Concessionária de energia que abastece Resende é questionada na Alerj

Guilherme Brasil, representante da concessionária, esteve presente em evento para justificar problemas em atendimentos da Enel (Foto: Julia Passos/Divulgação Alerj)

Nesta quarta-feira, dia 25, a concessionária de energia elétrica Enel, que atende o município de Resende, teve seus investimentos questionados pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo o presidente da Casa Legislativa, deputado André Ceciliano (PT), a Alerj vai solicitar ao Tribunal de Contas da União (TCU) auditoria dos investimentos da concessionária que foram incorporados à tarifa paga pelos consumidores, que nos últimos anos reclamam dos serviços prestados pela empresa.

A medida foi anunciada durante evento do Fórum da Alerj de Desenvolvimento do Rio para discutir os problemas de fornecimento de energia na região Noroeste do estado. “Já sabemos que os investimentos em infraestrutura não foram feitos, mas queremos ouvir as soluções para os problemas técnicos que vêm sendo enfrentados, como a religação da energia e a contratação de demanda energética. Nós vamos encaminhar as demandas para o Ministério Público e fazer um pedido ao Tribunal de Contas da União de auditoria sobre todos os investimentos feitos pela empresa nesses mais de 20 anos de concessão”, explicou Ceciliano.

Durante o evento, os parlamentares expuseram problemas enfrentados pelo setor industrial do Norte e Noroeste Fluminense, indo desde o corte injustificado de luz até a recusa para ampliação da demanda energética de determinado estabelecimento, fora a oscilação de tensão que danifica equipamentos, paralisa indústrias e impede a ampliação da estrutura produtiva, trazendo prejuízos a economia local.

O vice-presidente da comissão de Minas e Energia da Alerj, deputado Chico Machado (Solidariedade), afirmou que os problemas com a Enel vão além do Noroeste fluminense. “São 77 municípios atendidos e todos eles enfrentam problemas. Essa infeliz realidade também aparece em Macaé, uma cidade rica, que é a capital nacional do petróleo e gás”, disse Machado, cobrando a atuação dos senadores e deputados federais eleitos pelo estado. “Todos devem ter um compromisso com o Rio de Janeiro”, declarou.

Ainda que o evento discuta em especial os problemas das duas regiões com a Enel, a empresa tem um histórico questionável de atendimento entre os consumidores em Resende, que é um dos três municípios atendidos pela concessionária na Região das Agulhas Negras. Não é de hoje que consumidores reclamam, tanto pelas redes sociais quanto em entrevistas ao jornal BEIRA-RIO. Nos últimos meses, muitos moradores estão se queixando da dificuldade e da demora em conseguir agendar o atendimento.

Há quatro anos, jornal BEIRA-RIO relatou drama de donos de pizzaria que sofria com mau atendimento da Enel, em Resende (Foto: Arquivo)

– O que está acontecendo com a Enel em Resende? A loja não atende o Cliente, onde precisa marcar por telefone ou na loja. A data mais próxima é 07/03/2022 para levar os problemas para avaliação da empresa, isso quer dizer que em Resende levamos uma média de 30 dias para solucionar os problemas, mas quando não pagamos a fatura o corte é rápido. Atenção Aneel, precisamos de uma vistoria dos serviços prestado em Resende! – denunciou um internauta em fevereiro deste ano, no canal Bom Dia Resende.

Outra moradora, que vive na zona rural de Resende, também se queixou da cobrança da taxa de iluminação pública, alegando não ter qualquer benefício desse tipo. “Indignada com essa Enel, onde de um mês pro outro o consumo de energia iria triplicar de 140 pra 310 kilowatts, ainda mais aqui na zona rural (Fumaça). Sendo que não mudou nada, são duas televisões, geladeira, lâmpadas e chuveiros, tudo isso tudo sem falar na iluminação pública que veio descontado R$ 26 reais sem ter a iluminação pública. Isso aqui é privilégio de alguns, já que moro afastada do vilarejo. Isso é roubalheira!”, disse em sua publicação no post, feita em dezembro do ano passado.

Em anos anteriores, o jornal também realizou matérias com moradores do município, uma vez que a Enel tem histórico de reclamações mais antigas. No ano de 2018, duas matérias com donos de estabelecimentos comerciais mostram a falta de qualidade e demora na solução dos problemas relacionados a oscilação ou falta de energia elétrica.

Na primeira, feita em março, moradores de diversos bairros de Resende sofreram com a queda na energia elétrica, incluindo o Jardim Primavera. O pintor Nilson Coutinho entrou em contato com a equipe do jornal BEIRA-RIO, e relatou que o problema da oscilação e queda de energia acontecia constantemente há três meses, e demorava a ser solucionado.

– Não aguentamos mais o descaso da Enel ontem (terça-feira)! A luz acabou antes da 7 da noite (19 horas do dia 20 de março daquele ano) e só voltou às 3 e 20 da madrugada (3h20). Eu, voltando da igreja às 9 e meia da noite (21h30), não vi nenhum carro da empresa fazendo reparos (…) – desabafou o morador, na ocasião.

Na matéria do mês seguinte, proprietários de uma pizzaria no Centro da cidade relataram o convívio com problemas de oscilação na energia elétrica do estabelecimento. “Já reclamamos, chamamos a Enel. Os funcionários da empresa vieram e disseram que haviam detectado uma peça com problema e retiraram. Mas o problema continua persistindo. Meu pai voltou a reclamar, e a empresa falou que enviaria novamente seus funcionários para colocar medidor na rede e verificar o que de fato está acontecendo”, disse o gerente da pizzaria, Rodrigo Carelli.

DIFICULDADES PRA SOLUCIONAR DEMANDAS
O gerente de Relações Institucionais da Enel, Guilherme Brasil, justificou as dificuldades da concessionária para solucionar as demandas. “Algumas perguntas foram bem específicas e eu não tinha os dados disponíveis no momento, mas já combinei com o presidente de respondê-las antes mesmo da próxima reunião. Na semana que vem, devemos entregar essas respostas por escrito”, disse Brasil, que reconheceu os problemas no fornecimento de energia e afirmou que a atuação da empresa para resolução de determinadas demandas é limitada. “A gente precisa pedir permissão do Governo federal para tudo, não adianta só a empresa e o Governo do Estado quererem”, afirmou durante a audiência.

O presidente marcou uma nova reunião no dia 8 de junho para receber as respostas da empresa a dúvidas que não foram esclarecidas. Entre eles, está o detalhamento dos investimentos em novas linhas de transmissão e subestações realizadas nos últimos dez anos e o número de equipes permanentes de manutenção de redes disponíveis na região.

A Enel é detentora de uma concessão de parte dos serviços de energia elétrica no estado. Por se tratar de uma concessão federal, a fiscalização fica a cargo da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Há, no entanto, um convênio que permite a fiscalização por parte da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado (Agenersa), que estadual afirmou que um concurso público está previsto para contratar técnicos que fiscalizem o serviço.

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