Tudo como um ano novo!
Dieta, economia, relax, paciência, tolerância e outras tantas promessas que a cada ano novo viram um estímulo para a maioria das pessoas também estão na minha relação de viradas, de recomeço ou prioridade. Penso que este momento de reflexão é melhor do que tentar manter uma aparência de que está tudo bem, obrigada. Não está. Primeiro porque somos eternamente insatisfeitos – esse ser humano – e depois porque não aprendemos a agradecer. Claro que não estou generalizando. Falo por mim e sei que boa parte das pessoas que conheço estão incluídas nessa insatisfação tão própria do homem moderno.
O bom de reconhecer que exageramos em alguns momentos é que, quase sem perceber, estamos dando o primeiro passo para consertar aquilo que nos torna insatisfeitos. Mudar ou transformar a partir do reconhecimento é um bom caminho. Ainda bem que temos o final do ano, as férias para isso. E, neste ano, além da limonada entendo que “do atrito de duas pedras chispam faíscas; das faíscas vem o fogo; do fogo brota a luz”. E quando a luz anunciada por Victor Hugo das pedras assemelhadas, sim elas precisam ter um mesmo propósito, do contrário do atrito não surgiria o fogo, e quando essa luz proporciona um novo momento conseguimos perceber que o bom da vida se dá no processo e não no resultado.
Acredito mesmo nisso. Se o resultado de uma batalha foi vitória para um e derrota para outro, foi na batalha que descobrimos o que é importante, o que valorizar e o que não repetir. Esse processo faz muita diferença. A filosofia de início de ano tem sim um objetivo – tudo tem – mas não se refere a nada especificamente, e com certeza a quase tudo que me proponho a fazer. Estou conseguindo no início deste ano, algo que li numa revista em sua primeira edição de 2014: ouvir o silêncio. Entenda silêncio tudo que, geralmente não conseguimos ouvir, até mesmo as pessoas que estão próximas de nós e que por algum motivo sempre desconsideramos suas opiniões.
Confesso que tenho tentado ouvir o silêncio e neste momento o teclado deste computador que tenho pouca intimidade – digito em um emprestado – é o que valorizo e aprecio. Sempre gostei deste som, não podia ser diferente, há 30 anos que trabalho com este tipo de equipamento (antes a velha e boa máquina de escrever), mas apesar de gostar do som, nunca quis percebê-lo como agora. Ouvir valorizando o som e tentando excluir os outros ao redor é um exercício interessante nessa busca do silêncio ainda que possa parecer para os mais pragmáticos um papo de esquizofrênico. Não é. É apenas um refresco à mente e ao coração e porque não, à alma. Afinal, nesse ano de 2014 muitos resultados surgirão, em muitos setores, por isso a importância de prestar atenção em todo o processo, naquele que passou e no que ainda virá.
De resto, estamos aí. Simples assim. Com vitalidade e tentando priorizar algumas transformações. Que não sejam apenas promessas de um novo ano, mas um reconhecer que é na mudança ou na transformação que se constrói. Mudar não significa perder valores, pelo contrário, é mantê-los entendendo que é possível, quando não somar, conviver com novas experiências, observações e principalmente ouvindo, ainda que seja o silêncio. O silêncio que insistimos em deixar à margem de nossas vidas corridas e tão ocupadas. Um pouco de tempo para o nada poderá, quem sabe, ajudar numa decisão “ou não”, como diz o poeta Caetano Veloso.
E ainda tem aquelas mudanças que não têm base nos valores, mas sim no cotidiano, nos hábitos ( ruins), na comodidade e que ninguém sentirá saudades, tipo assim, a intolerância, alguns quilos, o Facebook, pelo menos reduzir o tempo, do contrário como olhar o céu? Que 2014 seja tudo e, muito mais que ano novo tem que ser para todos que acreditam que não só de quadrilha, bandido, crime e político safado vive o mundo. Podemos mais.
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

