No Dia de Hoje – 17 de dezembro

No dia da tragédia, circo havia recebido um público aproximado de 3 mil pessoas durante apresentação (Foto: Arquivo/UFF)

No dia 17 de dezembro de 1961, um incêndio criminoso de grandes proporções matou 503 pessoas e feriu mais de 800 na tragédia do Gran Circus Norte-Americano, na cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O circo iniciou suas apresentações na cidade dois dias antes, em 15 de dezembro.

Os anúncios diziam que era o maior e mais completo circo da América Latina – tinha cerca de 60 artistas, 20 empregados, e 150 animais. O dono do circo, Danilo Stevanovich, havia comprado uma lona nova, que pesava seis toneladas, e seria feita de náilon – detalhe que fazia parte da propaganda do circo. O Norte-Americano chegou a Niterói uma semana antes da estreia e instalou-se na praça Expedicionário, na avenida Feliciano Sodré, centro da cidade.

A montagem do circo demandava bastante tempo e muita mão de obra. Danilo contratou cerca de 50 trabalhadores avulsos para a montagem. Um deles, Adílson Marcelino Alves, o Dequinha, tinha antecedentes na polícia por furto e apresentava problemas mentais. Trabalhou somente dois dias e foi demitido por Danilo Stevanovich. Dequinha ficou inconformado e passou a ficar rondando as imediações do circo.

Na estreia, 15 de dezembro de 1961, o circo estava tão cheio, que Danilo Stevanovich mandou suspender a venda de ingressos, para frustração de muitos. Nessa noite, Dequinha tentou entrar no circo sem pagar o ingresso, mas foi visto e impedido pelo domador de elefantes, Edmilson Juvêncio.

No dia seguinte, 16 de dezembro, sábado, Dequinha continuava a perambular pelo circo e começou a provocar o arrumador Maciel Felizardo, que era constantemente acusado de ser culpado da demissão de Dequinha. Seguiu-se uma discussão e Felizardo agrediu o ex-funcionário, que reagiu e jurou vingança.

Na tarde de 17 de dezembro, Dequinha se reuniu com José dos Santos, o Pardal, e Walter Rosa dos Santos, o Bigode, com o plano de pôr fogo no circo. Eles se encontraram num local denominado Ponto de Cem Réis, na divisa do bairro Fonseca com o centro da cidade, e decidiram pôr em prática o plano de vingança.

Um dos comparsas de Dequinha, responsável pela compra da gasolina, advertiu o chefe da lotação esgotada do circo e iminente risco de mortes. Porém, Dequinha estava irredutível: queria vingança e dizia que Stevanovich tinha uma grande dívida com ele.

Com três mil pessoas na plateia, era 15h45 quando faltavam 20 minutos para o espetáculo acabar, e a trapezista Nena (Antonietta Stevanovich, irmã de Danilo) notou o incêndio. Em pouco mais de cinco minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. Trezentas e setenta e duas pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam com a demora da chegada das equipes de resgate, chegando a mais de 500 mortes, das quais70 % eram crianças.

Ironicamente, a fuga da elefante Semba da sua jaula foi o que acabou por salvar a imensa maioria. O animal, com sua força, arrebentou com parte da lona, abrindo caminho a um maior número de sobreviventes a fugir. A lona, que chegou a ser anunciada como sendo de náilon, era, na verdade, feita de tecido de algodão revestido de parafina, um material altamente inflamável.

Por coincidência, naquele dia, a classe médica do estado do Rio de Janeiro estava em greve. O Hospital Antônio Pedro, o maior de Niterói, estava fechado. A população arrombou a porta e, os médicos em greve foram sendo convocados através da rádio, pelos soldados do Exército Brasileiro, os quais compareceram ao hospital de imediato. Médicos de clínicas privadas também foram atender ao hospital.

Inclusivamente, outros circos, cinemas e teatros de Niterói, Rio de Janeiro e outras cidades vizinhas cancelaram seus shows e espetáculos para averiguar se haveria médicos entre o público, tal foi a dimensão da catástrofe. Padres também foram convocados emergencialmente, para darem a unção dos enfermos (antes chamada extrema-unção) às vitimas que já se sabia que não tinham qualquer hipótese de sobrevivência.

Nos dias seguintes, várias personalidades da elite fluminense e, brasileira no geral, deslocaram-se à Niterói para prestar o máximo de apoio e auxílio às vitimas. Dentre essas personalidades, destaca-se o então ex-presidente, João Goulart.

Dequinha (à esquerda), e Bigode (à direita), sendo interrogados pelo governador Celso Peçanha (no Centro) (Foto: Arquivo Nacional)

As agências funerárias não tinham mãos e tempo a medir, tal era elevado o número de caixões que eram necessários, para enterrar as vítimas fatais. O Estádio Caio Martins foi transformado numa oficina provisória para a construção rápida de urnas, com carpinteiros da região a trabalharem dia e noite. Os cemitérios municipais de Niterói logo ficaram com os túmulos esgotados; assim, um terreno de roça no município de São Gonçalo, vizinho de Niterói, foi usada de urgência como cemitério para enterrar o restante dos corpos.

Com base no depoimento de funcionários do circo que acompanharam as ameaças de Dequinha, ele foi preso em 22 de dezembro de 1961. Os cúmplices Bigode e Pardal também foram presos. Em 24 de outubro de 1962, Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão e a mais seis anos de internação em manicômio judiciário, como medida de segurança.

Onze anos após, em 31 de janeiro de 1973, ele fugiu da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói, e foi encontrado morto com 13 tiros no alto do morro Boa Vista, na mesma cidade. O autor do crime jamais foi descoberto. Bigode recebeu 16 anos de condenação, e mais um ano em uma colônia agrícola. Finalmente, Pardal foi condenado a 14 anos de prisão, e mais dois anos em colônia agrícola.

Fonte: Wikipedia

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