Fome segue atormentando três entre 10 famílias brasileiras entre 2021 e 2022

Estado do Rio de Janeiro tem quase 10 milhões em situação de insegurança alimentar (Foto: Sara Gehren/Divulgação)

Com a pandemia e a crise econômica que afetam o Brasil, o país segue registrando aumento no número de famílias que sofrem pra comprar alimentos. Segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), divulgado nesta quarta-feira, dia 14, três em cada 10 famílias brasileiras tiveram dificuldades para comprar alimentos e tiveram que reduzir a quantidade de algum item – sofrendo insegurança alimentar moderada ou grave.

Considerando também a insegurança alimentar leve, são 125,2 milhões de pessoas com preocupação sobre a disponibilidade de alimentos, com algum grau de indisponibilidade dos mesmos ou passando fome – ou seis em cada dez famílias brasileiras.

Apesar de proporcionalmente atingir mais as regiões Norte e Nordeste, a maior concentração de pessoas que passam fome em números absolutos está no Sudeste, região mais populosa do país. Os dados são puxados principalmente por São Paulo, com 6,8 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave, e pelo Rio de Janeiro, com 2,7 milhões na mesma situação.

Considerando toda a população em insegurança alimentar (leve, moderada ou grave), São Paulo também lidera, com 26 milhões, seguido por Minas Gerais, com 11,2 milhões. Já o Rio de Janeiro contabiliza quase R$ 10 milhões nessa situação.

A maior proporção de famílias em insegurança alimentar grave está nas regiões Norte e Nordeste do país. Alagoas é o estado em que essa situação é mais frequente, atingindo 36,7% das famílias pesquisadas. Em segundo lugar, vem o Piauí, com 34,3%, seguido pelo Amapá, com 32% dos domicílios nessa situação. Na sequência, estão Pará e Sergipe, ambos com 30% da população atingida.

Além do grande número de atingidos pela fome, os pesquisadores constataram que o problema se agravou após a pandemia, com queda na renda das famílias e aumento do custo de vida. Segundo o levantamento, as famílias com renda inferior a meio salário-mínimo por pessoa estão mais sujeitas à insegurança alimentar moderada e grave. O Sergipe é o estado mais sujeito ao problema da insegurança alimentar, com 76,5%, seguido do Maranhão (72%), Pará (67,6%) e Piauí (66,1%).

Rosana Salles, professora do Instituto de Nutrição da UFRJ e pesquisadora da Rede Penssan, aponta que uma parcela significativa da população com renda de até meio salário-mínimo não foi contemplada pelo Auxílio Brasil.

– É uma parte da população que já sofre com a insegurança alimentar. A atual política pública deixa de fora famílias que estariam socialmente elegíveis ao recebimento de uma renda, e que estão em alta vulnerabilidade alimentar – comenta em nota.

A pesquisa também aponta que a renda, que já vem se mostrando insuficiente para as necessidades básicas, vem precisando estar dedicada, também, aos custos com endividamento.

Na maioria dos estados do Nordeste, pelo menos 45% das famílias estão endividadas – em Alagoas este índice chega a 57,5%. Os números também são alarmantes no Amazonas (52,6%) e no Distrito Federal (55,6%).

– Mesmo as famílias que recebem o Auxílio Brasil, por estarem endividadas, não conseguem utilizá-lo somente para a compra de alimentos. O recurso precisa ser utilizado para pagar outras necessidades básicas, como aluguel, transporte, luz e água – complementa Ana Maria Segall, pesquisadora da Rede Penssan e da Fiocruz.

INSEGURANÇA ALIMENTAR
O conceito de insegurança alimentar foi dividido pelo estudo em três níveis: Leve (quando há preocupação ou incerteza se vai conseguir alimentos no futuro); Moderada (quando há uma redução concreta da quantidade de alimentos e o padrão saudável de alimentação é rompido por falta de comida); e Grave (quando a família sente fome e não come por falta de dinheiro).

Considerando o recorte nacional, a insegurança alimentar grave atinge 15,5% das famílias, enquanto a insegurança alimentar moderada afeta 15,2%.

Os pesquisadores foram de casa em casa, de novembro do ano passado a abril deste ano. Eles visitaram 12.745 domicílios em 577 cidades, em todos os estados do país e no Distrito Federal.

Fonte: g1

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