QUEM PENSA? Não são quatro meses!

Novos tempos realmente chegaram ao município de Resende. Não pelos empregos tão sonhados e empresas que pagam salários acima da média na região. A “modernidade” urbana chegou em Resende por dois aspectos flagrantes: um é o trânsito caótico que já tratei aqui em outras oportunidade e não é o foco deste artigo; o outro é a violência, também já tratada aqui, mas que hoje vou abordar uma das particularidades desta violência que as chamadas autoridades insistem em não querer enxergar.

Os tempos de cidade grande são notados agora, a qualquer hora do dia, em alguns pontos da cidade, sempre nos bairros menos favorecidos, onde grupos de jovens se reúnem para fumar crack. Sentam à beira das calçadas, tiram suas pedras, passam entre seus dedos já amarelados e começam em cachimbos improvisados a fumar o considerado devastador crack. Não tem hora ou local, a reunião lembra velhos tempos em que os moleques se reuniam para combinar uma nova brincadeira ou os mais velhos, quando paravam um trabalho exaustivo, davam um tempo conversando e fumando um cigarro de palha.

Os tempos mudaram: nem brincadeiras, nem cigarros de palha. E infelizmente, nem expectativas para essa juventude, enquanto o assunto drogas for tratado como caso de Polícia. Em Resende, não conseguimos avançar em nada. Lembro quando fazia parte do Conselho Municipal de Políticas Sobre Drogas e um dos objetivos era construir o Plano Municipal de Políticas Públicas Sobre Drogas. Não se ouve mais nada a respeito. O Conselho virou um mero acessório de apoio ao governo municipal e se limita a aprovar palestras, ações governamentais e quando muito aprovar a viabilização via dinheiro público para poucas ONGs que conhecem o caminho, apresentam projetos e que tratam do assunto.

O governo municipal ensaiou em 2011 um programa chamado Consultório de Rua para atender usuários de cracks no bairro Baixada Olaria. O projeto-piloto não decolou, pois previa a extensão do serviço a outros bairros. Nunca saiu de embrionário e, pelo que assistimos hoje, foi abortado. Os resultados também nunca foram apresentados à sociedade apesar de verba federal superior a R$ 300 mil para este programa ou seja, completo descaso do poder público, primeiro na prestação de contas ou será que acham que estão fazendo um favor? Depois por apresentarem questões pontuais, desconectadas da realidade. O programa de Saúde Mental do município anda muito bom para organizar palestras, temas interessanes, debates reflexivos, mas ação mesmo que é bom, nada de nada.

Não são quatro meses. São quatro anos, quase cinco de um governo que só se viu aumentar a violência, o consumo de drogas e o número de mortes de jovens. Não há um trabalho articulado entre as secretarias do governo Rechuan, com foco a combater a violência; as decisões nesta área são sempre na direção da repressão, de Polícia. Gasta-se muito dinheiro em carros, traillers, como anunciado esta semana, e nada em prevenção às drogas.

Na verdade, nem sabem o que fazer. Quando precisam mostrar serviço, pedem um programa e fazem muita publicidade, até ganham prêmio “Prefeito Amigo da Criança” e vão continuar assim, até que um plano municipal realmente seja pensado articulando todos os setores da sociedade e chamando todos à participação.

O crack está muito mais rápido do que qualquer programa governamental pensado e implementado. Essa história de internação compulsória, construção de clínicas são exemplos de como os governos pensam sempre e apenas nas consequências. Sem planejamento seguem com suas ações perfomáticas que darão 15 minutos de mídia, e, na prática, o que assistimos em Resende: uma violência brutal ceifando a vida de gente muito jovem. São pessoas invísives ao olhar governamental que foca numa modernidade baseada no inchaço urbano, nas construções verticais. Um filmes que o mundo já assistiu, mas que alguns insistem em não querer saber o final.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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