Considere a história do outro

Pode ser que você nunca tenha estado naquela casa, mas na cozinha, na primeira gaveta vão estar os talheres, na segunda as conchas e as escumadeiras. Há uma gaveta para panos de prato. No armário do banheiro vai encontrar um remédio com data de validade vencida, uma tampa que não serve em lugar nenhum, um frasco de alguma coisa que já acabou e que já deveria ter sido jogado fora. Em alguma gaveta do quarto tem uma pilha gasta, uma tampa de caneta, um botão, um clips e um papel com um telefone anotado sem nome ou qualquer outra referência. Em algum livro existe uma fotografia perdida.

Certas coisas são muito parecidas e se repetem. Assim como as casas, as pessoas também trazem consigo experiências comuns. Todo mundo guarda dentro de si um amor não dito e silenciado. Um amor que deixou saudade, um relacionamento mal acabado, arrependimentos e confissões caladas.

Cada uma das experiências vividas constrói a pessoa que cada um é. Não se pode negá-las e tão pouco negligenciá-las. É preciso que elas existam da forma como são.

Não se apaga a saudade de alguém. Não se pode apropriar de outra pessoa. Não é possível tentar limpar sua vida, suas marcas e suas cicatrizes.

Somos a soma do que vivemos, choramos e amamos. De dor e tristeza, saudade e lembrança, alegrias, encontros e reencontros no coração é feita a vida que tentamos seguir, carregando fardos e flutuando em plumas.

Ao chegar, seja bem vindo. Ao chegar, considere a história do outro. Ao chegar, chegue apenas. Esteja ao lado, nunca à frente e nem atrás. Só o outro pode mudar o que achar que deve ser mudado. Só o outro.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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