Será que ainda é cedo para flexibilizar o uso de máscaras?

Com números baixos de internações hospitalares, Resende e outros municípios da região retiraram obrigatoriedade do uso da máscara (Foto: Reprodução/SES)

Desde o início do mês de março, com a queda registrada nos índices de infecções, internações e mortes pela onda da variante ômicron da Covid-19, vários estados brasileiros começaram a decretar a não obrigatoriedade da máscara, inclusive o Rio de Janeiro, onde o governador Cláudio Castro assinou o Decreto nº 47.973, no dia 3 deste mês, que torna facultativo aos municípios a flexibilização do uso de equipamento, inclusive lugares fechados.

Como justificativa, o decreto acrescenta que “em função da alta cobertura vacinal e de haver municípios com baixo risco para a doença e outros ainda saindo da quarta onda da Covid-19 provocada pela variante Ômicron (quinta, na contagem da SES-RJ, em levantamento realizado pela secretaria), caberá aos gestores municipais a decisão de liberar ou não o uso do equipamento de proteção individual (EPI)”.

Com a medida estadual, muitos prefeitos, levando em conta essas mesmas justificativas, decidiram tornar facultativo o uso das máscaras, inclusive o de Resende, que também decretou novas regras para o uso do EPI quase uma semana mais tarde (Decreto nº 14.761, de 9 de março de 2022). No município, ainda assim, o decreto recomenda (mas não obriga) que o uso seja mantido por pessoas imunocomprometidas, com comorbidades de alto risco ou com sintomas gripais, e em locais como unidades de saúde e instituições de Longa Permanência para Idoso (ILPI).

Ainda assim, com o histórico de altas taxas de transmissibilidade do coronavírus, que vem piorando a cada nova variante de preocupação detectada pelos cientistas, aliada à baixa cobertura vacinal observada nas áreas mais pobres do planeta, em especial o continente africano, ainda pode ser muito prematuro recorrer à não obrigatoriedade do uso do EPI, tão necessário no enfrentamento a Covid-19.

Mesmo que os índices estejam relativamente baixos, tanto no Brasil como no estado do Rio de Janeiro (Resende e região seguem em bandeira amarela pelas estatísticas da SES-RJ, como área de baixo risco), e também em Resende, a pandemia ainda não está totalmente controlada. Após a flexibilização do uso das máscaras, o número de pessoas infectadas e de mortes ainda seguem aumentando no município, mesmo com a queda no número médio de internações (com taxa de 5,2% nas UTIs e de 3,5% nas enfermarias).

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (em parceria com a Faculdade de Tecnologia da UERJ), um dia após a assinatura do decreto municipal, Resende tinha 25.409 casos da Covid-19 e 544 mortes.

Quase uma semana depois, no dia 16, foram confirmadas mais três mortes e mais 164 casos positivos da doença; cinco dias mais tarde (dia 21), mais uma pessoa morreu e mais 158 casos de infecção foram confirmados. Dois dias depois, mais uma morte e outros 15 casos foram registrados. E nos dados mais atualizados da pandemia, divulgados no final da tarde desta segunda-feira, dia 28, mais duas mortes (registradas nos dias 1º e 3 de março) e outros 91 casos de infecção foram confirmados.

Ou seja, em apenas duas semanas, Resende registrou sete mortes a mais, além de 428 casos confirmados de Covid-19, mostrando que a taxa de positividade ainda seguia alta, de acordo com os dados divulgados sobre a pandemia no último dia 21. Um dos gráficos aponta que no dia 4 de março, cinco dias antes do decreto assinado, Resende registrava uma taxa de 37,5%, ainda considerada alta (chegou a ser de mais de 70% na medição de 4 de fevereiro).

Tanto que os números de pessoas com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) seguem crescendo. Do dia 10 até esta segunda-feira, foram 3.958 pessoas a mais apresentando síndromes gripais, o que ainda evidencia essa positividade.

As notícias vindas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do outro lado do mundo servem de alerta para quem acredita que a pandemia já está superada. No Brasil, o novo Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado na última sexta-feira, dia 25, alerta para o aumento de casos de SRAG entre crianças, ao longo de fevereiro e março deste ano.
Entre aquelas na faixa etária de 0 a 4 anos, a média móvel dos casos aumentou em cerca de 77%, passando de 970 casos semanais para cerca de 1.870. Entre as crianças de 5 a 11 anos, o aumento na média foi de 216%, passando de 160 casos semanais para uma média estimada em 506 casos semanais.

O aumento, segundo a Fiocruz, coincide com o período de retomada o ano letivo nas escolas. A maior parte dos casos com resultado positivo para vírus respiratórios foi de Covid-19, exceto entre as crianças de 0 a 4 anos. Entre a população geral, a prevalência entre os casos com resultado positivo foi para a Covid-19 em 73,8% e entre as mortes, a presença do vírus apareceu em 98,5% dos casos.

Taxa de positividade para o vírus ainda apresenta alta em Resende (Foto: Reprodução/PMR)

O mesmo boletim mostra que a curva nacional dos casos de SRAG, considerando todas as idades, mantém sinal de queda nas tendências de longo prazo, ou seja considerando os dados das últimas seis semanas, e de curto prazo, consideradas as últimas três semanas. Há, no entanto, indícios de possível início de estabilização em patamar que já é inferior ao de começo de novembro de 2021, quando havia sido registrado o menor número de novos casos semanais desde o início de epidemia de covid-19 no Brasil.

Os novos dados mostram que quatro das 27 unidades federativas apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo: Distrito Federal, Espírito Santo, Roraima e Sergipe. Outros seis estados apresentam sinal de crescimento apenas na tendência de curto prazo: Acre, Alagoas, Goiás, Maranhão, Paraíba e Rio de Janeiro, ainda que nessas localidades a Fiocruz aponta que os crescimentos sugerem tratar-se de cenário restrito à população infantil.

ALERTA DA OPAS
Em matéria publicada pela Agência France-Presse (AFP) no dia 16 deste mês, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou também para o aumento das infecções por Covid-19 em várias partes do mundo. Segundo a Opas, isso é “uma advertência” para as Américas de que o vírus não está sob controle, apesar da diminuição do contágio na região.

O órgão ainda informou na ocasião que as infecções pelo novo coronavírus aumentaram 28,9% na semana passada na região do Pacífico Ocidental, que inclui a China; 12,3% na África; e quase 2% na Europa em relação à semana anterior.

Nas Américas, pelo contrário, os casos continuaram em queda pela oitava semana consecutiva, com mais de 901.000 novos casos relatados na semana de 6 de março, uma queda de 19% em relação à semana anterior. As mortes semanais mantiveram a curva descendente pela quinta semana consecutiva, com 15.523 novas mortes relatadas (-18,4%). Apenas no Caribe e nas ilhas do Oceano Atlântico os casos aumentaram 56,6%. Representantes do órgão também pediram às autoridades desses lugares que as medidas de saúde pública para conter o contágio sempre sejam consideradas, entre elas o uso de máscaras.

A China, aliás, vem enfrentando um surto dentro de seu território, o que obrigou o governo daquele país a promover um novo lockdown. De acordo com informações da BBC Brasil desta segunda-feira, a cidade de Xangai, com 25 milhões de habitantes, ficará em confinamento em duas fases durante nove dias, período em que as autoridades vão realizar testes de covid-19 em todos os cidadãos. A cidade enfrentou uma nova onda de infecções no mês passado. No último sábado, dia 26, registrou 2,6 mil casos de covid, o maior número diário desde o início da pandemia.

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