QUEM PENSA? O que tem de bom no governo Rechuan?

Esses dias me perguntaram o que tem de bom no governo Rechuan e eu prontamente respondi: não existe apenas uma coisa boa, porque todo governo é formado por pessoas e projetos que intencionam de alguma maneira cumprir o seu papel. Talvez a pergunta certa seria: qual o papel do governo? Seja ele qual for, todo e qualquer governo deveria, num primeiro momento, deixar bem claro para o eleitor e para o não eleitor do grupo que formou o governo que este, estará a serviço da Administração Pública. Ou seja, as pessoas ainda têm dificuldades de entender a diferença entre governo e administração pública.

O governo – ou a forma de se governar um município – não é perene, ou seja, tem prazo de validade, o mandato do Executivo, por exemplo, é de quatro anos, podendo haver uma reeleição. E é aí onde está a diferença da Administração Pública. Governo é a gerência dos interesses da administração pública e esta cujo objetivo é sempre o interesse público é responsável por garantir o funcionamento e atendimento das necessidades da população. Isto significa que acima do governo está a Administração Pública.Mas infelizmente os agentes públicos muitas vezes nem sabem essa diferença.

A diferença acima não exime o governo de atender os interesses coletivos e públicos, muito pelo contrário, o coloca como o principal interessado (ainda que em tese) da promoção e busca de solução destes interesses. Sabemos que na prática, as coisas não acontecem dessa maneira. Se assim fossem, não seriam os empresários reféns da “simpatia” dos governantes ou não fariam questão de pertencer ao mesmo círculo de amizades. Na maioria dos governos, aquela máxima “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa” não funciona. É preciso ser amigo do rei ou bajular o rei. Este é um, etnre outros, flagrantes pecados dos governos.

Mas a pergunta feita foi o que tem de bom no governo Rechuan? Eu diria que é o exagero. Explico. Dimensionar os fatos para uma realidade numa proporção muito maior do que realmente são acabam por revelar as fragilidades do governo. Durante algum tempo – no primeiro governo – Rechuan e seu grupo conseguiu manter uma estratégia de trabalho e isto foi positivo; evitou reclamar muito do governo anterior e partiu para as ações. Ponto pra ele, a cidade estava suja, os servidores insatisfeitos e uma sensação de desrespeito dominava o cidadão. Mas o governo peca também no dia que assume em 2009, algumas testemunhas ouviram quando já falavam em 2012 ou seja, a preocupação com a manutenção naquele momento era com o poder e este nada tem a ver com a coisa pública. As ações foram positivas, mas também começaram a ganhar características pessoais e aí o governo exagera e resolve investir no mote de que Resende é uma cidade pra frente, contemporânea, moderníssima. O marketing político é agressivo e as opções eleitorais em oposição não colam. E tal como no dia da posse em 2009, Rechuan consegue manter-se no poder e se reelege, mas alguma coisa aconteceu, pois em menos de um ano deste novo governo ratificado nas urnas do último pleito, o prefeito encolheu e está mais irritado, muito mais irritado. Há um exagero na irritação do prefeito, segundo os que o cercam e que por vezes preferem até não levar os problemas.

Mas como assim? Se o prefeito desconhece os problemas como poderá ser o gerente na busca da solução? E se sabe e fica nervoso, parece que a solução também estará longe de ser alcançada. Há quem garanta que Rechuan perdeu o controle porque deixou que alguns setores, ainda no seu primeiro governo, ainda que invisível aos olhos do eleitor, exagerassem no desrespeito à coisa pública, seja por má-fé ou por incompetência. Algumas áreas antes consideradas até razoáveis como a Educação e a Saúde demonstram agora, em 2013 que não foram bem construídas no primeiro governo de Rechuan, tanto que a fiscalização do Tribunal de Contas nas escolas municipais e o número de itens observados negativamente é de assustar. Tanto que, a compra do tomógrafo, um aparelho tão necessário ao município se desenha como um verdadeiro escândalo e abuso. Um exagero mesmo, que ultrapassa os limites da seriedade com o dinheiro público. Esse caso em especial vai custar ainda muito caro ao município e na verdade não foi por falta de aviso de vários setores da Administração Pública. Esta aí outra coisa boa do governo. Alguns integrantes imbuídos de sua responsabilidade pública fizeram alertas mais de uma vez sobre a não entrega deste tomógrafo ao município, mas os gestores permitiram por quatro vezes – repito: quatro vezes – o adiamento da entrega do equipamento e ainda não se sabe o que tem dentro das caixas que chegaram em julho, depois de muita pressão popular. As caixas não podem ser abertas sob o risco de perda da garantia. Uma garantia que não será dada pela empresa que vendeu, porque esta faliu.

Esse exagero torna cada vez mais claro o projeto de governo, do contrário, como poderemos chamar aquele contrato das mudas milionárias com a Chusquea que hoje está na Justiça. Uma lambança da Agência do Meio Ambiente (Amar) que ganhou destaque nos “exageros governamentais” de Rechuan. Ouvi num programa de rádio, em 2012, no alto da crise dos escândalos do meio ambiente, o prefeito rasgar elogios à pasta e ao seu gestor. Ora, só posso concluir a conivência deste prefeito com tudo que agora pipoca na Justiça. Afinal, não é o prefeito que lidera o governo?

E o que falar de outros exageros, como a quase exclusividade de uma única empreiteira ganhar a maioria das licitações de obras na cidade. Até aí, isto poderia ser normal se a empreiteira terminasse uma obra antes de começar outra ou se a obra realizada não desmoronasse, como aconteceu por duas vezes com o calçadão da avenida Nova Resende? Estes e outros exageros na área de obras e serviços públicos demonstram que em algum momento o governo se distanciou da Administração.

Alguém pode perguntar-me, mas isso é bom? E não é?  – responderei perguntando de volta. Afinal, os exageros tornam-se reveladores em muitos aspectos. Alguém já disse que “o exagero é sempre a exageração de algo que não o é”. Pois é… sendo assim, conseguimos enxergar no exagero o que não se pretende, por isso considero o exagero como o que tem de melhor no governo Rechuan. O exagero de querer fazer descer goela abaixo, por exemplo, que o aeroporto de Resende tem todas as condições e que a região tem demanda para voos comerciais e depois pagar mico, reiteradas vezes com as companhias aéreas abandonando o serviço já ficou claro para os usuários que o governo não leva sério este serviço e por isso trata o assunto sempre com festa, publicidade e discursos políticos. Um verdadeiro exagero!

Tais exageros esbarram na carência dos serviços municipais, esbarram na falta de políticas públicas realmente voltadas para o fortalecimento de uma cidade que cresce, esbarram sobretudo, na falta de respeito ao cidadão que ouve de um lado que a cidade tem dinheiro, tem fábricas, tem tudo, mas que só consegue marcar um médico com intervalo mínimo de quase dois meses, que ao consegue vaga de educação infantil porque o município não investiu na educação infantil e hoje a criança quando completa quatro anos e precisa deixar a creche não conegue vaga numa escola com horário integral. Como ficam os pais que sempre utilizaram a creche porque trabalham fora durante todo o dia?

Não são poucos os exageros desse governo e talvez eu esteja errada, tomara que sim, mas vejo no anseio desse governo de Resende em querer exagerar e buscar milhões (R$ 60 milhões) emprestados para iniciar – repito, apenas, iniciar – uma obra um sinal de dias ruins para o município, pois o ano de 2013 já acabou e quando chegará o empréstimo para que seja pago dentro do governo Rechuan ainda? Sim, porque ele não pode contrair dívidas e deixar para o próximo prefeito. Não pode na regra, mas na prática, temo que este governo quebre a cidade com esta dívida, principalmente porque tenta esse dinheiro sem ao menos promover uma audiência pública para mostrar todo o projeto (ainda que inicial) que pretende usar esses milhões. Mas este é um assunto que ainda voltarei a comentar.

Exageros à parte, continuo na torcida para uma maior participação sua. É. Sua mesmo. Você que lê essas linhas e que pode juntar-se a quem está preocupado com os rumos políticos e públicos desta cidade que já foi conhecida como “princesinha”. Faço parte do ComSocial, uma associação que tem trabalhado em prol da transparência das informações e dados públicos neste município e que no próximo dia 9 de novembro completará um ano de suas atividades promovendo um dia de informação e debates sobre o que conquistamos, mas principalmente o que ainda precisamos conquistar. Venha participar conosco. Dia 9, no Espaço do Saber na rua 29 de Setembro, nº 139, bairro Comercial, às 16h. Até lá!

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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