Numa de minhas últimas aulas de Ética e Legislação, o assunto era propaganda eleitoral, repeti aos acadêmicos, o que venho falando desde a última eleição: “eu não vi, porque se tivesse visto, teria denunciado”. O assunto era compra de votos. Tem gente que garante que muitos candidatos e a maioria eleita “comprou votos”. Eu não vi. Então chego a conclusão que quem fala é fanfarrão, mentiroso ou que é tão safado quanto quem comprou, porque além de aceitar vender o voto, – por quanto? Uns R$ 50? – se mantém em silêncio. Mas não é sobre compra de votos para eleição no Legislativo que quero comentar essa semana, mas sobre o silêncio barulhento dos vereadores quanto às denúncias que pesam sobre o governo municipal, processos que vão surgindo, arbitrariedades como as mudança de trânsito do bairro Paraíso, e principalmente, um silêncio que realmente chama a atenção quanto ao cumprimento da lei da transparência.
Os vereadores de Resende passam boa parte do tempo deles pelos corredores da Prefeitura, não me perguntem o que estão lá fazendo, porque não sei. Se a eles for perguntado, com certeza terão a resposta na ponta da língua: “trabalhando pelo povo”. Mas não conseguimos ver reações e muito menos ações que realmente demonstrem esse trabalho pelo povo, muito pelo contrário, os vereadores andam mais silenciosos que os cemitérios, esses ainda têm os pássaros e os passos.
A omissão dos vereadores sobre a esmagadora maioria dos assuntos que está nas ruas, nas comunidades, e nos fóruns da sociedade organizada incomoda e dói. Incomoda porque fica uma sensação de que pagamos esse poder para coisa alguma, uma estrutura e tantos representantes e para quê? Fez por outra fazem uma audiência aqui outra acolá, mas resultados efetivos para minimizar os abusos do Executivo, nadinha e isso dói. Dói no bolso; dói na alma, porque atinge a dignidade do cidadão que confiou um voto (os não comprados, claro), acreditou que podia realmente ser representado.
Ano passado não aceitaram a Comissão Parlamentar de Inquérito do caso Chusquea (aquele contrato da Prefeitura/Amar com a empresa para produção e plantio de mudas; as mudas mais caras que já se soube por aqui), pois bem, agora o Ministério Público entrou com uma ação na Justiça. E os vereadores? Voltaram a falar do assunto? Vai esperando….
O caso do chorume vindo de Volta Redonda que tem ação na Justiça. Qual o resultado? Apenas a demissão do funcionário que teve a coragem de denunciar. Pergunta pra um dos vereadores se eles sabem o nome do funcionário que fez um favor à cidade, sem ganhar um tostão pra isso e ainda perdeu o emprego? E eles, os “representantes do povo”, nadinha.
Essa semana uma audiência pública mostrou bem como a concessionária de água e esgoto desrespeita o consumidor resendense: usou uma prática de política rasteira lotando a Câmara municipal com funcionários convocados (será que receberam hora extra?) para evitar que o público interessado tivesse lugar e também; acreditam, eles acreditam, que assim intimidam os que consideram os abusos e pressionar os próprios vereadores, já que alguns destes pensam que podem agradar Deus e o diabo. Tolinhos.
O caso do Dossiê Cruz que vários vereadores fizeram questão de comentar no plenário, mas agir mesmo que é bom… nadinha. O vereador Stênio Aguiar (PDT) apresentou uma denúncia e encaminhou à Comissão de Fiscalização, denúncia parecida com o Dossiê Cruz. Foi o único vereador a levantar uma denúncia e pedir esclarecimentos. Agora, aguarda-se o relatório do vereador. Dependendo do relatório, poderá ter indicação ou não para que se instale uma Comissão Parlamentar de Inquérito.
Aí vem a pergunta: quem acredita que os vereadores instalarão uma CPI? Uma CPI tem audiência e debates quase todos os dias, ouvindo envolvidos e tudo no plenário aberto para o povo ver.
Já foram pedidas outras CPIs, como a do lixo, da concessão do serviço de água e esgoto e do transporte no município. E o que se ouve? Nadinha. Um silêncio que dói.
O Comitê pela Transparência e Controle Social, do qual faço parte, iniciou uma seleção e treinamento de voluntários para acompanhar as licitações na prefeitura, e já está acompanhando algumas. Algumas esquisitas, de necessidade duvidosa, outras com trâmites questionáveis. E os vereadores, o que falam das licitações? Nadinha. Um silêncio que dói!
Temos visto no Brasil o movimento “Ocupa Câmara” que vai cobrar do Legislativo exatamente isso: o não-silêncio, a reação, a ação. Em Resende, há quem não acredite que a Câmara Municipal possa ser ocupada por manifestantes, por cidadãos insatisfeitos com esta leniência que grassa entre os vereadores, talvez por isso eles continuem em silêncio. Um silêncio que dói! Mas o povo já mostrou, tem mostrado que não ficará em silêncio!
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br


Texto memorável e atemporal.
Parabéns pela visão ampla na política resendense.