Onde mora a felicidade

Ao ser perguntada sobre o que é felicidade, a criança disparou uma resposta que parecia trazer na ponta da língua: “ É ganhar na hora aquilo que a você mais queria”!

É certo que o universo infantil, bem menos complexo do que o do adulto, tem essa habilidade de oferecer prontidão para uma investida que pretende ser tão certeira. Talvez porque a felicidade para as crianças seja muito mais consistente, mais autêntica e muito mais fácil de ser alcançada. Elas demonstram mais facilmente estarem de posse do que qualquer adulto. E podemos verificar, não é preciso de grandes esforços, como elas são contagiadas, infectadas, infestadas com a tal felicidade! A nós, adultos racionais e contidos, frente ao mesmo questionamento resta um enorme silêncio lacunar e o desejo de muito tempo para pensar em uma resposta convincente.

Costumamos desprezar a felicidade que acontece em todos os dias da nossa vida em função da espera de um dia ser feliz. Ao nutrimos a ideia de que esse dia chegará, cegamos e condenamos ao ostracismo a legítima felicidade que nos acompanha a todo momento, prestes a eclodir ao menor sinal de permissão da nossa parte.

A maior prova de que isso acontece é o retrocesso que costumamos fazer e a isso comentar: eu era feliz e não sabia. Quando, então, saberemos?

Saberemos no dia em que encontrarmos essa preciosidade guardada em nós. Jamais seremos felizes se depositarmos esse fardo em outra pessoa. Quem nesse mundo merece ser depositário de tamanha responsabilidade, a de nos fazer feliz? Observo pessoas condenando outras ao fracasso, somente por dizer: só você me faz feliz! Errado: só nós podemos nos fazer felizes! Se não encontrarmos a felicidade dentro da gente, não encontraremos mais em lugar nenhum, estejam certos! Reconhecer essa felicidade como moradora da nossa alma nos faz comungar com os amigos que nos cercam, valorizar a família, ter apreço pelo outro, ter paciência com o mundo, gostar do trabalho, cuidar da saúde, apreciar o que temos para nos matar a fome, alegrar-nos ao constatar sobre o quanto podemos sorrir e gargalhar da vida, ou descobrir quantas pessoas podemos abraçar e com isso, quantos corações ouvir. Quando realizamos a felicidade, encerramos nela muitos outros valores como justiça, liberdade, amor. A felicidade é a reunião de muitos valores que nos são fundamentais para existir.

Se somos felizes, sentimos a vida que nos invade ao abrir a janela e poder observar o dia de sol ou chuva, por presenciar espetáculos da natureza e achar que eles foram feitos para nós. Tão simples de ser descrito, tão complexo de ser sentido!

Somos exigentes e inalcançáveis por vezes. Vestimos as armaduras da angústia e da falta. Decretamos um alto preço para alcançar a tal felicidade. Dessa forma, ela passa a custar caro, não no valor monetário, mas pelo tanto que temos que desprender de esforço para alcançar.

Ser feliz é satisfazer nossa condição humana. Entretanto, nos esquecemos que a alimentamos com desilusões e rancores, mágoas e ressentimentos. Sendo assim, atender a essa condição que se mostra irascível e intolerante é uma tarefa das mais difíceis para essa tal felicidade tão decantada em prosa e verso, tão almejada e acalentada. Tão desejada, mas tão equivocadamente entendida e perseguida.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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