QUEM PENSA? Feliz aniversário Resende!

Ao completar 212 anos, o município de Resende continua a ser lembrado como a “cidade que tem a Academia Militar, não é isso?” indagam as pessoas ao tentar lembrar características da cidade do sul do estado que teve muito antigamente uma economia baseada na pecuária leiteira, na cidade que tinha uma praça cultural e animada dividindo atenção dos frequentadores com a Nossa Senhora da Conceição. Quem mora em Resende, há pelo menos 20 anos, lembra um pouco da história do município e chegou a ver o centro histórico, seu casario do século XIX, que hoje, pode ser lembrado quase que exclusivamente pelas fotos, porque está desaparecendo cada dia um pouco.

A cidade cresceu e não podia ser diferente, é pra frente que se anda. Novos bairros, novos moradores, novos setores na economia e definitivamente, Resende mudou sua estética, mas há, na minha opinião, ainda, lamentavelmente, uma falta de identidade. É como um Michael Jackson: transformações, plásticas e uma incógnita chegando à extravagância. Do contrário, o que é essa passarela-enfeite com chifres em forma de X bem no meio do centro da cidade, onde voltas e voltas serão necessárias para uma travessia que nunca foi perigosa. Dinheiro público (R$ 750 mil) por aquilo lá, mas esse é outro assunto. Ou não. Fato é que a passarela-enfeite, assim como outras obras personalizadas do governo atual não contribuíram para identidade do município.

Na verdade, não vi, até hoje, qualquer governo preocupado em estabelecer essa identidade e muito menos ter ações que pudessem caracterizar a personalidade do município, nem no tempo que Itatiaia com seu maravilhoso Parque Nacional pertencia a Resende. Não temos um Festival que realmente ganhe o país, ou o mesmo o estado do Rio de Janeiro; os eventos alguns até muito interessantes, são pontuais e só acontecem graças ao empenho de algumas pessoas diretamente envolvidas, porque não é planejado e muito menos consta como prioridade para destaque e relevância do município.

A cidade também não apresenta nem uma feira de negócios anual ou mesmo um destaque na economia que seja valorizado por seus moradores, cidades vizinhas e que seja um atrativo para fazer girar a roda da economia. Hoje, todos parecem muito satisfeitos (ou quase todos) com a chegada de fábricas automotivas e de metalurgia que podem garantir, ainda que dentro de uma rotatividade bem conhecida, mas pode manter pouco mais de 16% da mão de obra ativa empregada. Pois é… 16%, mas tem gente que anuncia como se fosse uns 80%, né? Para tirar as dúvidas é só conferir no Caged que é o cadastro do Ministério do Trabalho. O comércio tem destaque negativo por conta da falta de especialização para esta área que hoje ganha agilidade pela velocidade das informações, mas perde nas relações interpessoais, que são negligenciadas por comerciantes, comerciários e governo. O consumidor reclama e muito.

Resende não é um pólo de Educação ou pesquisa, porque também não existem investimentos neste setor, as iniciativas privadas desenvolvem seus negócios sem perspectivas de integração com o poder público. O que existe é a política de boa vizinhança e relações de parcerias para pequenos eventos. Não são fomentados projetos ou programas com continuidade que valorizem o jovem e sua capacidade de empreender nas artes, no esporte ou na ciência.

Existem excelentes profissionais em diversas áreas. A fotografia é uma delas, mas igualmente não existem incentivos ou organização para destaque setor e muito menos organização de um evento que destaque o município. Difícil saber: qual a identidade desta senhora cidade de 212 anos? Vejo com desconfiança quem garante que é industrial. Agropecuária se tinha chances de se firmar um dia, isso atualmente, parece muito distante. O Turismo é um apêndice, onde empolgados e apadrinhados do governo ora destacam uma ideia pessoal, ora nem isso. Não existe um plano municipal do setor, como de tantos outros também inexistentes.

Qual é a cara de Resende? Como podemos identificar o município? Potencial tem, mas de potencial e boa intenção o inferno está cheio. Resende hoje tem um orçamento de quase R$ 400 milhões e a população não consegue efetivamente fazer com que os governos priorizem as pessoas, o ser humano. Tanto dinheiro para esse flagrante desordenamento que esbarramos em toda a cidade, o meio ambiente foi degradado e continua sendo durante os últimos anos e não se vê um compromisso pela sustentabilidade, pelo contrário, o governo autoriza a 3×4 empresas de todos os segmentos de impacto a se instalarem no município com privilégios tributários e nem se dá ao trabalho de comprovar a relação custo/benefício disso, limita-se ao discurso que muitos engolem.

Gostaria muito de parabenizar Resende nestes 212 anos reconhecendo uma mudança de cultura tanto no governo, no que diz respeito à transparência, ao respeito ao cidadão e ao dinheiro público e também uma mudança no exercício da cidadania que cobra, participa e não se contempla com favores de grupos de cada habitante desta terra que já foi dos Puris. Alguém lembra deles aí? Pobres Puris. A cidade está em festa, será que lembram de suas raízes?

Minha filha trouxe, da escola, um exercício com um pequeno texto que destaca o município pela Aman e pelas indústrias, a atividade pedia que ela desenhasse alguma coisa que lembrasse a cidade em seu 29 de Setembro. Pois bem, era apenas um desenho, mas ela quis desenhar três: desenhou o Parque das Águas, o Pátio Mix e a casa onde mora. Confesso que fiquei feliz com a casa como grau de importância na vida da minha filha, mas preocupada com o destaque dado ao shopping, que na verdade foi o primeiro citado por ela, preocupação aliviada pelo desenho do espaço de convivência e de verde que também ganhou destaque na lembrança da pequena. Pois bem, esse exercício colaborou para essa reflexão que aqui compartilho. Será que Resende é mesmo a “cidade da Aman” ou da “Man” ou será da “Nissan”? Como Resende é lembrada, como será lembrada daqui alguns anos? Torço para que um dia, um governo se preocupe em apresentar um diagnóstico sócio-cultural-econômico-sustentável que nos ajude a definir  essa identidade que, por enquant
o, está limitada ao nome do município, com S, porque tem gente que ainda escreve por aí com Z. Sendo assim, e mesmo assim, parabenizo as essa cidade (incluindo aí, é claro, toda gente boa que nela mora) que me acolheu há 25 anos e tem me proporcionado muitas coisas boas, entre amizades e atividades profissionais, além de dar naturalidade ao meu bem mais precioso: minha filha. Parabéns Resende!

Ana Lúcia
Editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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