Viagens aéreas

Uma das considerações mais sabias que já ouvi sobre viagens aéreas foi feita pelo Ricardo Freire: Algumas pessoas da primeira classe deveriam estar na executiva, quase todos da classe executiva deveriam estar na econômica e toda econômica deveria ter ficado em casa.

Basta entrar em uma para se entender perfeitamente essa profunda e, fiel e genuína reflexão. Não há espaço. Não há lugar e quase não há educação. Já não basta o que temos que passar para chegar ali? Tire cinto, relogio, pulseira, sapato, coloque tudo em uma bacia para a inspeção, passe pelo detector de metais. Vai apitar. Pode ser seu piercing, seu marcapasso, sua junção de titânio. Nao interessa. Vai apitar. Braços abertos e não encare ninguém. Você tem cara de terrorista. Nao discuta. Pinça de sobrancelhas, tesourinhas, bobagenzinhas vão ficar retidos. Sinceramente, se um avião daqueles puder ser derrubado por uma coisinha dessas, prefiro nem estar a bordo. Contudo, para não me entristecer com essa porcaria, penso que tenho cara de Magaiver. Cuidado comigo.

Vale lembrar que, tanto na classe executiva quanto na primeira classe, os talheres são de metal. Eles só consideram que os terroristas viajam de econômica. De volta para a classe asa. Sem espaço, estava falando. Todos espremidos. Um ônibus intermunicipal tem muito mais conforto e muito mais espaço. Doze horas depois e você ja pode obter o cerfificado de contorcionista iniciante, nível I.

A comida? Fácil: Pasta or Chicken? Escolha uma. Suco, vinho, refrigerante e água. Café sem graça depois. Alguns biscoitinhos no intervalo. O que vão lhe servir sem reservas ou economia? Água.

Quer ir ao banheiro? Faz parte do curso de contorcionista. Espere a primeira hora de voo para se certificar que as pessoas estão cada vez mais precárias em termos de educação e convivência. O mínimo que você vai encontrar é a tampa da cuba sanitária levantada, coisa que para mim é quase morte.

Duas horas críticas: a da decolagem e da aterrisagem. Quer me ver desesperada? Olhe para minha cara. Estarei mais branca que o costume, mãos suando, olhos fechados. Se ouvir alguém rezando do meu lado eu já desmaio. Fico louca! Abomino as palmas para o piloto por fazer o pouso sem muito tranco. Pra que isso? Ninguém me aplaude ao final das aulas, nao aplaudo ninguém.

Enfim, chegamos. Séculos esperando todo mundo tirar as malas de cima. Esperando os das classes nobre e quase nobre descerem sem um amarrotado na cara ou com o cabelo em pé. A fila começa a se movimentar. Experimente olhar para as poltronas e vai se achar em um campo de guerra. Uma imundice, desorganização total! Uma cena desoladora! Exceção ao meu lugar: a manta dobrada, o travesseiro em cima, nenhum papel no chão , tudo organizado.

Sonho com o dia em que vão o dar up grade para quem se comportar na classe asa. Vou estar na fila da frente. Como os alunos comportados que esperam pelo seu lugar nas estrelinhas ou nos foguetes, destaque por merecimento!

Sigo acreditando nessa possibilidade ou ficar rica e viajar melhor.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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