Primeiramente devemos nos lembrar que um dos grandes protagonistas de Palmares, quilombo situado na Serra da Barriga (AL), foi Zumbi. O feriado em alusão a sua pessoa é parte de um movimento que inclui homens e mulheres (Dandara, por exemplo) que são igualmente importantes para pensarmos na importância do tema.
Quando celebramos a memória e resistência do 20 de novembro devemos pontuar algumas coisas. Uma delas diz respeito à inclusão que era oferecida nos quilombos. Algumas pessoas em situação desfavorável (mestiços, indígenas, entre outros) que integravam o quilombo. Nesse sentido, a memória tem relação com a inclusão de pessoas em situação desfavorável que puderam ser assistidas pela experiência dos quilombos.
Há também a importância em se afirmar a periferia do sistema que organizada consegue oferecer alternativas de sobrevivência às pessoas. Os quilombos, além da agricultura de subsistência, ofereciam a possibilidade de negociação do excedente de produção. Sendo assim, apontam para uma economia alternativa, inclusiva e vinda da periferia.
Não se pode deixar de mencionar a questão racial bom que envolve o tema, uma vez que, a experiência de Palmares é uma experiência negra, de afirmação da potência da negritude num Brasil escravista e que passados alguns anos da abolição formal da escravidão carrega traços do sistema de dominação de corpos e aviltamento de mentes, que se faz sentir em várias localidades do país.
Nesse sentido, o dia da consciência negra precisa ser pontuado como uma celebração, memória e reinvindicação de direitos que ainda não foram efetivados de forma plena, sobretudo, quando se trata da população negra.
A história de Resende está diretamente ligada a questão da escravidão, uma vez que, a cidade era rota do escoamento do ouro e posteriormente foi parte ativa no ciclo do café.
O historiador (negro) resendense (de coração) Claudionor Rosa dizia que no pós-abolição os negros passaram a habitar bairros como Lavapés e posteriormente Vicentina e Santo Amaro. Alguns ainda no período da escravidão foram habitar no Quilombo Sant’Ana (Quatis) na fronteira com a região da Vila da Fumaça, onde habitavam os indígenas puris.
Atualmente, pensar no dia da consciência negra é pensar em espaços e iniciativas de resistência dos valores negros na sociedade. Nesse sentido, destaco três (poderiam ser muito mais) personagens da atualidade que lutam por espaços negros.
Ubiratan Oliveira (DJ Birinha) – Atual como DJ de charme, um ritmo ligado à tradição negra e é integrante de coletivos negros que incentivam a participação e inserção social negra na sociedade resendense, além disso, é militante político e tem ações voltas aos direitos de trabalhadores. Um importante nome da contemporaneidade.
Cláudio Freitas – mestre de capoeira e DJ. Atua no movimento negro há mais de três décadas. Um incansável lutador da cultura negra e valorização das tradições negras em Resende. Suas intervenções na cultura, arte e esporte possuem caráter amplo socioeducativo e cultural.
Sônia Freitas – professora e atuante em várias pautas do movimento negro. Ultimamente tem resgatado a cultura do jongo. Além disso, atua em palestras e iniciativas coletivas visando a educação e divulgação do legado negro na sociedade resendense.
Obviamente que poderiam contar vários outros nomes nessa lista, contudo, citando esses entendemos que colaboramos para o fortalecimento de uma memória coletiva. Memória essa que diz muito sobre a tradição negra.
A luta negra é uma luta histórica, que se inicia antes de nós e (infelizmente) não terminará conosco, pois as próximas gerações terão muito o que lutar. Contudo, temos em mente que só o coletivo nos salvará.
Luis Carvalho – filósofo