Acabou o ano de 2012, as próximas semanas são para confraternizações, gastar dinheiro em lojas cheias (os comerciantes agradecem), pensar em comida, roupas, organizar a viagem pós-festas, acertar os últimos detalhes do réveillon e até já ouvir sobre Carnaval 2013. Todo ano é assim mesmo, o fim do ano vai num piscar de olhos. A imprensa quase sempre pauta as mesmas matérias sobre comércio, presentes, comidas, simpatias de fim de ano e dicas para viagens. Nada de novo na agenda tradicional. Ou quase. A chamada grande mídia anda tentando, depois de tantos anos de moldagem, fazer com que o brasileiro se interessem, exatamente no fim do ano, por um único assunto: “a culpa do ex-presidente Lula no mensalão”. É preciso uma análise um pouco mais cuidadosa sobre a intenção, que acredito tenham as empresas de comunicação (as poderosas) neste tema.
É óbvio que parte das empresas de comunicação do Brasil que sempre foram dirigidas por pessoas acostumadas ao poder, à proximidade das decisões no país ficassem muito insatisfeitas com um metalúrgico, pobre, sem um dedo, com pouca formação escolar chegar a presidente do país. Essa rejeição da chamada elite perdida da era Lula é flagrante. Mas Lula foi presidente. Duas vezes. Fez sua sucessora e ainda tem muito poder. Poder que ele mesmo se enrolou, porque não há dúvida que ele como dirigente do PT e do país se quisesse poderia ter impedido esse mar de lama que algumas pessoas promoveram arrastando o partido. Podia, mas não fez nada. Não à toa são as piadas “não sei de nada”.
Mas é preciso um mínimo de discernimento para entender o papel da imprensa enquanto fiscalizadora dos atos e de promover denúncia e uma campanha deliberada com foco exclusivo aparentemente numa pessoa. Pois é isso que temos visto. Globo e Veja resolveram atacar sem trégua o ex-presidente Lula. Uma coisa é investigar e denunciar, a outra é promover uma campanha que diariamente tenta convencer a sociedade que a corrupção é uma invenção do Lula e do PT. Que denunciem as práticas de todos os partidos e lamento que toda essa dedicação e empenho jornalístico não tenha acontecido em outros governos, como o de FHC que promoveu a entrega do patrimônio brasileiro. Na época, a imprensa não mostrou o prejuízo do Estado, os subsídios incentivadores da privatização. Pena.
Mas o ataque ao Lula, penso eu, tem outro alvo: o Marco Regulatório de Comunicação. O que é isso? É um conjunto de normas, leis e diretrizes que regulam o funcionamento dos setores nos quais empresas privadas prestam serviço de utilidade pública, tal como existem para o transporte, petróleo, energia e telefonia. Por que as empresas que têm concessão pública estão tão resistentes ao controle social, um direito nosso? E depois, Dilma é a presidente, mas é Lula a figura ameaçadora para parte das empresas de comunicação nesse país. Este assunto merece reflexão, pesquisa, comparações e informação de todos os lados. Como profissional de comunicação não tenho dúvidas, que os veículos que exploram um serviço, graças a uma concessão pública precisam sim ser regulamentados e o assunto deve ser debatido pela sociedade. Isso nada tem a ver com censura. Censura é o pano de fundo que os donos de empresas de comunicação usam para desqualificar a discussão e reduzir o debate que a sociedade precisa fazer.
Esse assunto voltará a ser debatido pelo BEIRA-RIO em 2013. Há muito o que entender e falar sobre controle social e regulamentação dos serviços prestados por concessionárias. Agora, aos 45 do segundo tempo, só fica mesmo o registro que faço sobre a inserção na agenda das pautas de festas de fim de ano de parte da imprensa brasileira que atira em Lula e tenta acertar o engavetamento do Marco Regulatório.
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

