Sinto cheiro de bolo

Sinto cheiro de bolo.

Daqui do meu local de trabalho percebo que alguém acabou de tirar um bolo do forno e essa ação está me desconcentrando. Procuro imaginar a carinha dele: seria de baunilha? De chocolate? De cenoura? Cheiro de bolo é, muitas vezes, muito melhor do que o bolo.

Doce, em geral, não em cheiro. Mas bolo tem. E esse está tirando meu foco.

Minha tia tinha o hábito de fazer um bolo todo sábado. E oferecia para todos os que chegassem com café passado na hora. Certamente aprendeu a receita com a mãe, minha xará Angela. Só que os bolos que minha avó fazia eram com ovos de galinha caipira e ficavam amarelinhos. Desmanchavam, esfarelavam, mas se a gente apertasse, tomava forma compacta.

Esperávamos pelo bolo com ansiedade e salivando, tal o famoso cão de Pavlov. Era um suplício ter que esperar esfriar. Essa era a recomendação, mas dificilmente obedecíamos. A gente comia quente mesmo que era para ver se dava a tal dor de barriga. Nunca deu.

Não me lembro de outro bolo que não fosse o tal bolo branco, ou conhecido como bolo bolo, bolo comum, bolo simples, bolo, ué! Lembro de outros doces maravilhosos que elas faziam, como ambrosia, cocada, doce de abóbora, doce de goiaba. Mas nenhum ficava ou ocupava para nós o lugar do bolo.

Bolo me remete à infância, velhos tempos, casa de avó, café quentinho e alegrias.

Talvez esse cheiro de bolo que sinto agora esteja mexendo mais com minhas lembranças do que com minha fome. Talvez esteja me trazendo mais saudades, mais vontade de agradecer pela vida rica e cheia de bolo que tive do que comê-lo.

Duvido que você, ao ler esse meu escrito, não está pensando nos bolos que se faziam em sua casa. Duvido!

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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