Cuidadoras de idosos e enfermeiro têm prisão decretada em Resende

A Justiça pediu a prisão preventiva de duas cuidadoras de idosos e um técnico de enfermagem do Asilo Nicolino Gulhot, entidade filantrópica, que recebe recursos públicos de Resende. Os três são acusados de estupro de vulnerável e maus tratos contra duas idosas. Dois deles foram demitidos depois das denúncias, mas uma, segundo informou a direção, cumpre férias. A denúncia foi feita ao Ministério Público em maio deste ano, depois das idosas relatarem o sofrimento que passaram no dia 9 de maio no plantão dos três acusados. Uma das idosas, teve um agravamento no suas condições de saúde e apesar de ter um comportamento de auto-estima, fazendo, por exemplo, cabelo e unha semanalmente, entrou num quadro de depressão e morreu pouco mais de um mês depois de relatar a tortura psicológica que sofreu.

A denúncia foi feita por funcionários do asilo que notaram a mudança de comportamento das idosas e o agravamento das condições psicológicas de uma delas. Relatam que todo plantão dos três acusados que se seguiram antes das demissões, era flagrante o medo e reações da idosa de 89 anos que sofreu abusos de cunho sexual. “Eles deveriam ter sido afastados imediatamente para apurar e ouvir as idosas. Era o mínimo que a direção tinha que fazer e não querer falar que elas não têm lucidez”, comentou uma funcionária do asilo, que pediu para não ser identificada com medo de retaliação, porque acredita que outras duas funcionárias foram demitidas “porque não concordaram em ficar em silêncio e prestaram depoimento ao MP relatando tudo que viram e sabiam sobre os três acusados”. Uma funcionária da limpeza e outra da enfermagem foram demitidas logo após prestarem depoimento no Ministério Público.

Os funcionários alertaram a direção que considerou desde o início uma “brincadeira”, mas a idosa passou mal num dos plantões do técnico de enfermagem, na mesma semana, o que levou à família a contratar uma cuidadora particular para ficar com a idosa nos plantões do técnico de enfermagem. O abatimento era visível e os problemas renais da idosa foram se agravando até que foi levada ao Hospital de Emergência, no dia 09 de junho. As condições clínicas da idosa chamaram atenção dos médicos de plantão, um deles chegou a relatar que “com os resultados dos exames podemos suspeitar de que a paciente está sendo mal cuidada e mal acompanhada pelo asilo”, descreveu o médico que fez a internação imediata, mas a idosa não resistiu e morreu uma semana depois.

— Isso não é verdade. Ela tinha médicos que a acompanhavam aqui. A família sabe disso e vai falar isso na Justiça, acredita a assistente social e uma das diretoras do asilo, Carmen Lucia de Souza Pereira que tenta minimizar a questão, afirmando que tudo não passa de problemas de convivência profissional dentro da entidade, ainda que os profissionais que tenham relatado ao promotor criminal todo o ocorrido sejam funcionárias com mais de três anos de serviços no asilo. O presidente do asilo, Joaquim Corrêa Pereira disse que os integrantes da direção da entidade se reuniram e todos entenderam o que a assistente social tenta afirmar. “Foi uma brincadeira”. Carmem Lucia ainda acredita que as idosas relatam situações fantasiosas e dimensionam os problemas e tece elogios aos acusados alegando que prestaram ótimos serviços ao asilo, tanto que lhes foram dadas cartas de recomendação quando demitidos.

A preocupação da direção é também a preservação da imagem da instituição que tem 76 anos no município e que apesar de ser privada, recebe recursos públicos e muitas doações. A Prefeitura de Resende tem um convênio onde repassa cerca de R$ 23 mil mensais para garantir 25 vagas para os idosos sem condições de pagar uma internação particular. Particular era o caso da idosa que morreu, que pagava cerca de R$ 3 mil por mês ao asilo. Mas o que sustenta mesmo a entidade são as doações de alimentos e mensalistas, além de vários eventos beneficentes que revertem o dinheiro para os idosos. Atualmente, o asilo tem 37 internos e as doações representam quase 50% dos recursos da entidade.  O BEIRA-RIO entrou em contato com a Prefeitura de Resende para saber se a Assistência Social tem acompanhado a prestação de contas da entidade, assim como fiscalizado as ações e acolhimento aos internos, mas a Assessoria de Comunicação da prefeitura não retornou com as respostas.

Depois da denúncia ao Ministério Público, o asilo recebeu a fiscalização de vários órgãos, entre eles, o Conselho Regional de Enfermagem, Vigilância Sanitária e uma equipe do MP. Outras denúncias de furto dentro do asilo foram registradas. No final de 2015, uma denúncia nas redes sociais relatou que havia desvio das doações: “(…) desviam grande parte das coisas que são doadas aos nossos velhinhos a pessoa que me fez a denúncia comprou deles, dos funcionários de lá, botijão de gás que eles recebem de doações e os funcionários vendem mais barato para as pessoas, assim como tudo, até mesmo carne, os nossos velhinhos não estão vendo nem a metade do que é doado para eles e outra até mesmo a aposentadoria deles eles pegam a pessoa que trabalha lá nos confessou todos esses relatos pelo amor de Deus alguém tem que fazer alguma coisa. Absurdo, estou chocada, revoltada, vergonha desse povo sem coração e sem humanidade que não pensam que um dia eles mesmo serão os velhinhos (…)”. Na época, a direção do asilo fez uma carta aberta afirmando que era uma calúnia a afirmação e que os botijões tinham sido doados pela 2ª Vara Criminal de Resende, que por ironia, é a mesma que atualmente irá julgar a denúncia dos três acusados. E que foram “vendidos a um custo menor (…) e reverter os valores em benefício da instituição”.

Outros funcionários relataram comportamento inadequado dos acusados durante os plantões: “Não faço ideia porque a direção está tentando abafar isso. Todo mundo aqui sabia como se comportavam e como falavam de outros idosos ou se dirigiam a eles. Pelo menos tudo isso vai ser esclarecido agora, porque esses velhinhos não podem correr mais qualquer risco de maus tratos por parte de nenhum funcionário. No momento há uma articulação para arrumar tudo que está errado, contador, advogados, reuniões diárias, porque o promotor vai voltar dia 10. 

Os advogados de defesa dos acusados tentaram habeas corpus, mas as liminares foram negadas. Os três são considerados foragidos, já que têm prisão preventiva decretada. A próxima audiência de instrução e julgamento está marcada para o dia 22 de agosto.

 

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8 thoughts on “Cuidadoras de idosos e enfermeiro têm prisão decretada em Resende

  1. A administração tem q ser muito cuidadosa, pois se forem culpados, deverão pagar arduamente, porém caso não seja, a vida dessas pessoas podem descer ladeira abaixo e nunca mais serem as mesmas.

  2. Me causa estranheza uma Assistente Social tentar amenizar os fatos, principalmente uma área que esta vinculada a Garantia de Direitos dos usuários. Acredito que o Conselho Regional do Serviço Social também tem que fiscalizar a conduta da colega de profissão, que tenta “amenizar” os fatos. Acredito na intervenção do Ministério Público e será tudo esclarecido.

  3. Sinto muitíssimo o ocorrido!!! Fico ainda mais enojada com a tentativa d alguns tentarem transferir a culpa às próprias vítimas, afirmando q fantasiam os fatos. É possível imaginar o pavor q esses idosos vinham sofrendo. Q nosso bondoso Deus tome a frente do asilo e proteja os nossos velhinhos. Realmente a vontade é parar d contribuir como mensalista.

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