Estava resolvida a não colocar meus pés na cidade do Rio de Janeiro

Estava resolvida a não colocar meus pés na cidade do Rio de Janeiro nos dias em que ocorreriam as olimpíadas por um único motivo: a ausência de fé na segurança que a cidade poderia oferecer durante o evento.

Durante todo o ano, mas especialmente em épocas festivas como carnaval, virada do ano e férias, a tendência é o crescimento da violência. O Rio de Janeiro é lindo e continua lindo visto de cima e especialmente na zona sul, que tem merecido um tanto da atenção do governo, mas ainda longe do desejável. Mais de perto, pode-se notar que a cidade foi tomada pela marginalidade e os demais cidadãos pagam por essa infâmia. Os bairros das zonas leste, oeste e norte foram esquecidos e padecem, carentes de cuidado e de um olhar mais responsável por parte das autoridades que se comprometem a zelar pela cidade e não se mexem muito. Contudo, o médico que realizou minha cirurgia marcou a derradeira consulta para a alta almejada justamente no meio do mês e não me restou alternativa, a não ser encarar a cidade. E qual não foi minha surpresa?

A cidade está envolta em uma atmosfera de segurança e leveza. Tirando o caos do trânsito, tudo anda fluindo bem. Pivetes? Não vi. Mendigos? Sumiram. Pedintes? Tiraram férias. O que foi que aconteceu? Muito simples: resolveram maquiar a cidade e guardaram embaixo do tapete tudo aquilo que depõe contra a beleza que os governantes esperam ser observada pelos turistas.

Em todos os lugares encontrei pessoas educadas e solícitas, bem paramentadas para serem reconhecidas como informantes, orientando pelas ruas, metrô e outros lugares públicos. Visitantes felizes transitam pela cidade em um clima de festa e harmonia, como nunca havia observado antes. Até eu mesma me senti protegida, mas com cautela sem dar muita chance para o azar.

Voltei para minha cidade, Resende, com um sentimento inverso: a de estar deixando uma cidade segura para chegar em uma cidade onde a criminalidade cresce de forma assustadora e desgovernada. Quem diria!

Não vejo como as coisas podem melhorar. Considero a violência uma pandemia em nosso tempo. A todo instante sou informada de alguém próximo que foi vítima. Minha faxineira mudou o horário da faxina para voltar para casa mais segura, as ruas ficam desertas mais cedo e as pessoas andam desconfiadas, com medo justificado de perder seus pertences ou serem machucadas.

Não faço ideia de como reverter esse cancro instalado e sem antídoto eficaz em vista. Só penso que se houver vontade dos governantes aliada à conscientização da população, conseguiremos alguma coisa.

Talvez minha esperança seja a maior violência que imponho: eu me forço a sonhar e com isso, reconhecer e me defender do perigo iminente.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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