicas de marte que é o quarto planeta (quarto mandato do governo do PT) em ordem de afastamento do Sol e é o que apresenta mais semelhanças com a Terra (povo). Na mitologia é o deus da guerra, dos enfrentamentos. Vamos ter que passar por isso, mas podemos – só nós podemos – reduzir o número de arranhões, assim como substituir o ódio pela razão, pelo diálogo, pelo discernimento. É assim que penso.
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
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