Cartas e E-mails

Cara Editora do jornal BEIRA-RIO,
Sou leitora assídua deste jornal à  alguns anos pois sou moradora de Resende a uns 12 anos.
Vim do Rio de Janeiro para morar aqui incentivada por meu primo e sua esposa por estarem preocupados com minha situação depois que minha mãe morreu, porque morávamos juntas pois ela estava viúva e eu também. Tenho um filho que hoje está com 30 anos e é deficiente físico e mental e sempre necessitou de cuidados especiais. Meu primo mora a muitos anos em Resende me convenceu que teríamos uma qualidade de vida muito melhor aqui, ele estava certo eu gosto de morar aqui e meu filho também.
Não pago aluguel pois o apartamento onde moro pertence ao meu primo e eles são os meus verdadeiros anjos da guarda pois eu não tenho condições de arcar com todas as despesas que tenho.
Agora o motivo desta carta, fui surpreendida por um acontecimento surreal pois num momento em que se fala tanto em inclusão, amor ao próximo e que as pessoas estão deixando de ser tão preconceituosas eu e meu filho fomos vítimas desta atitude retrógrada que vai contra e que se tem alardeado.
Meu filho tinha consulta com o neurologista na Clínica Santa Cecília e como de costume quando meu primo não pode levar acionei o serviço de táxi que sempre utilizei. Quando a taxista viu que meu filho era cadeirante notei que ele ficou desconfortável e ele me perguntou se havia pedido um carro grande, então eu disse não porque eu não vou levar a cadeira pois disso eu sabia, à alguns meses atrás fui informada pela atendente da companhia que eles não estavam atendendo cadeirante, inclusive um motorista de táxi me disse que era pelo peso, volume. Eu só precisei do táxi neste dia 1°/ 08 – e esse motorista não me falou nada sobre isso, quer dizer a restrição não é a cadeira e sim a pessoa com deficiência.
Porque na volta liguei pedindo um táxi e a atendente disse que enviaria logo, passado um tempo que achei razoável para a demora liguei novamente e qual não foi minha surpresa ela nem ao menos teve a decência de retornar a minha ligação desmarcando, quando eu interpelei ela disse que o outro taxista que me trouxe só o fez pra não perder a viagem e que eles tinham um carro que só atendia cadeirante que se eu quisesse ela me daria o telefone para que eu o contactasse, eu retruquei e disse porque você não pode ligar para ele e fazer esse contato, ela disse que não estava autorizada a fazer isso, então eu disse não preciso de nenhum telefone e desliguei o telefone, isso tudo e eu estava na calçada da clínica com meu filho passando por este constrangimento tentando localizar alguma pessoa que eu conheço que pudesse me pegar e levar para casa, fiquei mais de 40 minutos com meu filho esperando até que consegui localizar minha amiga que foi até lá e me trouxe para casa.
Este acontecimento é no mínimo um retrocesso sem falar na parte humana.
O que essa gente que trabalha nesta empresa pensa que é, onde eles pensam que estão, quem deu direito que eles escolhessem que passageiros carregar se eles se acham tão importantes deviam dirigir apenas para a família e deles.
Porque eles não colocam um aviso no painel do carro “ não transportamos pessoas com deficiência. Fiquei extremamente constrangida e vou fazer de tudo para que muitas pessoas tomem conhecimento disso para que elas não sejam surpreendidas com esta atitude dessa empresa.
Silvia

Vôo Azul-Trip saindo de Resende…realidade ou ficção?
Não sou usuário dos serviços da empresa aérea Azul-Trip, mas na condição de cidadão pagador de todos os meus impostos, em Resende, tenho o direito inapelável, sim, de me indignar com o que venho testemunhando todas as manhãs, no Aeroporto de Resende.
Desde a última sexta-feira, 2 de agosto, o vôo com destino a Campinas, no horário de embarque previsto de 11:45 h, simplesmente, não é operado sob a alegação de que a aeronave se encontra em manutenção.
Alto lá! Ainda que não seja especialista em aviação, soa no mínimo estranha tal justificativa haja vista que a empresa poderia ao menos se prontificar em disponibilizar outra aeronave e problema sanado.
Será que de sexta a terça-feira a Azul-Trip – e lá se vão 120 horas – não teve ao menos a capacidade de trocar a aeronave e, assim, oferecer uma pronta solução para o cliente? Simples, não?
Será que no universo da aviação uma aeronave permanecer em estado de manutenção por três dias úteis seguidos é algo considerado normal e aceitável de fato?
Mas pasmem os senhores que nem mesmo o tal serviço de atendimento ao cliente da empresa (Call center) – 0800-884-4040 – para o qual fiz questão de ligar, se salva: desconhecem o horário e o destino dos vôos que partem de Resende – a ligação está gravada. Uma atendente de nome Lidiane nem sequer se dignou a esclarecer o fato transferindo a responsabilidade para o aeroporto de onde parte o vôo.
Coloque-se, pois, na pele de um executivo da região com compromisso agendado e que, ao se dirigir ao guichê da empresa para realizar o check-in, recebe como desculpa que uma aeronave está em manutenção. É ou não motivo mais do que suficiente para se revoltar?
O mesmo nível de ruído na mídia criado em torno da vinda da Azul-Trip deveria ser agora canalizado para um mínimo de satisfação e esclarecimento para o cliente.
Sem falar nas inúmeras reclamações de passageiros provenientes de Barra Mansa e Volta Redonda – com toda a razão diga-se – em relação à ausência de placas de sinalização orientando-os para chegar ao aeroporto.
Não caberia aos órgãos competentes deste atual governo municipal, muito antes de imaginar ter vôos aqui, pensar em algo tão óbvio? Ou eles acham que todos têm obrigação de ter um GPS?
Daqui a pouco as históricas comparações entre Volta Redonda e Resende quanto ao direito de fato de se ter um aeroporto municipal voltarão à baila, e pelo andar da carruagem serei defensor de Volta Redonda com todas as letras.
Em tempo: por que o jornal BEIRA-RIO, paladino da defesa do cidadão, não compra este barulho e investiga melhor tal episódio? Fica a dica.
Marcelo Almeida
Professor e Jornalista

NOTA DA EDITORA
Caro Marcelo,
Agradecemos sua referência ao BEIRA-RIO e aos interesses deste semanário que realmente é a defesa dos direitos do cidadão, principalmente à informação. De fato, o BEIRA-RIO se limitou a notas informativas sobre o início e paralisação deste serviço, apesar dos anúncios efusivos por parte do governo municipal. O BEIRA-RIO entendeu as limitações do espaço aéreo e também comercial para este atendimento em nosso município, infelizmente  não informado corretamente pelas autoridades, sendo assim, aceitamos sua sugestão para inclusão do tema numa de nossas pautas. Agradecemos.

NOVA DETROIT: VELHOS ERROS, VELHA FARSA
Em 2000, quando exercia a titularidade da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo de Resende, fui entrevistado por uma equipe de pesquisadores do Programa de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA-UFRJ). O objeto da pesquisa era a história da indústria automobilística brasileira e do Sul Fluminense. Vale a pena ler todo o trabalho que está disponível na internet.
Um dos principais motivos para as montadoras virem para a nossa região era: “ESCAPAR DA FORÇA POLÍTICA DO SINDICALISMO E DOS SALÁRIOS ELEVADOS PELO PODER DE BARGANHA DESSE MESMO MOVIMENTO SINDICAL”. Ou seja, essa história de localização privilegiada da nossa região, do ponto de vista logístico, era e continua sendo conversa mole para boi dormir. Se o estado quiser, ele cria as tais condições logísticas em qualquer lugar.
As montadoras queriam fugir do ABC paulista com medo dos sindicatos. Nesta época, Detroit, a capital mundial da indústria automobilística, já estava passando por maus momentos. Foi também por “culpa dos sindicatos” que as montadoras instaladas em Detroit escafederam-se. Detroit, como muitos sabem, entrou recentemente com pedido de falência junto à Corte americana.  Hoje, a cidade não consegue pagar suas contas e nem os salários dos funcionários da prefeitura. Imagine se no Brasil fosse assim. Ia faltar cadeia para tantos prefeitos incompetentes e corruptos.
No início, a primeira montadora a ser instalada em Resende vivia em lua de mel com os sindicatos locais. Isso durou pouco tempo, até os sindicatos locais descobrirem que os salários pagos em Resende eram muito menores dos que os pagos no ABC paulista. Resultado, a montadora de caminhões foi paralisada pela greve.
Se as montadoras, lá em 2000, começaram a vir para cá exatamente por que aqui era diferente do ABC e de Detroit, ou seja, não havia na região uma grande concentração de montadoras, e consequentemente de sindicatos, o que elas devem estar pensando agora, quando viramos polo automobilístico? Não vai demorar muito, o mesmo ciclo de fuga das montadoras será repetido aqui. Afinal, como dizem dois gigantes da mídia nacional: o jornal O Globo, e a revista Veja, somos o novo ABC, a nova Detroit.  As montadoras fecharão as malas e irão procurar moleza em outros lugares. É a história sendo repetida como farsa, como dizia Karl Marx. Com uma diferença: aqui não tem falência de cidades nem cadeia por gestão incompetente dos dirigentes públicos, incapazes de planejar o futuro. E quem é que vai pagar pelos resultados deste caos anunciado? Quem garante que aqui será diferente, se a política dessas montadoras é a mesma de sempre: lucro a qualquer preço?
Em matéria recente, o jornal O Globo noticia que mais uma montadora está se instalando na Região das Agulhas Negras. Desta vez é a FOTON, empresa chinesa. Segundo o que diz o secretário de “desenvolvimento econômico” de Itatiaia, suposto local de instalação, está tudo certo para a instalação da montadora, “só falta o INEA liberar”.
Será que ainda não aprenderam? Como tudo certo? Estamos diante de mais um caso de licenciamento ambiental “fast-food”, como foi o da Nissan e o da Hyundai, onde a legislação federal e a municipal foram jogadas na lata do lixo? O Estatuto da Cidade, Lei Federal num. 10.527, de julho de 2001, foi respeitado? A Lei Orgânica de Itatiaia foi respeitada? Foram realizadas as audiências públicas por se tratar de empreendimento de grande impacto sócio ambiental? O Conselho Consultivo do Parque Nacional do Itatiaia foi ouvido? Chega de bandalheira! Chega de irresponsabilidade e incompetência na gestão das nossas cidades! Chega de o governo estadual impor políticas ultrapassadas aos nossos municípios. Vamos dar um chega pra lá nesses prefeitos subservientes e despreparados para avaliar custos e benefícios de longo prazo, decorrentes desta política de incentivos fiscais a quem não precisa. Vamos criar incentivos para a nossa base hoteleira, para a nossa economia criativa. Será que esses prefeitos sabem o que é isso? Indústrias também são bem vindas, desde que dentro dos limites da capacidade de absorção da região. Alguém aí já ouviu falar dos investimentos em infraestrutura que serão necessários para suportar o impacto deste crescimento atabalhoado? Eu não ouvi, nem vi.
O Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende quer que tudo isso seja devidamente esclarecido. Afinal, os maiores impactos negativos causados pelos grandes empreendimentos realizados na Região das Agulhas Negras recaem sobre Resende, que é quem paga a conta do caos anunciado e já em pleno andamento.
Neste sentido, com base na Lei de Acesso a Informação, encaminhamos ao Ministério Público Federal solicitação de esclarecimentos sobre este fato. A lei não pode servir apenas para ser aplicada aos pobres, pretos, e prostitutas, como pregava Ulysses Guimarães no congresso. Leis estaduais, que estão sendo usadas como argumentos para a concessão dessas licenças, não podem sobrepor-se às leis federais. Chega de farsa e de velhos erros.
Eliel de Assis Queiroz
Presidente do ComSocial

Você pode gostar

One thought on “Cartas e E-mails

  1. Esta questão do sindicalismo( o autor citou Detroit e o ABC, mas São José dos Campos segue o mesmo caminho sem volta) pesou realmente nas avaliações preliminares das empresas para aqui se instalarem, mas parece haver muito mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.

    Em termos de região, nota-se dois surtos distintos:No primeiro vieram duas montadoras e algumas periféricas; agora os dedos de uma das mãos, considerando-se as mencionadas e as demais,já não são suficientes para quantificar a coisa.Neste contexto, em vista dos pontos negativos que já mostram a cara pode chegar o momento em que os políticos que se vangloriaram de ter trazido esta ou aquela empresa do ramo(ou assemelhadas) talvez procurem riscar tais fatos de suas biografias.

    Teorias conspiratórias de lado e por falar em nuvens cinzentas de problemas que advirão em carga maior para nossa cidade, amputada de membros, é bom lembrar,na esteira da Constituição de 1988, poderia um viajante indagar o porque de uma siderúrgica bem de frente a mais fascinante montanha do planeta.Um filósofo poderia tascar uma resposta vã:Estratégias, meu caro! estratégias!As montadoras virão depois, ainda que o aço venha de outros locais.Trata-se de item importante para convencimento.Ora, lá já tem uma siderúrgica que poderá se adaptar futuramente diminuindo custos…

    Não é o caso de aprofundar aqui estas perorações.Mas por fala também em dedo, tem nove deles neta historia, ha se tem…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.