Recebi com relativa surpresa

Recebi com relativa surpresa a notícia de que o Comitê da Rio-2016, órgão responsável pela organização da Olimpíada, escolheu apenas cinco religiões para terem representantes em seu centro inter-religioso, montado na Vila Olímpica, para atender atletas que participarão do evento.

Dentre os espiritualistas, somente cristãos, judeus, muçulmanos, budistas ou hindus terão sacerdotes de suas religiões no espaço. Ficam de fora e, portanto, sem representantes de plantão no local, por exemplo, as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda e o espiritismo, que é de origem francesa.

Pelo visto o espírito olímpico não prevê a irmandade no quesito da fé. Não importa se são doutrinas, religiões ou o que quer que seja. O fato é que ou tem um representante para todas ou não tem para nenhuma. Excluir ou menosprezar a crença é pecado mortal.

Aceito o argumento de que exista a inviabilidade para que as mais de 10 mil religiões existentes no mundo tenham representatividade. Afinal, estamos falando de oferecimento de representatividade territorial. Nesse caso, sugiro um desfecho patriótico: o comitê deve escolher apenas uma, aquela que é genuinamente brasileira, ou seja, a Umbanda, nascida ali mesmo, no Rio de Janeiro e que possui uma mistura de várias tradições do país com elementos africanos. E, para quem desconhece, convém apontar que é numericamente importante em termos de praticantes.

As pessoas já começaram a torcer o nariz para minha solução. Sim, pois ao escolher a Umbanda e deixar a sua crença de fora, sentem-se ultrajadas. Pergunto, então, por que as pessoas de outras crenças não podem se sentir da mesma maneira vendo que sua fé é excluída ou por desconhecimento ou por intolerância?

Existe muito preconceito e este é fomentado pelo despreparo, pela ignorância e ausência de leitura. Quanta falta faz um aprendizado sério e sistematizado da realidade histórica que construiu o presente em que vivemos!

Fomos colonizados pelos europeus, continente cristão, que tratou de dizer que os tambores africanos eram perniciosos. Os incautos continuam a propagar tal heresia e a hostilizar quem não professa a mesma fé que a sua.

Se o propósito primeiro da Olimpíada é aproximar povos e irmanar espíritos, que comece com que realmente importa: respeito, tolerância, acolhimento e amor ao próximo. Coisa que toda religião prega e propaga. Ou a sua é diferente?

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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