Vamos falar de suicídio?!

Há muito tempo as notícias de suicídio ganhavam as primeiras páginas dos jornais. Mas as redações começaram associar – sem estatística científica, apenas um entendimento por inferência – aumento de casos a cada veiculação de uma morte que reflete diretamente na realidade coletiva e social, mas nunca foi consenso, pois sempre se avaliou a notoriedade dos envolvidos ou interesse público das razões do ato. O tema começou a virar tabu e negligenciado também pela imprensa, logo, por parte da sociedade também, que nunca conseguem falar além do fato. Os suicídios não diminuíram com a omissão da divulgação das ocorrências. Pelo contrário, ano passado, no setembro amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, segundo dados do Ministério da Saúde, subiram os casos que as pessoas tiram a própria vida. E o mais alarmante: essa é a causa de mortes entre jovens de 15 e 29 anos.

O Ministério da Saúde, com base nos dados no primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil. Sim, porque o assunto deve ser tratado como questão coletiva e de saúde pública anunciou uma agenda estratégica para atingir meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de redução de 10% dos óbitos por suicídio até 2020. Desde 2011, a notificação de tentativas e óbitos é obrigatória no país em até 24h.

O diagnóstico registrou entre 2011 e 2016, 62.804 mortes por suicídio, a maioria (62%) por enforcamento. Os homens concretizaram o ato mais do que as mulheres, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados. Os solteiros, viúvos e divorciados, foram os que mais morreram por suicídio (60,4%). Na comparação entre raça/cor, a maior incidência é na população indígena. A taxa de mortalidade entre os índios é quase três vezes maior (15,2) do que o registrado entre os brancos (5,9) e negros (4,7). Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é maior entre os homens, cuja taxa é de 9 mortes por 100 mil habitantes. Entre as mulheres, o índice é quase quatro vezes menor (2,4 por 100 mil). Na população indígena, a faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos.

ONDE ESTAMOS ERRANDO?
Minha opinião: existem obviamente vários fatores que contribuem para estes números, vamos sem aprofundamento colocar alguns questionamentos que podem nos ajudar a debater mais o tema e colaborar para a redução destes triste números.

Entre os fatores de risco para o suicídio estão os chamados transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; isolamento social; psicológicos, e problemas clínicos como lesões desfigurantes, dor crônica, neoplasias malignas. E cada caso é um caso e assim deve ser cuidado. O SUS tem recursos e expertise para os tratamentos de Saúde Mental. A questão é: funciona na nossa cidade? Como funciona? O que tem sido feito para atender esses transtornos além de seminários e encontros de profissionais? Quantos grupos terapêuticos de fácil acesso você conhece que funcionam na sua cidade? Enfim, nós entendemos o que é Saúde Mental? Cobramos adequadamente do poder público que ganha recurso para isto?

O suicídio choca as pessoas, mas no Brasil tem sido banalizado até por jogos virtuais. E muita gente ainda prefere apenas lamentar e não falar do assunto. Precisamos sim falar de suicídios, mas não apenas de forma isolada e achando que campanha de conscientização num único mês do ano minimizará o assunto. Precisamos trazer o assunto para dentro de casa, das escolas, da igrejas, dos papos nos bares. Falemos de depressão, das angústias, da desesperança e da dor. Falemos, ainda que sem muita propriedade, porque as pessoas estão se isolando e ficando dependentes de medicamentos. Falemos dos preconceitos e das injustiças. Falemos dos que tiram a vida e dos que pensam nisso, quem sabe conseguimos atentar os que estão a nossa volta e que precisam perceber que não estão tão sozinhos quanto imaginam. Será que conseguimos fazer isso?

Ilustração: Pensar Contemporâneo

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
Blog da Ana Lúcia (alcs.wordpress.com)

Você pode gostar

One thought on “Vamos falar de suicídio?!

  1. Caro leitor, não há apenas uma causa para a ocorrência do suicídio, mas posso enumerar algumas, tais como :
    conhecimento de doença grave e incurável, dependência de drogas pesadas, alcoolismo, problemas ligados a emoção ( perda de um grande amor ou ente querido ), dívidas financeiras, problemas psicológicos grave, etc. A solução é buscar ajuda com especialistas para entender a patologia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.