Ainda que o descarrilamento dos vagões do metrô na Rússia, que o Brics mostre a força do Brasil, que moradores de uma cidade baiana tenham reduzido a Polícia a cinzas e que a Alemanha nada tem a ver com o Flamengo e, todos sejam assuntos que mereçam destaque a qualquer tempo, o assunto desta coluna essa semana não poderia ser outro que não a queda política do prefeito de Resende, José Rechuan Júnior (PP) e do vice, Noel de Oliveira (PDT). Ainda que os prognósticos indiquem, a exemplo de outros municípios, que o prefeito e vice se manterão possivelmente até o final do mandato ou por longos meses, na batalha de recursos que ainda está por vir, o fato é que não podia ter pior hora para sair a cassação do prefeito Rechuan que até o momento apresentava uma hegemonia díspar na política resendense. Explico: a forma que o governo Rechuan atraiu, envolveu e comprometeu vários segmentos do município, não apenas os políticos, mas principalmente os econômicos o deixam tão exposto que um gatilho, e de grosso calibre como este da cassação pelo Tribunal Regional Eleitoral vai fazer transparecer os interesses diversos que foram antes sufocados por um projeto de poder, cujo maior beneficiário seria, principalmente, o próprio Rechuan.
Mas como dizem no popular, “a casa caiu”, e o pior momento que me referi é porque diferente dos prefeitos das cidades vizinhas, que tiveram também os mandatos cassados, mas até hoje recorrem para se manter no poder, Rechuan terá dificuldades em pedir ajuda a seus possíveis padrinhos políticos e por um motivo óbvio: ano eleitoral. Agora quem pede ajuda são os candidatos deste ano e pedem aos prefeitos que foram ajudados até este momento, e não apenas em seus processos na Justiça, seja com orientação dos mais experientes – sarcasmo claro – ou com influência nos meios jurídicos mas principalmente, com o apoio para manutenção da hegemonia que se estabelece – infelizmente – em vários municípios.
Imagina, se por exemplo o senador Donelles (PP), possível força dos prefeitos do seu partido e agora candidato a vice governador no Rio de Janeiro vai empenhar forças para ajudar, nesse momento, prefeito cassado. A prioridade é outra. E político que é político sabe que muitas vezes são necessárias escolhas, ainda que signifiquem rompimentos de alianças ou coisa semelhante. Rechuan tem ainda que escolher onde também vai direcionar suas forças: se joga suas forças para se manter prefeito e reverter a cassação ou se faz campanha de sua candidata para o parlamento estadual.
Não à toa, o prefeito se reuniu com os vereadores essa semana e tenta lembrar que o momento é de provar quem está com ele, porque do contrário ele entende que estará contra ele. Joga suas penúltimas fichas, porque as últimas sempre ficam reservadas para o que já parece e, quase sempre é, irreversível. Não só os vereadores precisam demonstrar “fidelidade”, mas também os empresários que acreditam no governo Rechuan. Devem ter motivos para isso, ainda que a Justiça Eleitoral nesse momento diz que ele não poderia ter sido eleito. Porque de fato, é isso que diz a cassação. A reeleição de Rechuan foi um equívoco! Pelo menos, pra mim, isto está muito claro.
Para os 46.317 eleitores que votaram nele compreender isso, me parece, começou muito antes da cassação. Algumas ações do segundo governo Rechuan já demonstram que o eleitor tem muitas razões para a cada eleição odiar uns e amar outros. Considero eleitor todo o morador da cidade apto a votar e isso merece uma reflexão pois os eleitores (21.334) que não votaram em Rechuan e os 8.309 que anularam ou preferiram deixar em branco e ainda, os 15.766 eleitores que simplesmente nem apareceram para votar demonstram que muito diferente do que as propagandas do governo Rechuan tentam impregnar no inconsciente coletivo, deram outro recado aos políticos e ao governo Rechuan. Foram 45.409 moradores/eleitores de Resende que fizeram outra escolha ou nenhuma escolha. Sim, são os votos válidos que contam e neles Rechuan teve mais de 60%, mas isso nunca significou um cheque em branco, muito pelo contrário, talvez se esses eleitores participassem um pouco mais da vida política do município não teríamos um prefeito com tantos processos nas costas e agora, cassado. Talvez.
Muita gente, principalmente os que defendem cegamente o governo, inclusive suas ações equivocadas não acreditava que Rechuan sequer passasse por este desgaste político. Essa possibilidade não passou pela cabeça dos séquitos. Pois é… eles não acreditavam! E agora, o resultado é um desequilíbrio no governo e com isso, é a população que pouco participou do antes e do pós-eleição que será chamada a voltar às urnas para uma eleição municipal suplementar e também a refletir sobre o que está acontecendo com a cidade que, nunca antes em sua história, teve registro de um prefeito cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral. Recomendo a leitura da matéria na página 11.
Quem acompanha minhas observações nesta coluna há alguns anos, já leu em outros momentos minhas críticas ao governo Rechuan por fazer escolhas que sepultem a transparência da coisa pública ou pior, insistir em irregularidades denunciadas. Essas críticas não foram apenas nas páginas do BEIRA-RIO, mas também feitas por vários cidadãos que querem ver o melhor para a cidade de Resende. Sem eco, infelizmente.
Eu avisei. Não avisei?!
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

