Preferências

Eu prefiro a lua cheia e a noite prateada, mas existem bichos que caçam com mais sucesso na escuridão camuflada da lua nova. Eu prefiro escrever em silêncio e na completa solidão de uma árvore velha em um amplo gramado, mas eu tenho uma filha de quatro anos e ela me garante que ficará quietinha sentada no meu colo. Eu prefiro as manhãs de sol nascendo frio, mas as noites de inverno não têm uma nuvem no céu, e as estrelas, de tantas e brilhosas, parecem que andam dando à luz. Ah, meus amigos, eu confesso que também prefiro não falar sobre política, mas eis que um sujeito senta ao meu lado no ônibus e para começar uma conversa faz uma acusação sem procedentes baseada no que ouviu do telejornal da noite passada.

Eu prefiro o verão quando o dia me acorda, mas quem nunca viveu um inverno frio não sabe o prazer que há em beber uma xícara de chá quente para esquentar o peito. Eu prefiro que meu time vença o campeonato nacional de futebol, mas às vezes a gente não acredita no que vê, embora tenha que acreditar de qualquer modo, no fim. Eu prefiro Crônica do Rubem Braga, pois elas cabem até em horas de tristeza, mas um longo romance de Jorge Amado faz pensar em uma vida inteira. Eu prefiro o mar, mas uma curva de rio pode ter o tamanho de um oceano.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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