QUEM PENSA? Que fim levou? E nós? O que levaremos?

Esses dias um servidor da Prefeitura de Resende quase me intimou: “Ana Lúcia você precisa voltar a falar sobre a questão do desvio do dinheiro da folha de pagamento da prefeitura. Este não é um assunto pra ser esquecido, muito pelo contrário, mostra apenas a ponta do iceberg”. Me chamou a atenção a expressão usada que significa que o se se vê do caso, ou seja, o que se sabe, é infinitamente menor diante da verdadeira realidade. Gelei. Gelei imaginando aquelas cenas que costumamos assistir nos telejornais que mostram quando a Polícia Federal, em operações de investigação, entra numa prefeitura e leva pelo menos meia dúzia de agentes públicos algemados, e ainda, computadores e documentos.

Também fiquei intrigada e imaginando que a cobrança por mais informação, que me fez o servidor, talvez fosse também apenas a ponta do iceberg. O que ele realmente quis me dizer? Por que ele usa essa expressão num assunto aparentemente encaminhado? Claro que o que logo se pensa é que muito provavelmente existem outras pessoas envolvidas e ainda não citadas no processo e com isso comecei a apurar aqui e acolá, ouvindo alguns outros servidores e ex-servidores da Prefeitura de Resende. Solicitei também uma nota à Assessoria de Comunicação para ter um posicionamento oficial sobre o fato que mais abaixo reproduzirei.

Agora, é importante lembrar um pouco do que se trata esse caso. Um possível desvio de dinheiro da folha de pagamento promovido por dois servidores de carreira, o assunto grave, também foi carregado de comoção. Muitos colegas dos dois envolvidos – Raymundo José Destro Gomes e Robson Rossi Breve – custaram a acreditar na informação que os dois são acusados de desviar cerca de R$ 400 mil da folha de pagamento. Todo o assunto ficou suspenso já que o inquérito administrativo iniciado foi interrompido por uma ação na Justiça de ambos. Os suspeitos entraram com uma ação alegando que lhes foi negada ampla defesa e a Justiça determinou a suspensão da investigação.

Há dúvida, inclusive sobre o montante que pode ter sido desviado. A prefeitura não negou o fato e tentou fazer a apuração para encerrar o caso. Tudo isso aconteceu em 2012 e quase dois anos depois, nem inquérito e nem mesmo, a certeza que este tipo de situação não volte a acontecer chegou ao conhecimento dos maiores interessados: nós! A população, o contribuinte, o cidadão que paga as contas e também os prejuízos. Sim. Porque enquanto o assunto não for esclarecido e tiver a possibilidade de desvio comprovada pagamos também o possível prejuízo e pior, sem a certeza de que o fato ou “falha” no sistema que permitiu o desvio tenha de fato sido corrigido. Assunto, que independente da determinação judicial deveria ser esclarecido à população. Qual a garantia que temos que isto não ocorrerá ou está ocorrendo? Já que a prefeitura detectou falhas no sistema porque não esclareceu como de fato ocorreu? E exibiu mecanismos de defesa do sistema? E outra? E quem confere as contas que sabe o que entra e que sai como explica
o rombo? Se depender da “transparência” do governo Rechuan todas estas perguntas continuarão sem respostas. Quem sabe, o governo não nos surpreende?

A Assessoria de Comunicação da Prefeitura informou que a Prefeitura contesta a alegação de Raymundo e Robson, na Justiça, de que eles não tiveram “ampla defesa”, e afirmou “que o processo disciplinar seguiu os trâmites legais, com base no Estatuto do Servidor, e que já enviou cópia deste mesmo processo para Ministério Público”.

Tal como a população, o servidor público que num primeiro momento ficou consternado com a situação dos colegas cuja convivência é de anos de trabalho também se sentem atingidos de alguma maneira, principalmente quando afirmam o que afirmou o servidor que me interpelou. Se existe uma “ponta de iceberg” é porque existe um grande e pesado bloco submerso que não conseguimos enxergar e que talvez Raymundo e Robson sejam só o lado fraco da corda.

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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