No dia 1º de fevereiro de 1974, mais um incêndio ocorrido no interior de arranha-céus abalava a capital paulista, matando 187 pessoas e ferindo outras 300. A tragédia aconteceu no Edifício Joelma (hoje Edifício Praça da Bandeira), localizado na região central de São Paulo, menos de dois anos após o incêndio no Edifício Andraus. A tragédia do Joelma continua a ser o segundo pior incêndio em arranha-céu por número de vítimas fatais, atrás somente do colapso das Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York em 11 de setembro de 2001.
Após concluída sua construção, em 1972, o Edifício Joelma foi imediatamente alugado ao Banco Crefisul de Investimentos. No começo de 1974, a empresa ainda terminava a transferência de seus departamentos, quando no dia 1º de fevereiro, às 8h45, um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado no 12º andar deu início a um incêndio, que rapidamente se espalhou pelos demais pavimentos.
As salas e escritórios do Joelma eram configurados por divisórias, com móveis de madeira, pisos acarpetados, cortinas de tecido e forros internos de fibra sintética, condição que contribuiu, sobremaneira, para o alastramento incontrolável das chamas. O incêndio dificultou o deslocamento de quem estava no prédio, já que era impossível descer as íngremes escadas, localizadas no centro dos pavimentos, e que foram bloqueadas pelo fogo e a fumaça.
Os corredores, por sua vez, eram estreitos. Na ausência de uma escada de incêndio, muitas pessoas ainda conseguiram se salvar ao contrariar as normas básicas e descer pelos elevadores, mas estes também logo deixaram de funcionar, quando as chamas provocaram a pane no sistema elétrico dos aparelhos e a morte de uma ascensorista no 20º andar.
Em um dos episódios mais dramáticos do incidente, uma criança de um ano e meio que se encontrava nos braços da mãe (morta após cair do 15º andar), foi salva. O choro da criança, levada imediatamente ao Hospital das Clínicas, foi ouvido logo após o impacto da queda. Sem ter como deixar o prédio, muitos tentaram abrigar-se nos banheiros e parapeitos das janelas. Outros sobreviventes concentraram-se no 25º andar que tinha saída para dois terraços esperando serem resgatados por um helicóptero, mas os mesmos não conseguiam pousar no terraço escaldante e seus cabos de aço pendiam inutilmente.
O socorro mobilizou 1 500 homens, entre bombeiros e tropas de segurança, as equipes de cinco hospitais estaduais e outros particulares, quatorze helicópteros, trinta e nove viaturas e todas as ambulâncias da rede hospitalar. Todos os carros-pipa da Prefeitura e vários particulares, além de um grande número de voluntários que antecederam os pedidos das autoridades para doação de sangue.
A fim de garantir o livre acesso de ambulâncias e de veículos dos bombeiros ao prédio incendiado, convocaram-se tropas de choque do Regimento 9 de Julho, do Exército e da Polícia Militar, além da Companhia de Operações Especiais e do Departamento do Sistema Viário.
Por volta de 10h30 da manhã o fogo já havia consumido praticamente todo o material inflamável do prédio, e o incêndio só foi controlado com a ajuda de 12 autobombas, três autoescadas, duas plataformas elevatórias e o apoio de dezenas de veículos de resgate. Apenas às 14h20, todos os sobreviventes haviam sido resgatados.
A tragédia do Joelma reabriu a discussão popular com relação aos sistemas de prevenção e combate a incêndios nas metrópoles brasileiras, cujas deficiências foram evidenciadas nas duas grandes tragédias. Na ocasião, o Código de Obras do Município de São Paulo em vigor era de 1934, um tempo em que a cidade tinha 700 mil habitantes, prédios de poucos andares e não havia a quantidade de aparelhos elétricos dos anos 70.
A investigação sobre as causas do acidente, concluída e encaminhada à justiça, em julho de 1974, apontava a Crefisul e a Termoclima, empresa responsável pela manutenção elétrica, como principais responsáveis pelo incêndio. Afirmava que o sistema elétrico do Joelma era precário e estava sobrecarregado. Além disso, os registros dos hidrantes do prédio estavam inexplicavelmente fechados, apesar do reservatório contar na ocasião com 29 mil litros de água.
Segundo o Estadão, três empresas receberam acusações a respeito do caso: o Banco Crefisul (inquilino do prédio); a Joelma S.A Importadora Comercial e Construtora (construiu o prédio); e a Termoclima Indústria e Comércio Ltda (que instalou os aparelhos).
De acordo com investigações, Alvino Fernandes e Sebastião da Silva, eletricista e ajudante de eletricista, não tinham curso completo sobre eletricidade e nunca receberam orientação técnica do Departamento de Serviços Gerais, que era quem respondia por reparações elétricas.
O resultado do julgamento foi divulgado a 30 de abril de 1975. Kiril Petrov, gerente-administrativo da Crefisul, foi condenado a três anos de prisão. Walfrid Georg, proprietário da Termoclima, seu funcionário, o eletricista Gilberto Araújo Nepomuceno, e os eletricistas da Crefisul, Sebastião da Silva Filho e Alvino Fernandes Martins, receberam condenações de dois anos.
Após o incêndio, o prédio ficou interditado para obras por quatro anos. Com o fim das reformas, em outubro de 1978, foi rebatizado edifício Praça da Bandeira.
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Fonte: Wikipédia