Prezados leitores,
A criação do Cluster Automotivo do Sul Fluminense, se por um lado é uma ação positiva, do outro lado mostra a total inversão de valores, onde a iniciativa privada produz diagnóstico e propostas que deveriam ser atribuições do poder público estadual e municipal.
As indústrias, mais uma vez, estão agindo pensando única e exclusivamente nos seus interesses específicos ao eleger energia, transporte, telecomunicações e “mão-de-obra”, como carências importantes da nossa região, com ênfase nas Agulhas Negras. Note que a preocupação com o meio ambiente, incluindo saneamento básico, não faz parte das prioridades do cluster.
O que mais chama a nossa atenção é que este trabalho do cluster das indústrias deveria ser o primeiro passo do planejamento de industrialização da Região das Agulhas Negras, realizado pelos governos e com a participação da sociedade, e não um passo dado quando as consequências e impactos sócio ambientais já se fazem presente em preocupante escala: (i)mobilidade urbana, violência, tráfico de drogas, especulação imobiliária, danos ambientais, tudo em acelerado processo de expansão.
Tomamos conhecimento de que a montadora que seria instalada em Engenheiro Passos, uma APA, depois do nosso alerta junto ao MPF, foi transferida para uma área próxima as instalações da Xerox, em Itatiaia, no entorno do Parque Nacional do Itatiaia. Pelo que soubemos, mais uma vez um grande empreendimento está em curso na região sem levar em consideração o Estatuto da Cidade (Lei federal), Plano Diretor e Lei Orgânica do município de Itatiaia. Audiências Públicas também não foram realizadas.
Os impactos sócio ambientais de uma instalação deste porte serão sentidos principalmente em Resende, cidade que irá absorver este aumento de contingente populacional com todas as suas consequências. Os Conselhos de Meio Ambiente da Região e as Câmaras Municipais estão amarrados pela influência dos governos locais. Por isso são inoperantes. Só nos resta o MP.
Enquanto as indústrias alardeiam seus investimentos, todos em BILHÕES, o governo estadual e os governos locais nada mencionam sobre os investimentos públicos para fazer frente a essas novas demandas por infraestrutura. Nem mesmo a compensação ambiental desses empreendimentos é repassada pelo governo estadual aos municípios.
O Comitê Pela Transparência e Controle Social de Resende (COMSOCIAL), solicitou ao MPF que exija do governo do estado e dos municípios da Região das Agulhas Negras os estudos e os relatórios de impacto socioambiental decorrentes dos já implantados e dos futuros empreendimentos de alto impacto, como é o caso das montadoras, devidamente acompanhado dos cronogramas físico e financeiro dos investimentos públicos necessários para a absorção desses impactos, ou seja, um TAC.
Enquanto este TAC não for apresentado pelos governos e aprovado por todos os atores envolvidos, incluindo a sociedade civil, novos empreendimentos ficariam suspensos. Outras instituições da sociedade civil do Vale do Paraíba estão fazendo a mesma coisa, inclusive solicitando a aprovação do Zoneamento Econômico Ecológico da Região como condicionante para novos empreendimentos. Não somos contra o desenvolvimento sustentável, nem contra o segmento industrial. Somos, sim, contra o caos anunciado e contra a falta de planejamento do poder público.
Eliel de Assis Queiroz/Presidente do ComSocial Resende
“Parece cocaína
Mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem
Do cansaço e da solidão”
Legião Urbana
No auge dos anos 80 , um dos poetas musicais mais brilhante daquela geração , Renato Russo, tomado por profunda tristeza cantava:
” É tão estranho os bons morrem jovens, assim parece ser … ”
Hoje é flagrante a ausência de uma política de direitos humanos para nossa juventude, que leve em conta a realidade da deslembrada Periferia ; espaço pobre em equipamentos urbanos , pobre em vida cultural , pobre em opções de lazer; pobre , porque lá moram os pobres, “as gangues” , “gangues de jovens pobres”, pobres em oportunidades , carentes de cidadania.
Recordo uma antiga canção do jovem Roberto Carlos. que dizia :
“A cidade agora
Do outro lado tem
Alguém que vive sem saber
Que eu vivo aqui também…”
Desse outro lado da mesma cidade, jovens iguais aqueles, são compreendidos diferentes. São as turmas, turmas de jovens, aqui sem outros adjetivos marginais.
Desse outro lado da cidade os jovens freqüentam camarotes , ganham BMW de presente, antes dos dezoito , embora crescidos possuem como babas, agentes públicos , que lhes garantem segurança privada.
Jovens da Zona Sul, jovens do condomínio.
Jovens iguais impedidos de viverem igual juventude, separados na cidade partida , repartida , que lhes impedem de serem jovens juntos , de celebrarem juntos seu próprio tempo. Teatro não fazem juntos , violão não tocam juntos,nem brincam, nem riem juntos. Muito menos se encontram nas praças , no futebol ou nos namoros de esquina.
Segregados, apartados, numa mesma urbe.
Volto à mesma canção, do mesmo jovem Roberto:
“Do outro lado da cidade
Eu sei que a felicidade está
Ainda vou saber exatamente
Onde ela vive e vou pra lá…”
Para os jovens pobres a pobre política publica, que naturalmente reproduz os novos guetos…
Para o outro lado, a escola com teatro, a escola americana e aquela outra ,de nome religioso.
Para essa Juventude, outra abordagem , nela ninguém se droga, seu consumo esporádico, eventual, não alimenta o comercio, não vira manchete na pagina policial, no máximo um excandalozinho na sessão de fofocas do caderno social.
A mesma juventude, mas, de pais diferentes, de distintos tratamentos pelo mesmo Estado.
Esse Estado esta doente, sua legitimidade esta perdida, e ele não se reconstrói , mantendo essa lógica perversa, mudos, surdos e cegos não conseguem estabelecer passarelas onde transite , cidadania e solidariedade, ao contrario, só as pontes sem almas lhes interessam.
Retorno a indignação do Renato:
“ E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção “
E aqui na laureada Aldeia, mais um dia se vai …
Os mais fracos, os mais despossuídos, não são integrados, não possuem identidade nem cidadania, assistem de longe as incríveis peripécias dos poderosos, dos governantes poderosos que vivem de apaziguar conflitos , por eles construídos, na cidade por eles partida, por eles dividida.
Sobre o jovem morto no bairro Paraíso, resta-nos a poesia em estado de protesto, nos graves versos, do saudoso Gonzaguinha:
“Quem me dirá onde está
Aquele moço fulano de tal
(Filho, marido, irmão, namorado que não voltou mais)
Insiste os anúncios nas folhas
Dos nossos jornais
Achados perdidos, morridos
Saudades demais .”
Caros leitores,
Procuro uma irmã e meu avô
Minha mãe Sonia Maria dos Santos Silva procura sua filha que antes de se casar chamava-se Rita de Cássia Menezes dos Santos e seu pai Milton Manoel dos Santos que há 16 anos não tem contato. Pela última carta eles moravam no endereço Rua Rodolfo Cotrim – Vila Paraíso – Itatiaia RJ. Caso consiga alguma informação, por favor, peço que entre em contato no número 073 8121-3570 ou 3632 – 4701. Desde já agradecida.

