Trânsito continua sendo um dos principais problemas urbanos em Resende

Inexistente há 50 anos, o bairro Cidade Alegria é um dos pontos mais distantes do centro da cidade e demanda sistema viário

Na terça-feira, dia 29, o município de Resende comemorou mais um aniversário, e segue passando por profundas mudanças em seu processo de ocupação urbana. Há 50 anos, mal se imaginava a existência de bairros como Cidade Alegria, as Fazendas da Barra I, II e III, ou o São Caetano, locais que ainda hoje precisam de maior atenção das autoridades devido à distância destes para o Centro da cidade.

– Sei que bairros como Cidade Alegria, Fazenda da Barra e São Caetano não existiam (há 50 anos). Em comum nesses três bairros temos o distanciamento em relação ao centro. Isso demanda um sistema viário que permita que o deslocamento entre esses bairros sejam facilitados, rápidos e com baixo custo para oferecer à população comodidade para ir ao trabalho, à escola ou às compras – explica o arquiteto Ton Kneip.

Kneip justifica que a Cidade Alegria “teve um desenvolvimento maior, até pelo seu porte, e criou seu próprio centro comercial”, o que pode ter favorecido o bairro, que atualmente integra a Região da Grande Alegria, que tem uma população estimada em mais de 40 mil habitantes. “São Caetano e as Fazendas da Barra não tiveram o processo, além de terem uma maior dificuldade de interligação ao centro da cidade por conta do Rio Paraiba do Sul e da Rodovia Presidente Dutra. Situação diferente da Cidade Alegria que, embora distante, não tem os mesmos obstáculos”.

O arquiteto relembra que o problema da ocupação urbana não afeta apenas Resende, como também as cidades que viraram referência de planejamento no Brasil, entre elas a capital federal (Brasília), onde viveu nos anos de 1970.

  – O planejamento urbano não funciona a longo prazo. É preciso ser revisto constantemente e adaptado para a realidade do momento. Brasília é uma cidade fantástica, mas há muito que o planejamento original se perdeu. Ela foi feita para o automóvel, e seu projeto almejava uma cidade sem cruzamentos e semáforos. Mas era uma cidade muito menor e com uma população menos densa e hoje não é mais possível não ter semáforo ou cruzamento. O trânsito virou caótico mesmo com suas largas avenidas, e a população que precisa se deslocar dos bairros mais afastados perdem muito tempo e dinheiro por causa disso. Problemas semelhantes ao que passamos em razão das distâncias entre os bairros e carência de um sistema de transporte público de qualidade.

Ele defende que haja uma compactação das cidades, com a ocupação dos vazios urbanos como forma de possibilitar deslocamentos menores para as pessoas. “Isso refletiria num menor custo de infraestrutura, uma vez que as distâncias seriam menores e facilitaria a logística das operações. Melhoraria o trânsito e o meio ambiente pois estimulariam as pessoas a usarem menos o automóvel”, acrescenta Kneip, que chegou a integrar a equipe de governo do ex-prefeito José Rechuan Júnior (de 2009 a 2016), e aposta em uma solução (especificada no projeto abaixo).

– Sobre a Resende atual, penso ser uma cidade com grande potencial de crescimento e privilegiada por sua geografia. Predominantemente plana, o que facilita a proposta de implantação de ciclovias, é cortada por vários rios, criando um paradoxo onde temos a beleza junto da responsabilidade ambiental, além da necessidade de soluções para interligar os diversos bairros vencendo esses obstáculos naturais. Acredito fortemente que um projeto de mobilidade urbana que contemple esses pontos contribuiria muito para uma melhor qualidade de vida para a população. Transporte público e ciclovia são, na minha opinião, grandes trunfos para um futuro mais equilibrado para Resende – completa.

ABANDONO DO CENTRO HISTÓRICO
A distância e a disparidade no desenvolvimento dos três bairros citados não são os únicos problemas ocasionados pela ocupação urbana enfrentados por Resende no últimos 50 anos. A historiadora Sônia Pozzato enumerou outros fatores negativos ocorridos durante esse período no município. “Quanto aos aspectos negativos, posso citar o abandono do Centro Histórico, a descaracterização da identidade cultural do município com a destruição dos casarios antigos e de parte de seu patrimônio histórico, o pouco cuidado com praças e jardins, o descaso com o arvoredo urbano e pouco investimento em infraestrutura urbana”, citou.

Praça Oliveira Botelho até os anos de 1940 e atualmente: local passou por muitas mudanças ao longo do tempo

Para ela, Resende, assim como o Brasil, perdeu muito de sua humanidade. “Com o crescimento populacional, o desemprego atacando os lares, as famílias perdendo o seu papel de educadores dos filhos, como acontecia há milênios, com maus políticos dando maus exemplos, noto uma crescente desumanização do homo sapiens, principalmente, em relação à sustentabilidade. É importante que a sustentabilidade do meio ambiente seja cada vez mais uma prioridade para os políticos e para a sociedade em geral, para que a conservação do meio ambiente possa ser alcançada”.

Fotos do trânsito na Avenida Gustavo Jardim, da Praça Oliveira Botelho atual e da Cidade Alegria (Arquivo) e da antiga praça e projeto da ciclovia (Divulgação)

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