QUEM PENSA? Corrupção? Onde?

Em tempos de corrupção na Petrobras, ainda que a grande mídia queira colocar o PT como o criador da corrupção no mundo, ficou claro todo o esquema de corrupção promovido pelas empreiteiras, mas me parece que nem a prisão de alguns poderosos apontados, com algumas provas, pela Polícia Federal diminui a sanha daqueles (e aí também estão os políticos) que consideram a corrupção o caminho mais fácil para atingir seus interesses financeiros e de poder.

Sobre a Petrobras, além da corrupção há o interesse claro em desmantelar a empresa e não falo de partidos políticos. Me refiro à concorrência mesmo. Tanto que o pedido de default (uma maneira de fazer a empresa antecipar a abertura da contabilidade como garantia de contratos) vem de empresas especuladoras norte-americanas. E aqui, no Brasil, encontram força da grande mídia que pouco ou nada esclarecem sobre esta situação.

Não é a queda das ações da Petrobras e a ameaça de default que este artigo quer tratar, mas a ideia de que a empresa saia fortalecida dessa crise que se inicia com a corrupção envolvendo empreiteiros e políticos. Ainda que as informações que nos chegam sejam distorcidas e, lamentavelmente, as pessoas buscam pouco – se buscam – a pesquisa de dados e outras informações é importante para o país remexer esse lodo provocado por essa ganância. Essa semana a série Felizes para sempre? Da TV Globo num diálogo entre empreiteiros desonestos traz: “MP e Polícia Federal em cima. Essa farra vai acabar” no que o outro responde: “Então vamos aproveitar enquanto não acaba”.

É impressionante e não é apenas ficção o quanto tem gente, no nosso entorno, querendo se dar bem e o quanto debocham da roubalheira promovida as custas do dinheiro público. Uma indecência, uma imoralidade que encontramos nos pequenos atos, no dia a dia, inclusive daqueles que apesar de toda a crise que estamos passando com relação à falta d´água ou a dengue na cidade de Resende, por exemplo, agem de má-fé, desperdiçando água ou vendo locais que podem gerar proliferação de mosquitos e ignorando a situação. Sem contar aqueles que considerem muito normal estacionar nas vagas de idosos ou de deficientes físicos, sem a prerrogativa para tal. São tantos os exemplos…

Fico impressionada de ver como empresários ainda acreditam que tudo tem que ter “jeitinho”. Conheço uma dúzia de centena que adora apontar o dedo para o governo federal quando o assunto é corrupção, mas que ainda não tem o hábito de dar o cupom fiscal de suas vendas, quando não encontramos aqueles que ainda dificultam, o cliente quando pede a nota, fica de lado no balcão aguardando que outro funcionário pegue bloco (ainda existem lojas com blocos impressos de nota) ou venha tirar o cupom, direito do consumidor e dever do empresário.

Os empreiteiros se organizam, em alguns lugares, formam verdadeiras quadrilhas especialistas em meter a mão nos cofres públicos, tratam os políticos como vermes. É até engraçado. Fico me perguntando qual a categoria de acelomados que os empresários imaginam pertencer, porque se consideram numa categoria acima dos “vermes políticos”. Consideram-se “patrões” em algumas situações e claro posam de vítima. Este é o jogo. O político corrupto, acha que se ele não aceitar alguém aceitará, então antes ele do que o vizinho. E depois um uísque 18 anos, um passeio de lancha, a viagem internacional fora de temporada e claro, ter mulheres ou homens à disposição fazem o drama de consciência se dissolver rapidamente. Alguns nem passam mais por qualquer forma de constrangimento, mesmo naqueles momentos que negam tudo diante às câmeras ou nos depoimentos de CPI ou Polícia.

Como disse anteriormente, sou otimista e acredito que o mexer e remexer no lodo da corrupção revelando atos, pessoas e seus preços é melhor do que não termos acesso algum aos fatos, só chamo atenção para a necessidade de buscarmos mais informações em fontes diversas. Hoje, quando denunciamos os abusos do poder público de Resende, por exemplo, é fácil constatar através dos mecanismos legais que os governos estão submetidos, entre eles, a transparência de informações aos órgãos federais (grande conquista pela transparência nos últimos anos). Em Resende, temos muitas dificuldades com os dados públicos porque o governo insiste em não cumprir a Lei de Acesso a Informação em atualizar dados e colocar documentos em formatos abertos, além de omitir vários documentos do Portal da “Transparência” do governo municipal. Mas seja no âmbito federal, seja no âmbito municipal, buscar complementar as informações é sempre fundamental para percebermos que a tal corrupção que aparece como exclusividade de quem a grande mídia nomeia como protagonista pode estar bem mais perto do que imaginamos e pior, que nos negamos a enxergar e pior ainda, de fazer alguma coisa para mudar.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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