“Oh Pátria Amada, Por Onde Andarás?”

“OH PÁTRIA AMADA, POR ONDE ANDARÁS?”

O ano começou avassalador pra nossas bandas. Muitas perdas de gente querida. O ano novo não parece diferente do ano velho. Amigos perdendo pai, mãe, avó, marido. Chorando perdas recentes.

E as perdas não param. Até se avolumam e ultrapassam os limites do pessoal atingindo as raias do coletivo. As rédeas que conduziram a nação nos últimos tempos são as mesmas rédeas que comandam desde que aqui aportaram os colonizadores. As mãos que seguram as rédeas hoje são herdeiras daquelas mãos de então.

Na quarta-feira da semana que chega assistiremos a mais um capítulo dessa história que se desenrola há séculos. A história escrita pelos donos da nação. A história que não tolera anseios de independência e autonomia. E os exemplos não são poucos.

Para não ir muito longe, um exemplo moderno foi o caso do presidente Getúlio Vargas. Tolerado e aplaudido pelos donos da nação, enquanto foi ditador, mas aviltado e levado ao suicídio quando passou a olhar de outro jeito a forma de governar o país. O dedo que puxou o gatilho suicida pertencia a essa mesma mão que segura as rédeas.

Lula, o melhor presidente que o país já teve em sua débil história republicana, será condenado por uma corte viciada que nada mais é, que a extensão das rédeas dos donos da nação.

E condenado por nada, sem crimes, ou pelo crime de tentar reduzir o abismo social injusto e abjeto que conhecemos. Na verdade, apenas para desimpedir o caminho da farsa que pretende exibir a fachada de uma falsa democracia. Para que as eleições corram sem risco para eles, os donos da nação e para o senhor de engenho, o traficante de escravos, o barão, o proprietário da casa grande.

E o pior é que muita gente simples, vai aplaudir, pois crêem piamente no que os donos da nação contam, repetidamente, por meio de seus ‘porta vozes’, a velha mídia corporativa e comercial. “O William Bonner falou, eu devo acreditar!”. Aquele velho truque nazista que leva a intensa repetição da mentira torná-la verdade.

Tiradentes, o nosso mártir da Inconfidência também passou por isso. Muitos populares foram assistir o seu martírio naquele distante 21 de abril. Muitas daquelas pessoas simples foram assistir ao espetáculo degradante com a sensação de que testemunhavam a justiça sendo cumprida. Que aquele mineiro que seria enforcado, não passava de um perigoso bandido mesmo. Se fosse hoje seria certamente chamado de comunista. Tolos.

E o Carnaval que bate às portas, com aquele seu jeitão lenitivo, traz para o desfile da Sapucaí um grito de atenção, de lamento e de alerta. Um retrato desses tempos que nunca deixaram de existir e que sempre impulsionaram e alimentaram nossa ânsia de luta por justiça.

A letra forte de um enredo oportuno que descreve em versos bem feitos a tragédia nacional da absurda e gigantesca injustiça social, da exclusão, da intolerância, do racismo, da falta de democracia, só que vestida de uma ingenuidade imatura. O samba arrepiante trata o país como um ente com vida própria. Bem que poderia denunciar a fonte de todos esses males. Denunciar as mãos que seguram as rédeas.

Mesmo assim é um samba histórico, belo e empolgante, cujo papel principal não é mesmo servir de ferramenta política, mas refletir a realidade em que vivemos. Incômoda e injusta. Isso já leva a pensar. Quem sabe, leva a uma reflexão.

Eu, portelense, que admiro muitas Escolas de Samba, mas que nunca fui fã da Beija Flor (muito ao contrário) tiro o chapéu para essa turma: Di Menor BF, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija Flor, JJ Santos, Julio Assis e Diogo Rosa, autores do samba.

Lula, um valente que não se rendeu aos donos da nação e a seus capatazes e capitães do mato, será martirizado apenas para confirmar a morte da nossa frágil e falsa democracia. Que muitos, assim como eu, acreditaram ter chegado a experimentar por alguns tempos. Como fomos tolos.

Mas como decretam os belos versos do Samba Enredo da Beija Flor de Nilópolis: “Ganância veste terno e gravata / onde a esperança sucumbiu / vejo a liberdade aprisionada / teu livro eu não sei ler, Brasil / Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora / feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola”

A dor vai embora…mas volta.

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